Após dois anos letivos comprometidos pela pandemia de covid-19, as escolas brasileiras começaram 2022 com o desafio de recuperar o tempo perdido. Como já se esperava, porém, não está sendo fácil. Pesquisa do Instituto Península com professores da rede pública e privada de educação básica, em todas as regiões do País, constatou que apenas 11% dos docentes, praticamente um em cada dez profissionais, consideram que seus alunos aprenderão o que estava previsto neste ano.
Noticiado pelo Estadão, o dado é preocupante e sinaliza, com base na percepção de quem está frente a frente com os alunos, algo que especialistas já haviam projetado: o déficit de aprendizagem acumulado no período de ensino remoto não será solucionado no curto prazo. A questão, portanto, é o que fazer para acelerar a recuperação da aprendizagem e evitar que a formação escolar da atual geração de estudantes fique comprometida.
Por óbvio, não existe resposta simples a essa pergunta. Mas é evidente que não basta repetir a fórmula dos anos anteriores à pandemia, até porque, como se sabe, a educação brasileira convive com problemas históricos que se agravaram com a suspensão das aulas presenciais em 2020 e 2021. O déficit de aprendizagem é exemplo disso: antes da pandemia, a maioria dos alunos já não aprendia os conteúdos previstos. O que era grave, porém, ficou ainda pior.
A recuperação da aprendizagem requer agora um esforço muito maior, na medida em que as escolas deverão não apenas preencher as lacunas do ensino remoto e abrir caminho para novas aprendizagens, mas fazer isso com mais qualidade do que no passado − e partindo de uma realidade abalada pela pandemia. Sim, as escolas devem fazer mais do que faziam antes, o que já seria desafiador em qualquer situação. No atual cenário, a tarefa fica ainda mais pesada.
Eis o tamanho do desafio enfrentado diariamente nos milhares de estabelecimentos de ensino do País. Nesse contexto, fica evidente o descompasso entre a dimensão e a urgência do que precisa ser feito, considerando a relevância da educação para o desenvolvimento nacional, e o insuficiente debate público sobre o tema na atual campanha eleitoral. Daí a importância de pesquisas como a realizada pelo Instituto Península: ao dar voz aos professores, o levantamento Retratos da educação pós-pandemia: uma visão dos professores aponta soluções do ponto de vista de quem está dentro das escolas. Fariam bem os gestores das redes de ensino, assim como os candidatos, se prestassem atenção ao que estão dizendo os profissionais da educação.
O levantamento mostra que as redes de ensino precisam agir em diversas frentes. Indagados sobre o tipo de apoio que gostariam de receber neste momento, 62% dos entrevistados solicitaram apoio psicológico e emocional. Foi a opção mais assinalada. Em segundo lugar, orientação para dar suporte emocional aos estudantes, com 59%. Formação e recursos para recuperar a aprendizagem ficaram na terceira colocação, com 51%.
Os relatos dos professores dão conta de que os alunos demonstram estar desconcentrados, sem motivação e com dificuldades de relacionamento com os colegas. Ou, como descreveu o professor de ensino médio Leonardo Medeiros, entrevistado por este jornal, a sensação é de que os estudantes ainda não voltaram a ter uma “cultura de escola” após a pandemia − mesmo depois de quase um semestre de aulas presenciais. Como recuperar o déficit de aprendizagem e avançar em um contexto assim?
Oferecer uma educação de qualidade envolve agir em múltiplas frentes. Não existe solução única. A percepção da imensa maioria dos professores de que seus alunos não vão aprender o esperado neste ano, algo que tende a desanimar esses profissionais, requer ações imediatas, em especial porque o atual ano letivo ainda não acabou. A retomada das aulas presenciais deu às redes de ensino a condição essencial para recuperar a aprendizagem. Agora, com os estudantes de volta às salas de aula, é preciso criar as condições necessárias para que isso, de fato, ocorra. Com urgência.