Maior economia da América Latina, o Brasil se destaca no cenário econômico mundial, neste momento, principalmente por fatos negativos, como alto desemprego, preços em disparada, desordem das contas públicas, baixo potencial de crescimento e pela destruição ambiental. O discurso oficial aponta o País como um dos mais dinâmicos, mas seu desempenho em 2022 será um dos piores, segundo projeções conhecidas no mercado internacional. Entre 12 grandes emergentes, o Brasil ficará em último lugar em expansão, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de 5 grandes consultorias e instituições financeiras citadas pelo Estadão/Broadcast.
Renda familiar, consumo e oportunidades de emprego devem ser temas muito importantes na campanha eleitoral do próximo ano. O presidente Jair Bolsonaro tentará pelo menos alguma política de transferência de renda, mas isso dependerá de arranjos orçamentários ainda incertos. A equipe econômica, chefiada pelo ministro Paulo Guedes, tentará atender à demanda presidencial, mesmo encenando, como tem feito com frequência, algum compromisso com a gestão responsável das contas públicas. De toda forma, o País continua carente de uma política econômica de verdade, com rumos, etapas e meios definidos com alguma clareza. Isso nunca existiu nestes quase três anos de mandato presidencial.
As projeções sinistras para 2022 são um desdobramento dos fracassos acumulados pela administração federal desde 2019. As estimativas de crescimento das cinco grandes instituições – Bradesco, Goldman Sachs, Capital Economics, Fitch e Nomura – para o próximo ano ficaram, segundo informou o Estado, entre 0,8% e 1,9%. O Fundo Monetário Internacional anunciou em outubro uma expectativa de 1,5% para o Brasil e de 5,1%, em média, para os emergentes. Mas alguns bancos e consultorias já divulgaram previsões negativas ou pouco acima de zero. No mercado, a mediana das projeções deste ano chegou a 4,80% e a de 2022 diminuiu em uma semana de 0,93% para 0,70%, segundo a pesquisa Focus publicada nesta segunda-feira pelo Banco Central (BC).
Também têm piorado as expectativas de inflação. Já se projetam taxas de 10,12% para este ano, 4,96% para o próximo, 3,42% para 2023 e 3,10% para 2024, de acordo com a mesma pesquisa. Todos esses números estão acima das metas oficiais fixadas para esses anos. Maiores aumentos de preços devem ser acompanhados de novas altas da taxa básica de juros, ferramenta usada pelo BC na política anti-inflacionária. As estimativas apontam, para os quatro anos, juros de 9,25%, 11,25%, 7,75% e 7%.
Ao baixo potencial de crescimento serão, portanto, somados, de acordo com as projeções, dois fatores negativos – a corrosão da renda familiar pelos preços em rápida ascensão e o entrave representado pelo crédito mais caro.
Tudo isso combina com perspectivas muito ruins para o emprego. O desemprego no Brasil, 13,2% da força de trabalho no trimestre móvel encerrado em agosto, foi o quarto maior num conjunto de 44 países desenvolvidos e emergentes, segundo levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating noticiado pelo G1. Nos 38 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa média de desocupação recuou de 6% em agosto para 5,8% em setembro, de acordo com informe da instituição publicado neste mês.
O Brasil iniciou e encerrou 2020, primeira fase da pandemia de covid-19, com desemprego superior às médias da OCDE e do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas 19 maiores economias do mundo e pela União Europeia.
A escassa geração de empregos no Brasil tem ocorrido principalmente no mercado informal, com baixo rendimento para os trabalhadores. Esses dados são parte de uma retomada econômica frágil, com recuo já confirmado na atividade no segundo trimestre e sinais de um desempenho negativo no terceiro. Pode ter ocorrido, portanto, mais uma recessão, caracterizada por dois trimestres consecutivos de queda. Mas o ministro da Economia insiste em falar de um Brasil na liderança do crescimento.