Simultaneamente às críticas ao elevado nível dos juros no País, empresários estão reclamando do governo a adoção de uma política industrial. Eles acreditam que medidas de estímulo possam fazer com que o setor fabril se recomponha das suas muitas fragilidades e da dificuldade para competir nos mercados doméstico e do exterior e volte a crescer.
Não há dúvidas sobre a perda de importância comparativa da indústria no País – e globalmente. Dados do IBGE mostram que o setor, no Brasil, continua 1,3% abaixo do seu patamar pré-pandemia, apesar da expansão de 1,1% em março.
No debate, está fazendo falta, no entanto, uma definição mais clara de qual modelo de indústria se quer no País. No mundo, o setor industrial passa por uma profunda revolução tecnológica, com prioridades contemporâneas, como a questão climática e a valorização da inovação e da diversidade. Não faz sentido mais a concepção de um segmento com fábricas poluentes, com baixos índices de produtividade e produtos que não atendem mais aos desejos dos consumidores.
É hora, pois, de repensar minuciosamente como deve funcionar o setor industrial no País. Apostar simplesmente na concessão de incentivos que mirem um modelo anacrônico seria desperdiçar talento e inventividade, além de tempo e recursos – escassos no Orçamento da União e caros na tomada de empréstimos bancários.
Alguns, como o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin, falam agora não mais em reindustrialização, mas sim em neoindustrialização, um conceito que englobaria também diversificação da matriz energética e a busca por sustentabilidade ambiental. Se isso é sério, como deveria ser, não faz sentido, por exemplo, a informação de que o governo federal pretende retomar a ideia de estimular novamente a produção do chamado “carro popular” – naturalmente mais poluente e menos tecnológico. Além de atentar contra o meio ambiente, a retomada do incentivo para carros baratos é um paliativo arcaico que não pode ser chamado de política industrial.
Um aspecto da política industrial a ser contemplado no debate é a possibilidade de as novas medidas resultarem em aumento na oferta de emprego – em geral as fábricas pagam melhores salários que outros setores da economia para os trabalhadores com carteira assinada. O secretário executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa, informou recentemente ao Estadão que vai se buscar sustentabilidade, inclusão e descarbonização – e geração de emprego.
A questão é polêmica. “A reindustrialização no sentido de aumentar a participação do emprego na indústria de maneira significativa e sustentável me parece muito difícil, se não impossível”, disse o economista Dani Rodrick, da Universidade Harvard, em entrevista a este jornal. Sua opinião ganha força quando se lembra que ele é defensor de políticas públicas, inclusive industrial.
O presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, defende a ideia de um mecanismo de apoio ao seu setor equivalente ao Plano Safra. Segundo ele, a Fazenda teria se comprometido a alocar recursos para a indústria no próximo Orçamento da União. “É inconcebível que a gente não possa ter algo semelhante. Por que tem no setor agrícola e não tem algo equivalente para a indústria de transformação?”
O exemplo do agronegócio é bem-vindo ao debate. Ao longo das últimas décadas, foi extraordinário o processo de mudança por que passaram os métodos de produção agrícola e pecuária no Brasil, explicando o sucesso das exportações do País desses itens. Como se sabe, as vendas ao exterior do agronegócio crescem de forma consistente, ganhando espaço na pauta da balança comercial. No ano passado, as exportações desse setor econômico representaram quase 50% do total vendido pelo Brasil – foram exatos 47,6%.
Investir em tecnologia, em atender aos desejos dos compradores e inovar os produtos estão sendo diretrizes seguidas por muitos empresários do agronegócio. Incorporar esses parâmetros ao projeto de indústria que se deseja é essencial.