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O desafio do BC no caso Master

A avaliação da compra de parte do Banco Master pelo BRB, banco estatal de Brasília, exigirá transparência absoluta das autoridades, pois há muitas questões nebulosas nesse caso

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Por Notas & Informações
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O Banco de Brasília (BRB) anunciou na sexta-feira passada a compra de uma fatia do Banco Master. Controlado pelo governo do Distrito Federal, o BRB informou que adquirirá 49% das ações ordinárias (com direito a voto) e 100% das preferenciais (sem direito a voto) do Master, em um negócio estimado em cerca de R$ 2 bilhões.

A bola agora está com o Banco Central (BC) e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que precisam aprovar o negócio.

O Estadão informou que os chamados “cabeças brancas” do BC, servidores experientes da autarquia que já analisaram casos complexos do sistema financeiro, farão a análise da transação.

A participação de funcionários experientes na avaliação sobre se o BRB realmente é capaz de comprar parte do Master é bem-vinda, mas, para além da senioridade do corpo técnico do BC, o que a dita análise realmente demanda é extrema transparência. Qualquer que seja a decisão da autarquia, ela precisará ser milimetricamente clara.

O motivo é que há questões bastante nebulosas envolvidas no negócio, a começar pelo fato de que o Master é uma instituição que cresceu aceleradamente por meio da oferta de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com rendimentos muito atrativos, ao mesmo tempo que fazia apostas ousadas em ativos de risco como precatórios.

Obviamente, quanto maior o rendimento prometido, maior o risco envolvido. Porém, no afã de atrair clientes, plataformas de investimento propagandearam a segurança do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), contribuindo para que investimentos arriscados, como os CDBs turbinados do Master, se tornassem mais aceitáveis.

Criado nos anos 1990, o FGC é uma entidade privada que, de fato, contribui para a estabilidade do sistema financeiro. Ele garante que, em caso de quebra de uma instituição financeira, pessoas físicas ou jurídicas que tenham investido em produtos como os CDBs sejam ressarcidas até o teto de R$ 250 mil.

Mas a venda maciça dos certificados do Master acabou gerando uma assimetria no próprio FGC. Sozinho, um banco de menor porte como o Master consumiria, numa estimativa conservadora, nada menos que 42% do patrimônio líquido do fundo, um evidente desequilíbrio. Donde se conclui que qualquer que venha a ser o desfecho do caso Master, a era do CDB turbinado “garantido” pelo FGC encontrou um muro.

Não é de interesse de ninguém, sobretudo do pequeno investidor, que produtos financeiros de maior risco sejam oferecidos de forma ilusória. A desfaçatez em torno do FGC é tamanha que houve quem propusesse, no Congresso, que a garantia oferecida pelo fundo subisse de R$ 250 mil para R$ 1 milhão, o que só oneraria as instituições financeiras sérias, que na verdade são a maioria, e premiaria apenas os investidores com mais recursos.

Já do lado do BRB, são muitas as dúvidas sobre se a aquisição de parte do Master realmente faz sentido. O banco de Brasília nega categoricamente que, por ser banco público, tenha sofrido pressão para fazer negócio com o Master. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, afirmou que a compra do Master casa com a estratégia de crescimento do BRB, que vem buscando converter-se de um banco regional em um nacional.

Inicialmente, a reação de parte do mercado ao negócio entre BRB e Master foi de suspeição. Não que o mercado não deseje um desfecho para o caso Banco Master, mas o fato de que a “solução” se dará por meio de um banco público gera questionamentos, o que não é de estranhar, já que o BRB diz ter como missão “ser um banco público, sólido, rentável, moderno e eficiente, protagonista do desenvolvimento econômico, social e humano”.

Ainda segundo o presidente do BRB, o Master que será adquirido pelo banco brasiliense não é o Master que causa apreensão no mercado – consta, a esse propósito, que a própria Faria Lima esperava que uma instituição privada de grande porte adquirisse o banco por valor simbólico.

Com tantas arestas para onde quer que se olhe, é preciso aguardar a decisão do BC. E que essa decisão possa permitir que o sistema financeiro, o FGC e, sobretudo, o pequeno investidor saiam protegidos deste imbróglio.

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