A taxa de desemprego no País, que há um ano se mantém abaixo de dois dígitos, de acordo com o monitoramento da média móvel trimestral pelo IBGE, parece confirmar o avanço da economia revelado pela instituição na semana passada. Os dados revelaram que o índice de 7,9% registrado no trimestre maio-junho-julho é o menor para trimestres terminados em julho desde 2014. E a tendência continua a ser de queda.
Diante das explicações dos técnicos do IBGE de que o desemprego não caiu, como em ocasiões recentes, pelo efeito de cálculo de menos pessoas estarem procurando trabalho, mas sim pelo aumento real da ocupação, não há como contestar o sinal positivo, mesmo que a desocupação ainda esteja em patamar muito alto. Afinal, o Brasil, que chegou a contabilizar mais de 14 milhões de desempregados em 2021, consequência direta da pandemia, agora conta menos 5,5 milhões de pessoas neste saldo.
Os 8,5 milhões de hoje formam o menor contingente de desempregados desde 2015. Mas a evolução está centrada na criação de postos de trabalho sem carteira assinada. Ainda não se pode cravar se esta é mais uma onda de informalidade da economia ou uma mudança de padrão que está sendo formada a partir das novas relações de trabalho pós-pandemia e do avanço tecnológico que surgiu a reboque do isolamento social do período mais crítico.
Celso Ming, no Estadão, chamou a atenção para a necessidade de incorporar às análises do mercado de trabalho o impacto da revolução provocada pela tecnologia da informação no mundo todo. E citou o desempenho insatisfatório da geração de empregos em indicadores da Confederação Nacional da Indústria e da Federação do Comércio do Estado de São Paulo como exemplos do descasamento dos resultados do emprego formal e dados gerais captados pelo IBGE.
Modelos de home office, trabalho híbrido, empreendimentos digitais, prestação de serviços online, entre outras atividades desenvolvidas a distância, não foram exatamente novidades surgidas na pandemia. Mas sua potencialização no período mais crítico da doença, que levou à adoção de novas dinâmicas sociais, promoveu uma transformação inédita no mercado de trabalho.
Diante da possibilidade de uma alteração duradoura no panorama do emprego, torna-se premente examinar a fundo o que está ocorrendo com vistas a melhorar sua configuração. Frear a precarização do mercado de trabalho é tarefa inadiável e talvez uma das principais metas, diante do aumento do emprego sem a proteção dos direitos trabalhistas. Ampliar a capacitação profissional, principalmente para a população jovem, é um caminho para vagas de mais qualidade.
A evolução do emprego é uma notícia sempre positiva. Mas não se pode ignorar os sinais que indicam a manutenção de problemas estruturais do mercado de trabalho brasileiro. A melhora não teve trajetória constante nos últimos trimestres, embora o índice de desemprego tenha permanecido em um dígito. A taxa de participação no mercado, que compara o total de ocupados e desocupados e é um indicador importante usado por economistas, também não voltou aos níveis pré-pandemia. Mas o motivo principal de alerta é a baixa qualidade que vem sendo constatada no emprego.
Os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE mostram que a informalidade representa 39,1% do mercado de trabalho. Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indica que 93% do emprego informal no mundo está em países emergentes e em desenvolvimento, o que comprova o que a prática já demonstra: a educação é o principal fator a afetar o nível de informalidade.
Políticas públicas para reduzir a taxa de desemprego devem levar em conta o momento atual de transição do mercado de trabalho, cuja face mais visível são as novas relações em vigor nos aplicativos digitais. O setor de informação e comunicação é um dos três destaques apontados pelo IBGE para o crescimento recente da ocupação. Os outros dois são serviços domésticos e administração pública. Mais uma vez se comprova que qualificar é fundamental.