O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que 40% dos empregos no mundo estarão expostos aos efeitos da inteligência artificial (AI). O cálculo impressiona porque não haverá remédio para parte desses postos de trabalho: vai desaparecer. Mas, como adverte o estudo IA Generativa: A Inteligência Artificial e o Futuro do Trabalho, no qual o dado está inserido, o cenário tende a ainda ser mais doloroso. Ao dizimar atividades laborais e até setores econômicos inteiros, essa revolução tecnológica elevará as tensões sociais em diversas nações e aprofundará o fosso entre os países mais ricos e os mais pobres.
Para o Fundo, esse efeito da IA somente será mitigado com mais e melhores políticas públicas sociais, de distribuição de renda e de educação. “Para todas as economias, redes de segurança social e de treinamento para os trabalhadores mais suscetíveis à inteligência artificial são cruciais para assegurar a inclusão”, afirma o estudo, realizado com base em análises do mercado de trabalho, do sistema produtivo e do potencial de absorção dessa tecnologia em 174 países.
A recomendação do FMI vale, sobretudo, para as economias emergentes, como o Brasil e a Índia, e as menos desenvolvidas, entre as quais as africanas e as centro-americanas. Em comum, esse conjunto de nações traz históricos níveis de desigualdade social e, salvo exceções, minguados recursos e/ou vontade política para adotar programas públicos de proteção aos mais vulneráveis. Não se antevê melhora substancial em suas condições fiscais para mitigar os danos da revolução laboral provocada pela IA – que, certamente, os alcançará. Tensões sociais, segundo o Fundo, estão no radar.
É certo que a inteligência artificial, como destaca o FMI, seguirá um cronograma de absorção mais lento nessa parcela do mundo. Com a ampla massa de empregos de baixa qualificação e o alto grau de informalidade no mercado laboral, os efeitos da IA nesses países serão moderados, se comparados com o mundo desenvolvido. As economias emergentes estarão alinhadas à média global de 40% de empregos afetados, segundo o Fundo. Nas menos desenvolvidas, não passará de 26%. O menor impacto, porém, está muito longe de ser uma bênção. Esses mesmos países tardarão a usufruir das vantagens da tecnologia inovadora: o choque de produtividade, o aumento de renda do trabalho e o crescimento econômico.
Nas economias avançadas, onde modelos de inteligência artificial não raro são patenteados, os efeitos negativos já começam a ser observados no mercado de trabalho. Nos cálculos do FMI, 60% dos empregos serão afetados, dos quais a metade deve desaparecer. Os sobreviventes tenderão a ser profissionais com educação superior nas funções com complementaridade com a IA. Haverá, obviamente, filas de demitidos sem a mínima condição de empregabilidade, como costuma acontecer sempre que há avanços tecnológicos. Portanto, o risco de tensões sociais tampouco estará afastado no mundo desenvolvido.
Considerado pelos pesquisadores do FMI como caso intermediário entre economias ricas e pobres, o Brasil está sujeito a ver 41% de seus empregos afetados pela IA, em linha com a média mundial.
Para o Fundo, a tábua de salvação para 43,7% dos trabalhadores brasileiros estará na educação superior – um diferencial que lhes permitirá buscar postos de trabalho nos quais a IA seja complementar. A alternativa de correr para setores menos afetados implicará perda salarial. O remédio receitado pela instituição financeira ao País não foge à regra geral: investimento em educação e no reforço dos programas sociais.
A transformação prevista no mercado de trabalho, por força da IA, não tem precedentes, na avaliação do Fundo. Se as máquinas a vapor, a divisão fordiana da produção e a informática deixaram multidões de excluídos e acentuaram as diferenças entre nações industrializadas e pobres, o que está por vir mostra-se mais profundo. A consolidação de um mundo bem mais desigual já está nas contas do FMI. É preciso ouvir a instituição financeira o quanto antes: há antídotos, e eles estão nos investimentos em educação e em segurança social.