A liberdade econômica está sendo trucidada no País e a omissão empresarial oscila entre o silêncio, a indiferença e a cumplicidade diante das barbaridades do governo petista. O Conselhão do presidente da República, que reúne a nata do centrão empresarial, político e das organizações sociais, escuta com passividade olímpica os ataques do governo aos fundamentos da economia de mercado. A intervenção do governo na Petrobras, para minar a política de dividendos, e na Vale, para demitir o presidente da companhia e emplacar um aliado político, causou perda de valor de mercado das duas companhias em torno de R$ 100 bilhões. Lula disse que “o mercado é um dinossauro voraz, quer tudo para ele e nada para o povo”. Nenhuma voz das lideranças empresariais se levantou para contestar tamanha estupidez. A estupefação só ocorre em conversas reservadas e em grupos de WhatsApp.
O desastroso plano do governo batizado de Nova Indústria Brasil é um festival de asneiras que reúne políticas públicas fracassadas. Aposta no Estado indutor do desenvolvimento industrial, em vez da abertura comercial e da competição global de mercado. Redobra a aposta na combinação de subsídios, reserva de mercado e protecionismo, que provaram ser um desastre econômico, uma aberração fiscal e a marca de escândalos de corrupção dos governos petistas. Grandes empresários mantiveram um silêncio impávido sobre a política jurássica de Lula. Não se ouviram palavras do empresariado sobre a necessidade imperiosa de promover a abertura comercial e investir no ganho de produtividade e de competitividade. Nenhum protesto contra a ausência de iniciativas concretas para melhorar o ambiente de negócios, reduzir regulação e burocracia e entraves trabalhistas e tributários. Nenhuma menção sobre a economia do conhecimento, bioeconomia, agricultura de precisão, nanotecnologia e modernização tecnológica. Esses avanços foram retardados justamente por causa de rompantes nacionalistas, como a Lei da Informática e a exigência de conteúdo nacional.
Lula continua dobrando a aposta em políticas industriais fracassadas, ditadas por um governo que rechaça as virtudes da economia de mercado e acredita nos dogmas do capitalismo de Estado. O governo se rende ao lobby corporativista que luta para garantir a perpetuação de empresas que vivem à custa das tetas do Estado.
Não é por outra razão que continuamos a ser uma das economias mais fechadas do mundo. Estudo do Movimento Brasil Competitivo revela que as empresas gastam R$ 1,7 trilhão por ano (cerca de 20% do PIB) para produzir no País. O peso do Estado ineficiente, que sufoca o empreendedorismo, está estampado na deficiência do capital humano, no contencioso trabalhista e tributário, na insegurança jurídica, na péssima qualidade da infraestrutura e no crédito caro e escasso.
Enquanto a classe empresarial viver à custa da dependência de subsídios, protecionismo e favores estatais, ela continuará omissa e acovardada para denunciar as insanidades econômicas e políticas do governo. Assim, a classe empresarial colabora para a perpetuação de um país cujo futuro está sendo sistematicamente dilacerado pelo baixo crescimento, pela polarização política, pela degeneração das instituições democráticas e pelo assustador cerceamento das liberdades individuais. Onde estão os empresários e empreendedores que defendem a liberdade econômica e a abertura comercial?
Não existe economia de mercado saudável sem um ambiente propício para o florescimento do empreendedorismo. Temos todos os ingredientes para nos tornarmos uma potência econômica no comércio global. O agronegócio, por exemplo, cresce de maneira sustentável porque compreendeu as virtudes da competição de mercado, da modernização tecnológica e do investimento em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil é um celeiro de empreendedores; sabemos enfrentar crises, imprevistos e volatilidade como poucos povos no mundo; e somos uma superpotência de recursos naturais, o que já nos possibilitou nos tornarmos líderes mundiais na produção de alimentos e na geração de energia renovável. Podemos liderar o mundo da economia do baixo carbono, se acreditarmos que isso se dará por meio do mercado, da abertura econômica e da existência de um governo que não se intrometa na livre iniciativa.
O que falta para transformar esses ativos em crescimento econômico? Falta coragem para apoiar governantes que defendem o livre-comércio e as reformas liberalizantes e deixar de adular membros do governo com jantares e convescotes internacionais. Falta espírito público para abandonar o protecionismo setorial e trabalhar para construir um país melhor para os nossos filhos e netos. Se quisermos deixar um Brasil próspero para as próximas gerações, é urgente rever crenças e atitudes e repensar as nossas escolhas. Não vamos desenvolver o potencial empresarial do Brasil insistindo nas mesmas atitudes que nos levaram a quatro décadas de baixo crescimento e em políticas de reserva de mercado que nos condenaram a permanecer como um país de renda média.
*
CIENTISTA POLÍTICO, AUTOR DO LIVRO 10 MANDAMENTOS – DO PAÍS QUE SOMOS PARA O BRASIL QUE QUEREMOS, FOI CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.