O combate ao crime é, antes de tudo, uma questão de defesa de direitos fundamentais, a começar pelo direito à vida. Mas é também uma questão econômica. Há um círculo vicioso entre crime e pobreza. A degradação econômica incentiva o crime, e o crime deteriora a atividade econômica. Não por coincidência a América Latina é a região mais desigual e a mais homicida do mundo. Conforme o índice Gini de desigualdade, a região está 15% acima da segunda região mais desigual, a África Subsaariana, e 50% acima das regiões mais igualitárias, como a Europa. Com 8% da população do planeta, a América Latina responde por 40% de seus homicídios.
As relações de causa e efeito entre a redução do crime e o crescimento econômico, e vice-versa, são fáceis de inferir, mas difíceis de mensurar. Os custos diretos da violência incluem perdas de produção (de bens e serviços) e de recursos (a produtividade das vítimas e dos criminosos), além dos gastos com segurança que poderiam ser investidos em atividades produtivas. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o crime custa 3,6% do PIB dos países latino-americanos, duas vezes mais que nos países desenvolvidos e o equivalente aos gastos da região com infraestrutura e à renda dos 30% mais pobres. Fora os custos indiretos, como menos oportunidades de emprego, mais emigração, erosão das instituições, corrupção, e as consequentes perdas de investimentos. Tudo isso empobrece a população e estimula mais violência, perpetuando o já mencionado círculo vicioso.
O FMI estima que na América Latina um aumento de 30% nos homicídios reduz o crescimento em 0,14 ponto porcentual. Inversamente, se o crime fosse reduzido à média mundial, o crescimento anual aumentaria 0,5 ponto porcentual, cerca de um terço do crescimento atual.
Um dos motivos pelos quais o crime é tão prevalente na América Latina é porque ele compensa. Os ganhos são altos em relação à economia legal, e a chance de os criminosos serem pegos é pequena. Menos de 10% dos homicídios na região são solucionados. O contingente de jovens que não estuda nem trabalha é alto, o que pede mais programas de formação. O sistema de Justiça frequente falha em suas tarefas, o que pede mais capacitação da polícia e melhorias no sistema judiciário e prisional. A expansão do crime organizado agrava estes fatores. Países outrora seguros, como Equador, Chile ou Costa Rica, sofreram uma escalada da violência após se tornarem entrepostos do narcotráfico.
Mas a região também tem alguns dos países que reprimiram mais eficazmente a violência. Os homicídios são extraordinariamente concentrados: cerca de 80% das mortes violentas na América Latina ocorrem em 2% de suas ruas. Estatísticas podem ajudar a polícia a realizar prisões e prevenir crimes. Nos anos 90, a Colômbia era um dos países mais violentos da região. A prefeitura de Cali estabeleceu “observatórios da violência” para estudar como localidades e comportamentos favorecem assassinatos. Muitos resultam de rixas entre indivíduos embriagados. Restrições ao álcool e armas ajudaram a cortar os homicídios em 35%. Cidades como Medellín utilizaram esse policiamento baseado em evidências para reprimir cartéis de drogas. A Justiça puniu mais criminosos, os cidadãos sentiram que as ruas estavam mais seguras e as ruas mais povoadas desencorajaram os criminosos. Entre 1995 e 2017, a taxa de homicídios da Colômbia caiu de 70 por 100 mil habitantes para 24, a menor em 40 anos.
Uma das razões da violência exorbitante na América Latina é que a região se urbanizou uma geração antes de outras áreas em desenvolvimento. Agora a violência cresce nessas regiões também. Assim como a América Latina liderou a alta de homicídios no mundo, pode liderar a sua baixa. O fortalecimento do Estado de Direito beneficiará, a um tempo, o combate ao crime e o crescimento econômico. Com segurança pública baseada em evidências, os latino-americanos podem antecipar para outros países os antídotos e remédios para a doença do crime, evitar indizíveis tragédias de suas vítimas e enriquecer toda a sua população.