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O Irã acuado

Derrota na Síria consuma a humilhação de Teerã e desmantela seu ‘Eixo da Resistência’. É o momento de combinar pressão e negociação para impedir que Irã se torne um delinquente nuclear

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Por Notas & Informações
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A queda da ditadura de Bashar al-Assad na Síria é um golpe para o Irã comparável à retomada do poder pelo Talibã no Afeganistão em 2021. Mas se no flanco oriental Teerã teve tempo de preparação, no flanco ocidental o colapso foi súbito. A agressão do Hamas, uma das milícias do “Eixo de Resistência” iraniano, a Israel se provou um erro de cálculo massivo, desencadeando uma sequência de revezes que culminou no colapso do “coração da resistência”, a Síria. Ao menos num futuro próximo, o sonho de um “Crescente Xiita” de Teerã a Beirute acabou.

A forja do Eixo começou com a criação do Hezbollah em 1982. A milícia xiita promoveu insurgências contra Israel em 1985 e 2000, ascendeu à dominância política no Líbano e através de suas conexões com o Hamas assegurou a Teerã uma fortaleza em Gaza. Os xiitas também se tornaram uma força política e militar no Iraque pós-Saddam Hussein. Com o apoio à rebelião houthi no Iêmen e a Assad após a Primavera Árabe, os aiatolás projetaram força por toda a região.

Na véspera do 7 de Outubro de 2023, o Eixo parecia estar no zênite de seu poder. Catorze meses depois, o Hamas está encurralado e os arsenais do Hezbollah foram devastados. As defesas de Israel contra os mísseis iranianos e seus ataques cirúrgicos a lideranças do Eixo humilharam a Guarda Revolucionária iraniana ampliando suas vulnerabilidades. A queda de Assad dá à Turquia preponderância no equilíbrio de poder no Levante e asfixia o fluxo de transmissão de armas ao Hezbollah.

O Eixo foi esquartejado e o Irã está em sua posição mais vulnerável desde a guerra com o Iraque nos anos 80. A economia segue em franca deterioração sob as sanções americanas; os protestos nas ruas estão mais coordenados e agressivos; a sucessão do aiatolá Ali Khamenei, com 85 anos, é incerta e deverá ser tensa.

“A esperança pode ser de que o colapso do Eixo de Resistência no Levante augure um período de paz e estabilidade”, ponderou Vali Nasr, pesquisador da Universidade Johns Hopkins, em artigo na revista Foreign Policy. “O desfecho mais provável, entretanto, é uma intensificação da competição regional para preencher o vácuo deixado pela retração do Irã e seus aliados.”

A reação de Teerã é incerta, mas é provável que desloque o centro de gravidade do Eixo para o Iraque e o Iêmen. Mais perturbadora é a perspectiva de que um Irã acuado mande pelos ares as tratativas por um controle nuclear e acelere a construção de ogivas, desencadeando uma corrida nuclear na região. Para completar a cesta de incertezas, ninguém sabe o que Donald Trump fará na presidência dos EUA, talvez nem ele mesmo.

Estrategistas não se entendem sobre se os EUA e seus aliados deveriam intensificar a “pressão máxima” do primeiro mandato de Trump ou apaziguar o regime para tentar reviver o acordo nuclear, como ensaiou Joe Biden, mas talvez a melhor opção seja uma combinação das duas coisas. O Irã tem uma tradição milenar de alternância calculada entre agressão militar e engajamento diplomático, e ela pode ser empregada em favor de um equilíbrio de poder mais benéfico.

As pressões não deveriam ambicionar uma mudança de regime, que poderia precipitar uma guerra civil similar à da Síria ou da Líbia, mas podem forçar Teerã a se comprometer com mais limitações ao seu programa nuclear, à sua produção de mísseis e ao apoio às milícias regionais. Em troca, Teerã seria brindada com a normalização de relações que permitiriam, antes de mais nada, a manutenção do regime teocrático, a única coisa que sempre importou para os aiatolás, liberando os EUA para focar em seus desafios na Ásia.

Trump disse que, se o Irã renunciar às suas ambições nucleares, ele “gostaria que fosse um país muito bem-sucedido”. Mas isso foi em novembro, e ninguém sabe se em fevereiro ele terá os mesmos gostos. Quanto ao regime dos aiatolás, ele já foi humilhado outras vezes e se reergueu, mas jamais abandonou suas ambições capitais: morte a Israel, morte aos EUA e expansão da revolução islâmica. Ninguém deveria abandonar esperanças numa mudança, mas nem arriscar todas as fichas nela. Se os adversários da teocracia iraniana quiserem paz, precisarão continuar se preparando para a guerra.