Após mais de dois meses de agonia, foi anunciado, enfim, o encerramento da greve nacional dos professores das universidades federais. O único sindicato que ainda resistia – Andes – comunicou no domingo que a maioria de suas instituições filiadas optou pelo término da paralisação, consumando um movimento que já se iniciara com a Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes). Os paredistas do Andes eram os mais inflexíveis, mas acabaram sucumbindo aos fatos: uma greve sem sentido, uma paralisação já rejeitada por parte considerável dos docentes, um governo que já havia chegado ao limite orçamentário para o atendimento às demandas salariais e um movimento sindical rachado e mais preocupado com a busca de hegemonia de sua representação do que com a efetiva reestruturação do ensino superior. O fim da greve, na prática, se deu bem antes de o Andes decretá-lo.
O movimento sindical reafirmou, assim, sua inépcia: o risco apontado antes pelo ex-sindicalista Lula – um experiente grevista, como se sabe – se consumou, isto é, o de que a greve acabaria por inanição. Enquanto isso, os sindicatos disputam a tapa o coração de filiados. Previsivelmente o comando sindical se apressou a definir o movimento como “vitorioso”, e creditou o fim da greve à “intransigência” do governo do presidente Lula da Silva. Também como de praxe, a extensa lista de reivindicações para justificar a greve acabou resumida a um só desejo: reajuste salarial. Por causa das evidentes limitações orçamentárias, o governo propôs reajuste zero em 2024 e uma elevação de reajuste linear, até 2026, de 9,2% para 12,8%, sendo 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026. O Proifes topou, o Andes não e ainda levou um mês desde a definitiva oferta do governo, tornando mais penosa a vida de estudantes e professores. Com o calendário acadêmico jogado às favas, mais uma vez o cumprimento dos programas sairá prejudicado.
Objetivamente se contabilizaram alguns ganhos: aumento de benefícios para os servidores federais, como saúde e alimentação, suplementação no orçamento das instituições federais de ensino superior e um acordo de aumento salarial para o ciclo 2024-2026. Tais conquistas, no entanto, se deveram não ao sindicato que queria estender a greve, e sim ao Proifes e à Andifes, associação que representa os dirigentes das instituições federais de ensino superior. Sinal evidente de que os métodos de negociação precisam ser atualizados. Greves como essa não ajudam nem a carreira docente nem os técnicos administrativos, muito menos a universidade como um todo. Ao contrário, são geradoras de desgaste, confusão e perda de prestígio, um desserviço contra a universidade pública, alvo de crescente desconfiança (e, pior, indiferença) em parcela relevante da sociedade.
Enquanto isso, uma universidade como a UFRJ diz estar “respirando por aparelhos”, a Unifesp anuncia só ter dinheiro para funcionar até setembro, e instituições têm obras inacabadas enquanto o governo anuncia expansão com novos campi. Problemas cuja solução passa bastante longe de movimentos grevistas.