O ditador Nicolás Maduro está babando de ódio pela oposição desde que sua fraude para se aferrar ao poder ficou evidente não só para a esmagadora maioria da população da Venezuela, como também para todos os países que prezam pela democracia e pelos direitos humanos. A sanha persecutória de Maduro parece ter atingido um patamar de violência inaudito até para o conhecido padrão de crueldade do regime chavista. Segundo fontes ouvidas pelo jornal The Washington Post, Maduro teria lançado seus meganhas contra mais de uma centena de menores de idade acusados de praticar “atos terroristas”, como passaram a ser tratadas pelo regime de Caracas quaisquer manifestações de repúdio à subversão da vontade popular consagrada nas urnas.
De acordo com esses relatos, as forças de segurança de Maduro, sem falar nas temidas milícias a serviço do Palácio de Miraflores, conhecidas como “Coletivos”, teriam sequestrado 120 adolescentes, vários deles arrancados do seio de suas famílias por homens armados até os dentes em plena madrugada, para serem jogados em prisões onde estariam sendo submetidos a suplícios de toda ordem. Esses menores estão entre os cerca de 1,6 mil venezuelanos que já foram presos a mando de Maduro após a irrupção de uma onda de protestos que varreu o país vizinho desde que a fraude eleitoral restou cabalmente comprovada por instituições insuspeitas, como o Carter Center.
Além da prisão arbitrária desses adolescentes – que não têm sequer permissão para serem assistidos por advogados e tampouco podem manter contato com seus familiares –, os mastins de Maduro ainda estariam praticando uma segunda violência contra seus próprios concidadãos. Há denúncias de que pais e mães, não raro pobres, têm sido extorquidos pelos policiais chavistas para que paguem – em dólar, claro – pela alimentação de seus filhos no cárcere ou por um brevíssimo contato físico com eles.
Que tipo de tratamento merece um governo que põe as suas forças de segurança para caçar cidadãos, inclusive menores de idade, que simplesmente ousaram contestar o resultado de uma eleição ou às vezes nem isso?
Pela pletora de barbaridades que Maduro cometeu desde muito antes da eleição de 28 de julho – apenas o encerramento de um ciclo de arbitrariedades para conspurcar o processo eleitoral –, o presidente Lula da Silva, do alto da condição de chefe de Estado e de governo da maior economia da América do Sul e segunda maior democracia das Américas, já deveria ter parado de ser complacente com o tirano bolivariano.
Agora, diante desses relatos de prisão e tortura de adolescentes, Lula tem o dever moral de abandonar a infame posição de espera pela divulgação das atas eleitorais na qual se colocou – além de insistir na realização de uma nova eleição, um prêmio para quem a violou – para condenar de forma inequívoca a fraude e a violência perpetradas por Maduro. Essa seria a atitude digna do presidente da República a essa altura, se não por zelo à própria biografia, ao menos por coerência, haja vista que o petista faz questão de se projetar como articulador de uma formidável frente global em defesa da democracia. Ademais, enquanto finge não ver as atrocidades de Maduro, Lula não escolhe palavras quando se trata de condenar países alinhados aos Estados Unidos, como Israel e Ucrânia, mesmo quando exercem seu direito de se defender.
Não cabem mais reticências. Não cabe mais tergiversação. Talvez Lula ansiasse por normalizar a presidência de Maduro, decerto esperando que ele vencesse uma eleição verdadeiramente limpa, ainda que comprada pela dinheirama que governos populistas costumam derramar sobre os estratos mais vulneráveis da população antes do pleito. O governo petista talvez só não esperasse que quase 70% dos eleitores venezuelanos – os que não foram impedidos de votar pelo regime – dissessem um sonoro “não” à perpetuação do caudilho no poder. E agora parece paralisado diante da surpresa.
O caminho é claro. Qualquer posição que não seja o reconhecimento de uma fraude para lá de comprovada é uma posição mais que ridícula: é cúmplice.