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Kassab não costuma dar ponto sem nó

Ao chamar Haddad de ‘fraco’ e dizer que Lula perderia a eleição se fosse hoje, Kassab mostra uma aliança governista pouco sólida e escancara a fragilidade do ministro da Fazenda

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Por Notas & Informações
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O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, fez uma avaliação duríssima sobre o governo do presidente Lula da Silva e seu principal ministro, o titular da Fazenda, Fernando Haddad. Em um evento para investidores em São Paulo, Kassab queixou-se da condução da política econômica e disse que Haddad é um “ministro fraco”, que “não consegue se impor” e tem “dificuldade de comandar”. Um ministro da Fazenda sem autoridade, afirmou ele, é um “péssimo indicativo para o País”. Kassab também afirmou que, se a eleição presidencial fosse hoje, Lula não seria reeleito, disse não enxergar “articulação para reverter a piora no cenário” e lamentou não ver “nenhuma marca boa, como teve Fernando Henrique Cardoso e Lula nos primeiros mandatos”. E avisou: “Os partidos de centro estão criando uma alternativa para 2026”.

Nada do que disse escapa à constatação de observadores políticos sobre o rarefeito cotidiano do governo, mas uma avaliação como essa, vinda de um aliado habilidoso, que não costuma dar ponto sem nó, traduz o adoecimento da gestão de Lula e seu horizonte cada vez mais sombrio. Kassab não é o tipo de político que dá declarações improvisadas e impensadas. Ao contrário, sabe como poucos andar entre cristais e costuma calcular cada movimento. Foi nessa condição que se transformou num dos políticos mais influentes do País. Seu partido elegeu o maior número de prefeitos nas últimas eleições, e ele se equilibra magistralmente entre a condição de aliado de Lula (o PSD tem três ministros na equipe do presidente), secretário de Governo e Relações Institucionais do governo de São Paulo e mentor do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Descontadas as eventuais motivações partidárias da declaração, já que Kassab e o PSD têm um olho no incômodo com o nível de participação no ministério e outro na viabilidade de 2026, o fato é que um gesto como esse constitui um mau diagnóstico para Lula e Haddad. Emite sinais de uma aliança governista pouco sólida e escancara a fragilidade do ministro da Fazenda. Lula e Haddad, previsivelmente, minimizaram o peso das declarações. Provocado horas depois por jornalistas, Haddad desconversou: “Não li essa declaração. Não tomei conhecimento”. No dia seguinte, durante entrevista coletiva convocada no Palácio do Planalto, Lula tratou o tema com ironia e um calculado bom humor. “Comecei a rir”, disse, afirmando ter ficado “despreocupado porque hoje não tem eleição”, e chamou Haddad de “extraordinário”.

Trata-se de uma evidente marotagem. É verdade que faltam 20 meses para a eleição, mas as disfuncionalidades governistas e, como disse Kassab, a baixa perspectiva de mudança capaz de reverter a piora no cenário inspiram prognósticos pessimistas, tanto para o lulopetismo quanto para o País. Também é verdade que Haddad tem sido “extraordinário” – não para a economia, mas para Lula e seus bajuladores. Nos primeiros dois anos, cultivou-se a expectativa de que o ministro poderia ser o guardião da sobriedade econômica ante o desprezo do lulopetismo pelo equilíbrio fiscal e pelo controle da inflação. Esse otimismo ruiu. Desde o anúncio do pacote de revisão de gastos do governo, ficou evidente que Haddad não conseguiu – e provavelmente não conseguirá – conter o ímpeto eleitoreiro de Lula. Seu enfraquecimento significa a vitória dos radicais do PT. E, como se sabe, quando os radicais do PT vencem, é o Brasil que paga a conta.

A cada dia Lula e o PT deixam claro que ignoram algo imprescindível num país de economia frágil e instável como o Brasil: a necessidade de um ministro da Fazenda confiável, forte e com respaldo do chefe. Kassab citou o caso dos ministros Pedro Malan (governo FHC), Antonio Palocci (Lula 1) e Henrique Meirelles (governo Michel Temer). Poderia ter citado também exemplos inversos, como Guido Mantega, fiel cumpridor de ordens nos governos Lula 2 e Dilma 1, e Joaquim Levy, que no segundo mandato de Dilma até tentou mudar o rumo, mas foi engolido pelas sabotagens do PT. Sempre que presidentes tornaram seus ministros da Fazenda fracos, deixaram ruínas econômicas para o País.