A direção dos Correios firmou contrato de confissão de dívida com o Postalis, o fundo de pensão dos funcionários da estatal, em que concordou em pagar R$ 7,6 bilhões, metade do rombo que o fundo acumula desde o período em que foi amplamente utilizado em investimentos podres, mas que eram do interesse do governo petista da época. Grande parte do prejuízo total, estimado em R$ 15 bilhões, foi causada por operações feitas entre 2011 e 2016, durante o governo Dilma Rousseff – que, como mostrou reportagem do Estadão, corresponderam a R$ 9,1 bilhões.
Desnecessário frisar como é descomunal o volume de recursos jogados no ralo da incúria, em negócios mal administrados e em fraudes no Postalis. O rombo é superior ao patrimônio total de 225 dos 236 filiados à Abrapp, associação que reúne as entidades nacionais de previdência complementar. Aposentados e pensionistas, sem culpa nos malfeitos, arcarão com a outra metade do prejuízo, com descontos que chegam a ultrapassar um terço do valor dos benefícios.
Não estarão sozinhos no infortúnio. Como se sabe, aposentados e pensionistas da Petros (dos funcionários da Petrobras) e da Funcef (da Caixa) também sofreram cortes de benefícios para sanar os prejuízos de uma época em que o capital de suas caixas de previdência foi usado com o propósito prioritário de atender aos interesses do lulopetismo e partidos aliados. Os Correios, por exemplo, foram território fechado para o PTB e o PMDB. Os desmandos no Postalis deixaram a situação tão crítica que foram suspensas novas adesões de participantes.
Das grandes entidades patrocinadas por estatais, somente a Previ, do Banco do Brasil, não entrou na roda da decadência. Talvez por seu tamanho – é, de longe, a mais rica das fundações – ou por ter sido beneficiada por um período em que a rentabilidade das aplicações em ações multiplicou seu patrimônio, o fato é que não teve de onerar seus contribuintes com extras e nem os assistidos com cortes. Mas participou, como as demais, dos projetos lulopetistas.
Previ, Postalis, Funcef e Petros entraram, por exemplo, como sócios da Sete Brasil, a excentricidade idealizada pelo governo petista para intermediar as encomendas de equipamentos do pré-sal, mas que nada entregou a não ser um prejuízo bilionário. Sob o governo Dilma Rousseff, o Postalis vendeu títulos da dívida pública do Brasil e comprou títulos da Venezuela e da Argentina em 2014, um negócio que qualquer iniciante sabia ser um grande mico.
A inevitável intervenção no Postalis aconteceu ao final de 2017, no governo Michel Temer, depois que órgãos reguladores do Brasil e dos Estados Unidos concluíram ter havido má gestão e fraude. A Comissão de Valores Mobiliários, que já aplicou inúmeras multas a administradores do fundo, ainda hoje investiga irregularidades. Há dois meses, retomou julgamento de suposta operação fraudulenta em fundos de investimentos administrados pelo Postalis e multou os acusados em mais de R$ 21 milhões. A intervenção durou até dezembro de 2019, sob Bolsonaro, com a substituição do interventor da Previc, que fiscaliza os fundos de pensão, por um general. Sob Lula, um sindicalista passou a ocupar o cargo. Como se vê, nenhum dos dois estava genuinamente preocupado em corrigir os rumos.
Paulo Guedes, o “superministro” de Bolsonaro, incluiu os Correios na lista de estatais privatizáveis. O projeto para autorizar a operação chegou a ser encaminhado pelo Executivo ao Congresso, mas abortar a privatização foi uma das primeiras providências de Lula da Silva ao assumir o terceiro mandato.
A estatal é hoje deficitária – no primeiro trimestre deste ano, o prejuízo chegou a R$ 800 milhões – e durante as gestões anteriores do PT chegou a ter congeladas as tarifas postais, uma prática que foi relativamente comum na gestão Dilma, que conteve preços de combustíveis e de energia elétrica, acionando o gatilho de bombas inflacionárias de efeito retardado cujos efeitos ainda não cessaram.