Esquerdistas gostam de se dizer humanistas, em contraste com uma suposta indiferença dos liberais em relação à vida dos mais pobres ou das minorias. A julgar pelas reações de partidos brasileiros de esquerda ao recente massacre bárbaro de civis israelenses por terroristas palestinos, no entanto, o “humanismo” dessa turma merece muitas aspas, pois só são humanos dignos de sua consideração aqueles cuja causa lhe serve. Nesse humanismo instrumental, a vida dos que habitam países tidos como imperialistas ou inimigos da classe trabalhadora não vale nada, e se vier a ser eliminada, terá sido porque, de alguma forma, essas pessoas nem mereciam viver.
Tome-se o exemplo do PSOL, partido nanico que ganhou alguma relevância porque tem entre seus quadros o atual favorito para ganhar a eleição para a Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos. Em sua nota oficial sobre o assunto, o partido, esse colosso do humanismo com aspas, foi, previsivelmente, incapaz de mencionar que se trata de terrorismo e de citar a brutalidade da ação contra inocentes. Em vez disso, a nota serve exclusivamente para criticar o “apartheid sionista de Israel”, para manifestar “preocupação” com a reação israelense e para “lamentar” a ajuda dos Estados Unidos a Israel neste momento. É o cardápio completo: a culpa é de Israel, que não tem o direito de reagir, e dos Estados Unidos, que investem naquele que é o agressor em qualquer circunstância.
Já a nota do igualmente nanico PCdoB consegue ser ainda mais cínica. O texto começa criticando não o ataque do Hamas, mas a reação de Israel “contra a Palestina”, e qualifica a carnificina dos palestinos contra inocentes em Israel como “contra-ataque”, praticamente legitimando o terrorismo. Para piorar, a nota diz que a ação do Hamas “atingiu áreas civis e militares”. Ora, quase nenhuma área militar foi afetada. O objetivo dos terroristas, hoje está claro, era exclusivamente atingir civis. Ou seja, a nota do PCdoB, fiel ao stalinismo que anima o partido, não tem nenhum compromisso com a verdade dos fatos.
Do PT, já falamos neste espaço. Relembrando: enquanto o presidente Lula da Silva chamava os terroristas de terroristas, seu partido emitia uma nota em que se mostrou incapaz de qualificar o agressor e o agredido, limitando-se a expressar “preocupação com a escalada de violência envolvendo palestinos e israelenses”. Na única concessão ao fato de que centenas de inocentes haviam sido cruelmente violentados e assassinados pelo Hamas, a nota do PT menciona que houve “diversas vítimas civis, incluindo crianças e idosos”, mas não teve a decência de dizer que se tratava de civis de Israel.
Disso se conclui que, para os partidos de esquerda brasileiros, os israelenses não têm o direito nem sequer de chorar seus mortos, pois eles não existem. Sofram o que sofrerem, os israelenses serão sempre os algozes, a padecer das consequências de sua natureza maléfica; já os palestinos, façam o que fizerem, serão sempre as vítimas, cujas ações, por mais torpes que sejam, serão sempre qualificadas como legítimas ante a opressão israelense.
A bem da verdade, os palestinos sempre foram irrelevantes nessa equação dos partidos de esquerda brasileiros. São usados como meros pretextos para demonizar os Estados Unidos e seus aliados, contra os quais vale tudo, inclusive degolar crianças. Para essa turma, é irrelevante a causa de quem luta contra Israel, pois o mais importante é a luta em si e a consequente obliteração de Israel.
Fossem verdadeiros humanistas, esses esquerdistas se revoltariam não só com o terrorismo do Hamas, mas também com a perseguição da China aos muçulmanos uigures ou com a recente limpeza étnica dos armênios em Nagorno-Karabakh. Sobre essas desumanidades e sobre tantas outras, os humanistas com aspas nada têm a dizer, pois não envolvem nem os Estados Unidos nem Israel.
Que as autoridades brasileiras, que integram um governo dito de esquerda, tenham a decência de se distanciar dessa perversa visão de mundo. A determinação constitucional da defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana não seleciona quem merece e quem não merece tê-los.