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O peso de Lula na inflação

As falas do presidente da República contribuem para piorar expectativas já bastante ruins

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Por Notas & Informações
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As estimativas de analistas do mercado financeiro para a inflação sobem semana a semana há, ao menos, dois meses. Para este ano, a previsão já atinge 4%, ou seja, um ponto porcentual acima do centro da meta de 3% e só meio ponto abaixo do teto; para 2025, a projeção é de 3,87%. A tendência já havia sido verificada no recente Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que constatou consistente piora na percepção dos analistas para o comportamento inflacionário, ainda que os resultados fiscais negativos no curto prazo já fossem favas contadas.

Tanto o RTI quanto o Focus são elaborados pelo Banco Central (BC), com base em modelos de projeções coletados em mais de cem instituições financeiras. A deterioração das previsões, é bom ressaltar, não se deve apenas ao acompanhamento de preços ou ao comportamento desta ou daquela commodity agrícola ou mineral, ou mesmo aos reflexos da economia norte-americana. Contribuem – e muito – para o cenário as incertezas futuras no mercado doméstico e, neste tópico, o presidente Lula da Silva tem se esmerado em potencializar a inquietação.

Por óbvio, tem pesado muito nas expectativas de inflação a constatação de que a revisão das despesas prometidas pelo governo não será suficiente para equilibrar o orçamento público, ainda mais diante de uma arrecadação já no limite. E desde que decidiu substituir as lives semanais roteirizadas por entrevistas a veículos de comunicação, Lula da Silva se transformou numa fonte inesgotável de insegurança.

A cada declaração estouvada, faz disparar o dólar, recalibra opções de analistas, deixa o mercado em polvorosa e, depois, se diz surpreso com o resultado. Sem medir as palavras, chamou de “cretinos” os especialistas que atribuíram um pico na cotação do dólar em parte às dúvidas que ele manifestou sobre a necessidade de cortar gastos, em entrevista ao portal UOL, mesmo diante de um déficit primário de R$ 61 bilhões, o segundo pior desde 1997. “Os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes”, disse Lula, ignorando o fato de que a alta do dólar naquela quinta-feira tinha ocorrido imediatamente depois de sua fala desastrosa, e não antes, conforme cronometrou o Estadão/Broadcast.

Dizer que não tem certeza da urgência de cortar despesas é assinar um atestado contra a responsabilidade fiscal. Sem que Lula ao menos demonstre efetivo interesse em equilibrar as contas, será necessário manter os juros altos para conter a inflação.

Mas Lula não está nem aí. Em entrevista à rádio mineira O Tempo, indiferente ao caos que espalha, voltou a criticar os juros e garantiu que “isso vai mudar” quando ele puder indicar o presidente do Banco Central. Ou seja, o presidente anunciou, a quem interessar possa, que o próximo presidente do BC será só um nome no crachá, pois a política monetária será ditada pelo Palácio do Planalto.

Enquanto isso, a inflação sobe. No momento em que se relembra o lançamento do real, que há 30 anos restabeleceu o poder de compra da moeda nacional e abriu caminho para o desenvolvimento maduro do País, é preciso reforçar a mensagem de que o controle da inflação não é uma dádiva da natureza, mas resultado de responsabilidade fiscal – aquela que Lula parece desdenhar.