Ao menos 35 indicações de nomes ligados ao PT e a autoridades do governo federal para cargos estratégicos na Petrobras foram efetivadas nos primeiros cem dias da gestão de Magda Chambriard. A executiva assumiu o comando da companhia depois que o ex-senador Jean Paul Prates (PT-RN) foi demitido por Lula da Silva em meio a uma disputa de poder político no primeiro escalão do governo. A mudança na presidência foi a deixa para mais uma rodada de loteamento de cargos, prática corrente que explica, em boa medida, a obsessão do PT pela intervenção estatal na economia.
Levantamento feito pelo Estadão mostra que a distribuição de cargos não ocorreu de forma aleatória. Pelo contrário, além das previsíveis mudanças na alta cúpula, é com precisão cirúrgica que estão sendo trocados integrantes de cargos-chave nos comitês que assessoram a diretoria executiva e o Conselho de Administração e nas gerências executivas, responsáveis pela gestão operacional. Com isso, ao mesmo tempo que tira proveito da oferta de cargos a apadrinhados políticos, a gestão lulopetista monta uma rede para facilitar o encaminhamento de questões que lhe são caras dentro da empresa.
São substituições que atingem, por exemplo, o Comitê de Pessoas, que avalia se a política de indicações obedece aos requisitos de governança da empresa. É a instância que, ultimamente, tem atrapalhado os planos do governo Lula, ao emitir pareceres rejeitando nomeações pelos mais diversos conflitos. As recomendações têm sido ignoradas pelo governo, que tem manobrado para burlar as regras internas, mas não sem desgastar um pouco mais a imagem da empresa.
O aparelhamento chega a setores como o de auditoria, que avalia os riscos de cada projeto da Petrobras para verificar se o retorno esperado justifica o investimento – uma precaução imprescindível a qualquer empresa que pretenda manter equilibrado seu grau de solvência, com um nível de endividamento que não comprometa o patrimônio. Mas, num governo em que o equilíbrio fiscal é frequentemente questionado pelo próprio presidente, com sua recorrente cantilena de que gasto é “investimento”, não há como esperar prudência na Petrobras.
A indicação de pessoas de confiança de ministros para cargos em áreas como engenharia e exploração de petróleo, dispensando qualquer conhecimento prévio sobre a empresa ou mesmo sobre o setor, é a comprovação absoluta do descaso. Como detalhou a reportagem, a lista é grande: vai de assessores de ministérios a sindicalistas e delegados, passando até pela irmã de um doador de campanha eleitoral. É um método em muitos aspectos semelhante ao que foi adotado nas gestões petistas e que deu origem ao “petrolão”, com denúncias de propinas, subornos, malversação de recursos e superfaturamentos de obras.
O PT, como sabemos, finge que o petrolão nunca existiu, e afeta indignação quando se toca no assunto. É o mesmo espírito que norteia explicações como a da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que nega ter participado das escolhas, mas classifica os indicados como donos de “currículos invejáveis”, o que ofende a inteligência alheia. Sob Lula da Silva, a FUP ganhou status e poder na Petrobras, atuando quase como uma diretoria à parte. Do mesmo modo, requer uma dose considerável de ingenuidade crer na versão do Ministério de Minas e Energia (MME), que informa não ter feito qualquer indicação – embora 3 dos 11 conselheiros administrativos deem expediente no MME.
A reportagem mostra que os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, tiveram participação ativa na mudança na presidência da Petrobras, que não estava atendendo a contento a todos os anseios do governo, a despeito do esforço de Jean Paul Prates de colocar em prática decisões do governo, como a mudança na política de preços dos combustíveis para “abrasileirá-los”.
Na visão do governo Lula da Silva, a principal função das estatais parece ser a de cabide para pendurar não só os apadrinhados, como também para dar a essas pessoas a tarefa de atender aos desejos do governo, sejam quais forem. Não surpreende que bancos de investimentos, como Citi, UBS e HSBC, tenham distribuído a seus clientes relatórios alertando sobre a visível deterioração nas regras de governança da Petrobras.