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O MST está à vontade

Secretária de Lula vê ‘retomada radical da reforma agrária’ enquanto invasões avançam

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Por Notas & Informações
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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deflagrou o “Abril Vermelho”. É o período do ano quando seus integrantes aterrorizam produtores, empresas e até centros de pesquisa com invasões, a pretexto de forçar o governo a fazer a reforma agrária. Em poucos dias, a organização invadiu ao menos 11 propriedades em Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo.

Não é de hoje que o MST dissemina a desordem no campo, mas, desde 2023, com a volta de Lula da Silva ao poder, o grupo tem se sentido mais à vontade para promover a baderna. Propriedades produtivas como fazendas de eucalipto da Suzano Papel e Celulose, na Bahia, e uma unidade da Embrapa Semiárido, em Pernambuco, já foram alvo do grupo.

Neste ano, as ameaças vêm bem desde antes do “Abril Vermelho”. Em uma carta publicada em janeiro, durante um encontro em Belém, líderes do MST reclamaram da paralisação da reforma agrária, cobraram o assentamento de 100 mil famílias e defenderam a pressão sobre o governo Lula por mais recursos do Orçamento.

Na sequência, começou o que chamam de mobilização, intensificada em março, quando, entre os dias 11 e 14, mais de 70 ações, entre elas protestos e invasões, foram realizadas em todas as regiões do Brasil. Houve manifestação na frente de unidades do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nos Estados, além da invasão de uma outra unidade da Suzano Papel e Celulose, desta vez em Aracruz, no Espírito Santo.

O MST não tem jeito mesmo, e o governo Lula também não. Isso porque as chantagens da organização parecem surtir efeito. No mesmo mês em que o MST deu início às ações truculentas, o presidente Lula resolveu prestigiar os companheiros baderneiros, enquanto sua popularidade entre os brasileiros derrete.

Na primeira visita neste mandato a um acampamento da organização, em Minas, o petista disse que “tem lado” e que “não esquece quem são seus amigos”. Coincidência ou não, logo após o evento, o governo incluiu novas despesas no Orçamento, entre elas gastos de R$ 750 milhões, para contemplar os interesses do MST.

O governo Lula passou a fazer mais promessas aos velhos aliados, apesar das invasões em série promovidas pelo grupo. Durante a inauguração de um assentamento em São Paulo, no dia 5 de abril, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que o governo vai terminar o mandato com 60 mil famílias assentadas. Já a secretária-executiva da pasta, Fernanda Machiavelli, disse que o País vive “uma retomada radical da reforma agrária” e citou a meta de assentar até o fim deste ano 29 mil famílias.

Impossível esperar o mínimo de responsabilidade do MST quando o próprio governo Lula da Silva romantiza a tática de guerrilha dos camaradas e é leniente com práticas ilícitas, em razão de suas rançosas paixões ideológicas. Na verdade, esse clima de medo no campo, que vai muito além de “uma retomada radical da reforma agrária”, exige combate urgente com a devida e necessária retomada radical da legalidade no Brasil.

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