O World Data Lab, uma instituição de ciência de dados, publicou um estudo sobre a renda de jovens no mundo e revela um dado estarrecedor. Em 2000, o poder de compra de um jovem brasileiro era equivalente ao do jovem mexicano; hoje o poder de compra do brasileiro de 25 anos de idade representa metade do mexicano. Esse é o retrato cruel da degeneração política, econômica e social do Brasil nas últimas duas décadas de governos populistas. Três males abateram o País nesse período.
Primeiro, a miopia ideológica da esquerda e sua visão antimercado transformaram a vida do jovem empreendedor num inferno. A insegurança jurídica e a arbitrariedade do Estado criaram dificuldades burocráticas, judicializaram relações de trabalho e obrigações tributárias e criaram meios de taxar e de expropriar boa parte do ganho dos empreendedores que correram risco e criaram negócios bem-sucedidos. O Estado, capturado pelo corporativismo público e privado, impulsionou o gasto público irresponsável, catapultando o crescimento da dívida pública e obrigando o Banco Central a elevar a taxa de juro para um nível que desencoraja o empreendedorismo. No Brasil, o melhor negócio não é vencer os concorrentes no mercado, mas capturar o Estado e viver à custa de feudos de privilégios estatais. Não é por outra razão que os jovens talentosos buscam oportunidades de trabalhar em outros países que oferecem ambiente de negócio mais amigável e qualidade de vida melhor.
A segunda tragédia é o amor incondicional dos populistas pelo nacional-estatismo. O protecionismo estatal, recheado de subsídios e barreiras comerciais, destruiu a competitividade do País, manteve o Brasil alijado do comércio global e criou uma das economias mais fechadas do mundo. Essa política desastrosa produziu décadas de baixo crescimento econômico. Deixamos de ser o “primo rico” para nos tornarmos o “primo pobre” dos emergentes, como atesta a corrosão do poder aquisitivo dos jovens brasileiros quando comparado aos jovens mexicanos. Na década de 1980, a renda per capita do Brasil era equivalente à da Coreia do Sul; hoje, ela é três vezes menor. Mas o que fez a Coreia do Sul enriquecer? O país investiu na melhoria da educação pública e abriu a economia para o comércio internacional. O Brasil, ao contrário, empobreceu ao insistir em ignorar a educação de qualidade e manter a economia fechada.
A terceira desgraça que abateu o País é o descaso com a educação pública de qualidade para as crianças e jovens. Criamos ilhas de excelência, como a alfabetização plena no município de Sobral (CE), a educação em tempo integral no Espírito Santo e o ensino universitário de ponta no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Mas ilhas de excelência não são capazes de produzir em escala a mão de obra qualificada de que o País precisa na era da revolução tecnológica. No Brasil, 60% das crianças não estão devidamente alfabetizadas aos oito anos de idade e quase metade dos jovens abandona a escola antes da conclusão do ensino médio. A tragédia educacional brasileira está espelhada no resultado pífio do País nos exames internacionais de avaliação. O Brasil há anos está nas últimas posições entre os principais países emergentes na avaliação de matemática, ciências e leitura do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). A educação pública de péssima qualidade destrói a mobilidade social, impede o aumento da produtividade do trabalhador e marginaliza o País da produção de conhecimento no século 21.
As eleições municipais mostraram a linha que divide o voto da esperança e da desesperança no País. O primeiro retrata a expectativa do cidadão de melhorar a vida reelegendo bons prefeitos ou optando por mudança da liderança municipal. O segundo revela a absoluta descrença no sistema político e na sua capacidade de oferecer reais alternativas para o País. Esse eleitor busca votar no candidato antissistema, representando pela figura messiânica que vai “acabar com tudo o que está aí” e construir uma nova realidade iluminada pela sua áurea salvacionista.
Se quisermos salvar a democracia das garras dos populistas, é preciso compreender os sentimentos de raiva, indignação e medo que ditam os votos da desesperança. Jovens frustrados com a ausência de crescimento econômico e sem perspectiva de ascensão social por meio da educação de qualidade e do trabalho duro tornam-se presa fácil para aventureiros e populistas que ingressam na política. Como o governo petista está paralisado pela senilidade ideológica e políticas obsoletas, cabe à direita sensata enfrentar os sabotadores da democracia e lutar para tirar o Brasil do presente atoleiro, com educação de qualidade, abertura econômica e líderes políticos comprometidos com promover reformas necessárias para criar um Estado enxuto e eficiente. Como dizia Joaquim Nabuco, “a missão do governo é fazer por meio da política o que a revolução faria pela força”. Se não seguirmos o conselho de Nabuco, a democracia no Brasil não tem futuro.
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CIENTISTA POLÍTICO, AUTOR DO LIVRO ‘10 MANDAMENTOS – DO PAÍS QUE SOMOS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS’, FOI CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
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