A eleição paulistana do próximo domingo terá, de um lado, o prefeito Bruno Covas, candidato à recondução, testado nas mais difíceis condições possíveis – uma pandemia e uma severa crise econômica –, e, de outro, Guilherme Boulos, um postulante ainda inexperiente na administração pública e que, ademais, representa um partido de esquerda que em seu programa propõe uma mudança imprudente de modelo econômico. Sendo assim, recomendamos o voto no prefeito Bruno Covas. Não se trata apenas de entender que o melhor para a cidade de São Paulo é a continuidade da atual administração. O momento absolutamente delicado que vive nossa metrópole, bem como o resto do País, demanda um prefeito com alguma experiência e com os pés no chão.
O tucano Bruno Covas mostrou essas qualidades, o que se reflete não somente nas pesquisas de intenção de voto que o colocam na liderança, mas principalmente no fato de que venceu em todas as regiões da cidade no primeiro turno. Além disso, seu governo vem há meses sendo bem avaliado pelos moradores da cidade, o que já não seria fácil em uma conjuntura normal, em se tratando da administração de uma das maiores e mais complexas cidades do mundo; no contexto de uma pandemia, ressalte-se, trata-se de uma façanha a ser devidamente reconhecida.
É preciso igualmente reconhecer que o desafiante de Bruno Covas, Guilherme Boulos, do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), mostrou-se amadurecido. Deixou de lado o figurino de agitador que marcou sua carreira como líder dos sem-teto de São Paulo para agregar apoio a seu projeto político, o que foi suficiente para se viabilizar como um candidato de esquerda competitivo numa cidade que desde as eleições de 2016 repudia fortemente o PT e tudo o que o lulopetismo representa. Guilherme Boulos certamente será, assim, um nome forte da esquerda em disputas futuras, despontando como líder de uma reorganização dos partidos que até há pouco orbitavam o PT e Lula da Silva. No final das contas, esse deve ser seu papel na eleição do domingo que vem.
Coisa bem diferente, contudo, é pretender governar a cidade de São Paulo – em que uma persistente infestação de pernilongos é sem dúvida o menor dos problemas – sem ter qualquer experiência política e administrativa. Sua juventude – tem apenas 38 anos – não está em questão, pois o próprio Bruno Covas tem somente 40 anos. O problema é imaginar que São Paulo possa ser gerenciada somente na base do entusiasmado ativismo dos movimentos sociais e, principalmente, sob influência de um programa revolucionário.
A não ser que resolva abjurar a defesa apaixonada que o PSOL faz da “superação da ordem capitalista” e da construção de uma “sociedade radicalmente diferente”, como se lê em seu programa oficial, é lícito imaginar que um eventual governo de Guilherme Boulos se entregaria a aventuras estatistas e fiscalmente irresponsáveis cujos resultados desastrosos já são bastante conhecidos. A promessa de tarifa zero para estudantes no transporte público, que está na plataforma do sr. Boulos, é só um aperitivo dessa forma inconsequente de ver o mundo.
Em condições corriqueiras, tal projeto político já seria temerário; diante da crise monumental que vivemos, é tudo de que São Paulo não precisa. O atual prefeito, por sua vez, vem demonstrando compromisso com a moderação e a responsabilidade fiscal, de que uma significativa reforma administrativa aprovada em julho é um bom exemplo, sem deixar de lado o grave problema da profunda desigualdade social na cidade.
Além disso, Bruno Covas, a despeito de seu drama pessoal – ele trata de um câncer –, exibiu notável firmeza na condução da cidade diante da pandemia, em sintonia com as recomendações de especialistas e alheio à gritaria do presidente Jair Bolsonaro contra as medidas de prevenção. Na contabilidade de erros e acertos Bruno Covas deixa um balanço razoavelmente positivo – mais uma razão pela qual deve ser reconduzido ao cargo.