O Panorama Econômico Global do Fundo Monetário Internacional (FMI) traz dados reconfortantes. A taxa de inflação anual no mundo, após um pico de 9,4% em 2022, é projetada para atingir 3,5% no fim de 2025, abaixo da média de 3,6% entre 2000 e 2019. “A batalha global contra a inflação foi em grande medida vencida”, constatou o Fundo. Apesar do aperto das políticas monetárias, a economia global permaneceu resiliente no processo desinflacionário, evitando uma recessão. Em 2024 e 2025, o crescimento deve se manter em 3,2%.
O alívio não autoriza baixar a guarda. Ao contrário, é hora de fortalecer os fundamentos para o crescimento futuro. “Riscos adversos estão crescendo e agora dominam o panorama”, adverte a pesquisa, que enumera esses riscos: “Uma escalada de conflitos regionais, políticas monetárias apertadas por tempo demais, um possível ressurgimento da volatilidade do mercado financeiro com efeitos adversos sobre os mercados de dívidas soberanas, uma desaceleração mais profunda na China e a catraca contínua das políticas protecionistas”. Segundo o Fundo, a domesticação da inflação pavimenta o caminho para uma necessária política de “eixo triplo”: primeiro, a redução dos juros; segundo, a estabilização da dinâmica das dívidas, após anos de políticas fiscais frouxas; terceiro, reformas estruturais para alavancar a produtividade.
Essa é a zona de maior risco. Todo crescimento econômico sustentável depende de reformas que impulsionem tecnologia e inovação, competição, uma melhor alocação de recursos, mais integração econômica e estímulos aos investimentos privados. Contudo, “ante uma maior competição externa e debilidades estruturais na indústria e produtividade, muitos países estão implementando políticas industriais e comerciais para proteger seus trabalhadores e fábricas”, alerta o Fundo Monetário Internacional. “Se essas medidas podem por vezes impulsionar o investimento e a atividade no curto prazo – especialmente quando se apoiam em subsídios financiados pela dívida –, elas frequentemente levam à retaliação, dificilmente entregam melhorias sustentáveis nos padrões de vida em casa e fora, e deveriam ser firmemente evitadas quando não se dirigem criteriosamente a bem identificadas falhas de mercado ou preocupações com a segurança nacional.”
Isso nada mais é que o bom senso econômico baseado em evidências históricas. O protecionismo pode aumentar momentaneamente as receitas públicas e os ganhos dos produtores protegidos, mas é basicamente um imposto sobre os consumidores que não se reverte em ganho aos trabalhadores, com efeitos negativos bem documentados sobre o padrão de vida, o crescimento e até a paz. Em um livro seminal sobre a escalada dos nacionalismos no entreguerras, O Mundo em Depressão, Charles Kindleberger sentenciou: “Quando todo país se volta a proteger o seu interesse nacional privado, o interesse público do mundo vai pelo ralo, e com ele os interesses privados de todos”.
No entanto, em parte movido por humores estranhos à economia, como a nostalgia e a xenofobia, o protecionismo voltou, especialmente nos Estados Unidos. Recentemente, Donald Trump disse que “tarifa” é a palavra mais bela do mundo, depois de “fé” e “amor”. Ele promete elevar a média atual de tarifas nos Estados Unidos de 2% para um piso de 10% ou 20% sobre todas as importações, mais 60% sobre a China. A candidata democrata Kamala Harris é menos agressiva em políticas protecionistas – mas é mais em políticas intervencionistas. Uma vez postos em marcha, esses humores nacionalistas se retroalimentam. Internamente, desencadeiam disputas entre os produtores por mais proteções e subsídios; externamente, ciclos de retaliação. O FMI alerta que, se a alta de tarifas impactar uma “faixa considerável” do comércio global em meados de 2025, pode devorar 0,8% da produção econômica no ano que vem e 1,3% em 2026. Ou seja, um prejuízo generalizado.