Desde a década de 90, o Brasil investe fortemente na ampliação do acesso ao ensino superior, seja por meio de bolsas (ProUni) ou créditos (Fies) para universidades privadas, seja pela ampliação das universidades públicas e programas de cotas. Apesar disso, as universidades sofrem com a crescente evasão. Segundo o Instituto Semesp, 55% dos estudantes desistem do curso. É um desperdício de recursos para as universidades – como se uma fábrica descartasse metade do que produz – e de oportunidades para os jovens.
O fenômeno não é exclusivo do Brasil. Uma pesquisa publicada no Wall Street Journal revela que 56% dos norte-americanos não creem que o diploma compensa o tempo e o dinheiro despendidos. A desconfiança reflete as dificuldades de adaptação das universidades às transformações do mundo contemporâneo.
No Brasil há agravantes socioeconômicas e educacionais. Dificuldades financeiras e a necessidade de trabalhar estão entre as principais motivações para o abandono, além da indecisão profissional e baixo desempenho.
Um problema é a escolha profissional precoce. Enquanto na Europa e EUA as graduações são divididas em duas partes – primeiro uma formação mais ampla e diversificada, depois a especialização profissional –, no Brasil um estudante é obrigado a definir aos 17 anos a profissão de sua vida. Isso ajuda a explicar as altas taxas de abandono, mas também as de retorno. Levantamento publicado nos Cadernos de Pesquisa 50, aponta que 40% dos alunos que se desligam se matriculam em outras instituições nos dois anos seguintes.
Outro problema é a defasagem do ensino técnico. Menos de 10% dos alunos do ensino médio estão em cursos profissionalizantes, enquanto a média nos países da OCDE é de quase 40%. Muitos interessados na formação técnica buscam compensar a carência em cursos universitários, mas se frustram com cursos longos coalhados de exigências acadêmicas irrelevantes para a carreira. Justamente nas áreas de tecnologia, que estão entre as mais promissoras no mercado, as taxas de abandono são maiores.
A evasão nesses cursos também explicita deficiências da formação básica. Segundo o MEC, só 5% dos alunos terminam o ensino médio com desempenho adequado em matemática.
A evasão no setor privado (57%) é mais alta que no público (47%). Além das dificuldades financeiras, isso se explica em parte pela má qualidade de muitos cursos privados.
Um levantamento da USP traz novos dados. O abandono entre não cotistas é de 15%; entre os cotistas da rede pública, é de 18,6%; e, dentre estes, a evasão de negros e indígenas é de 23,9%.
O desafio exige estratégias complexas, que vão desde uma melhor formação e orientação vocacional no ensino médio à modernização dos currículos acadêmicos e programas de apoio financeiro e pedagógico. E há um problema preliminar: a carência de dados detalhando características e causas da evasão. Sem diagnósticos adequados, as prescrições terapêuticas continuarão operando no escuro, e o ensino superior continuará a ser, para muitos, uma fábrica de frustrações.