O Brasil está pegando fogo. E antes fosse apenas no sentido figurado, como decorrência do acirramento de ânimos típico dos períodos eleitorais.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), queimadas naturais e criminosas cobrem nada menos que 60% do território nacional de fumaça, mais ou menos densa a depender da região do País. Na manhã de segunda-feira passada, o ar respirado na cidade de São Paulo foi considerado o pior do planeta pela IQAir, uma ONG acreditada pela ONU para medir a qualidade do ar em várias cidades do mundo. O resultado desse quadro aterrador pode ser sentido por todos, mas sobretudo idosos e crianças, os mais suscetíveis ao agravamento de doenças cardiorrespiratórias causado pelo clima desértico.
Respirar se tornou, literalmente, um ato de resistência. E malgrado os incêndios tenham começado nessa dimensão apocalíptica há meses, só agora o governo do presidente Lula da Silva parece ter acordado para a gravidade da situação. Ontem, o petista viajou ao Amazonas acompanhado por ministros para anunciar os detalhes da formação de uma “força-tarefa” para combater as queimadas e prestar socorro aos cidadãos que vivem nas áreas mais afetadas pelo fogo e pela seca.
Há poucas semanas, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, já parecia perdido. Durante uma viagem aos Estados do Amazonas, Pará e Rondônia, Dias afirmou ao Estadão que a tragédia ambiental era “uma coisa nova” – quando nova, a rigor, não é nem a prostração do governo federal diante de um problema há muito conhecido, como já sublinhamos nesta página (ver A indolência de Lula na crise ambiental, 9/9/2024).
“Está todo mundo chocado com essa situação”, lamentou Wellington Dias. Ora, chocada está a sociedade brasileira diante da incompetência do governo Lula da Silva para lidar com as queimadas, no melhor cenário, ou do descaso do presidente da República pela chamada questão ambiental – que jamais foi uma causa que o petista carregou no peito, instrumentalizando-a na medida de suas conveniências políticas de ocasião.
Prontos-socorros dos hospitais País afora estão lotados de pacientes à espera de diagnóstico e tratamento para as doenças causadas por esse ar insalubre. Da ministra da Saúde, Nísia Trindade, ainda não se ouviu palavra sobre os cuidados que a população precisa tomar para resguardar a saúde sob condições tão adversas. Por muito menos, outras autoridades já convocaram cadeia nacional de rádio e TV para se dirigirem aos brasileiros. Talvez seja o caso de lembrar à sra. Trindade que ser melhor do que o inesquecível Eduardo Pazuello no cargo não basta para que ela possa ser vista como uma ministra da Saúde à altura das necessidades de um país como o Brasil.
Nos âmbitos estadual e municipal, particularmente em São Paulo, o manejo da crise não parece ser menos problemático. A sensação transmitida à sociedade é de descompasso, para dizer o mínimo. Ao que parece, todos estão tomando ciência da gravidade de um problema que, como já foi dito, não é novo nem será episódico.
As respostas governamentais à crise do clima devem ser abrangentes e coordenadas entre as três esferas da administração. Obviamente, impõem-se o combate imediato às queimadas e a persecução dos que as promovem de modo criminoso. Mas isso não basta. O Brasil precisa, de uma vez por todas, avançar na adaptação às mudanças climáticas. Condições meteorológicas extremas, como a seca, as ondas de calor e as enchentes já não são o “novo normal”, mas uma realidade posta.
Quando se fala em proteção do meio ambiente, está-se falando de segurança hídrica, energética e alimentar. Está-se falando de vidas, portanto. Ou Lula da Silva acorda para isso e lidera um esforço nacional de adaptação às mudanças climáticas digno do nome – e não só para “inglês ver” – ou o Brasil será consumido por sua incompetência antes que as chamas possam arrasar por completo os seus biomas.