O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), faltou ao primeiro debate deste segundo turno. Embora tenha se comprometido a participar do encontro, no qual poderia ter discutido propostas com o seu adversário, Guilherme Boulos (PSOL), optou por privar os paulistanos de conhecer com mais detalhes o projeto que tem de cidade para um eventual segundo mandato. Nunes não honrou a sua palavra e deixou vazia sua cadeira no programa dos jornais O Globo e Valor e da Rádio CBN. Ao que tudo indica, ou o incumbente tem receio de discutir a cidade que já governa ou está muito convicto da vitória – talvez as duas coisas.
A gestão de Nunes, porém, está longe de ser popular. Se o incumbente é candidato à reeleição, como é o caso de Nunes, o pleito naturalmente se transforma em referendo sobre seu desempenho, razão pela qual se pode dizer que o emedebista, que obteve pouco menos de um terço dos votos válidos no primeiro turno, e isso depois de uma campanha que monopolizou o tempo da propaganda eleitoral, não está bem avaliado. Ademais, até o dia da eleição, muitos paulistanos não sabiam dizer quem era o prefeito de São Paulo, resultado direto da falta de uma marca de sua gestão.
Por isso, Nunes deveria aproveitar os debates do segundo turno, agora sem os ruídos do arruaceiro Pablo Marçal, para justificar por que razão o paulistano deveria reelegê-lo. Neste momento, pode-se dizer que, se Nunes vencer, como apontam as pesquisas de intenção de votos, será muito mais pelas fragilidades de seu oponente do que pelo reconhecimento de seus méritos como gestor público. Não é à toa que, segundo o Datafolha, 68% dos eleitores que manifestam intenção de votar em Nunes dizem que o farão por falta de opção melhor.
Por outro lado, é compreensível que Nunes evite debates. Não terá que explicar, por exemplo, suas relações com o ex-presidente Jair Bolsonaro, bastante impopular na capital paulista, nem terá que justificar uma administração sem brilho e com vários problemas.
Como se sabe, Nunes não é o primeiro candidato a evitar debates eleitorais, e certamente não será o último. O histórico mostra que essa tática é adotada por quem lidera as pesquisas e, pressentindo a possibilidade de sofrer danos caso se submeta ao contraditório, pretende reduzi-los ausentando-se desse tipo de confronto. Quem perde, obviamente, é o eleitor, privado de saber como os candidatos se comportam no “mano a mano”, momento em que fica mais claro quem é mais preparado.
Talvez o eleitor paulistano, depois do show de baixarias que foi a campanha do primeiro turno, nem queira mesmo saber de debates e comícios. A alta abstenção na votação passada já sugeria um certo fastio, e isso naturalmente favorece quem está na frente. Salvo surpresas de última hora, que resultem numa virada hoje improvável de Boulos, Nunes é favorito à reeleição, mesmo sem carisma e sem que boa parte dos moradores da cidade que governa saiba quem ele é.