Há duas ou três gerações, os ambientalistas precisavam combater o desinteresse e o negacionismo sobre as mudanças climáticas. Eles foram bem-sucedidos. Na verdade, até demais. Segundo uma pesquisa da OCDE, cerca de 60% das pessoas nos países ricos acreditam que é “provável ou muito provável” que as mudanças climáticas levem ao fim da humanidade. Não há surpresa nisso. A retórica do “Armagedom” está por toda a parte nas mídias tradicionais e redes sociais. Mas o medo é mau conselheiro, e o risco hoje é de um outro tipo de negacionismo: o econômico.
Como disse ao Estadão o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, embora as empresas de um modo geral estejam seguindo políticas de descarbonização, porque “esses caminhos são necessários”, “vários líderes estão percebendo que não é possível descarbonizar certas indústrias porque o custo é desproporcional”. Segundo Pimenta, “foi feito um movimento de definição de metas e objetivos ultra-agressivo e, talvez em alguns cenários, pouco realista, dada a realidade de algumas indústrias”. Ou seja, a realidade se impôs: o custo da transição energética ainda é muito alto.
Ativistas defendem que se deveria gastar ainda mais para evitar a catástrofe iminente, que geraria pobreza e fome em larga escala. Mas novos estudos matizam esse cenário, indicando que o aumento da temperatura, embora problemático, não será necessariamente apocalíptico. As mortes por desastres naturais vêm caindo drasticamente, de quase 500 mil por ano há cem anos para menos de 10 mil hoje. Os economistas Richard Tol e William Nordhaus, especialistas em mudanças climáticas e energia, calculam que, no cenário pessimista de aumento de 3°C até 2100, a perda para o PIB global seria da ordem de 1,9% a 3,1%. Outra pesquisa, na revista Nature, estima que, sem as mudanças climáticas, a disponibilidade de comida aumentaria em 51% até 2100; com elas, 49%. Ou seja, o aquecimento global é um problema grave, mas, por ora, não é o fim do mundo.
Não parece coincidência, portanto, que tanto os executivos brasileiros citados pelo CEO da Vale como os eleitores do mundo inteiro estão percebendo que os custos para reverter as mudanças climáticas são excessivos e, além disso, ineficazes. Políticos e ativistas insistem que a energia solar e a eólica são mais baratas que os combustíveis fósseis. Mas só o são quando há sol e vento. As baterias disponíveis no mundo seriam suficientes para estocar a energia necessária por apenas alguns minutos. Para expandi-las, seria preciso extrair quantidades colossais de minerais como lítio ou níquel, com terríveis impactos ambientais.
Com subsídios massivos aos renováveis e grandes ônus para o custo de vida, países ricos até têm reduzido as suas emissões de carbono, mas elas continuam a crescer ano a ano, porque o resto do mundo precisa dos combustíveis fósseis para erradicar a pobreza. A ironia é que os militantes que exigem gastos mais exorbitantes com as atuais políticas climáticas e o fim imediato dos combustíveis fósseis costumam ser as pessoas que vocalizam mais estridentemente sua indignação contra as “injustiças sociais”.
Uma precificação bem calculada do carbono pode incentivar a redução gradual das emissões, diluindo os custos e evitando rupturas econômicas. Mais importante, os gastos com energias renováveis ineficientes deveriam ser canalizados para medidas de adaptação e pesquisa e desenvolvimento. Quando a energia renovável for tão barata e eficaz quanto a fóssil, a transição ocorrerá naturalmente. Como disse o CEO da Vale, “o que todo mundo diz é que precisa ser realista”, isto é, “não dá para a gente prometer algo que o acionista não vai aceitar porque a sociedade não vai topar pagar”. A despeito disso, contudo, “esse futuro vai chegar”.
O desafio dos ambientalistas responsáveis já não é conscientizar o mundo dos danos das mudanças climáticas. Isso já aconteceu. O verdadeiro desafio da nossa geração é encontrar o justo equilíbrio entre reduzir as emissões e minimizar o impacto socioeconômico. Isso mal começou.