O PT tem um encontro marcado neste mês com a “democracia” russa – aquela em que Vladimir Putin, há quase 24 anos no poder, vai atrás do seu quinto mandato com a garantia absoluta de vitória, já que estão fora do páreo – presos, assassinados ou proscritos – quase todos os principais líderes de oposição.
Como mostram diversas denúncias a cada disputa, as eleições russas não são nem livres nem justas, imersas em suspeitas de fraude e falta de transparência. Também pairam as sombras produzidas pelo histórico de sufocamento de dissidentes e críticos ao governo e pela tenebrosa frequência de mortes de opositores – o último deles Alexei Navalny, que morreu na prisão onde cumpria pena. E convém lembrar ainda que diversos relatórios apontam crimes de guerra e violações gravíssimas cometidas por forças russas no conflito com a Ucrânia.
Nada disso, porém, arrefece o ânimo do partido de Lula da Silva com as eleições na Rússia, muito menos a aliança tácita entre os dois presidentes. Segundo informou a Folha, o PT acaba de ser convidado pelo partido de Putin, o Rússia Unida, para acompanhar a eleição presidencial. É a reafirmação de uma relação mais estreita do que já sugerem as erráticas intervenções públicas de Lula em favor do colega russo. Seria uma surpresa se o PT, como “observador” da eleição, denunciasse alguma das muitas e previsíveis irregularidades que qualquer um seria capaz de perceber. Na prática, portanto, o partido de Lula fará o que dele se espera, isto é, atestará a “lisura” de uma eleição fajuta.
É esse o tipo de disputa que o PT foi convidado a chancelar. Putin controla o poder na Rússia desde 2000. O grave, porém, é menos a longevidade e mais o fato de estar continuamente reescrevendo as regras do sistema político para expandir seus poderes. Para tanto, recorre não só aos seus conhecidos métodos internos para preservar o poder, mas busca também usar peões úteis para o xadrez de suas ambições internacionais. Lula da Silva é um desses peões.
Basta ver a retórica e a prática antiamericanas e terceiro-mundistas escondidas sob o manto de um multilateralismo de conveniência. Lula e o PT acabam servindo de correia de transmissão dos interesses russos e chineses contra os Estados Unidos e a Europa. Não é à toa a defesa que Lula faz de Putin e seu silêncio diante da criminosa agressão russa à Ucrânia – Lula, ao contrário, teve a pachorra de igualar os agredidos ucranianos e os agressores russos. Além disso, o chefão petista, a propósito da morte do oposicionista Navalny num gulag russo, criticou a “pressa” em condenar Putin e pediu “bom senso” – o mesmo que o PT nunca teve quando se trata de condenar os “imperialistas” ocidentais.
No ano passado, comissários petistas estiveram em Moscou a convite do partido de Putin, num encontro cuja pauta era o “neocolonialismo ocidental”. Neocolonialismo é o adorno conceitual usado por esses países para promover a versão atualizada da guerra fria: contra o imperialismo e o colonialismo norte-americano e europeu, a saída é o bloco liderado por Rússia e China. Nada mais é, porém, do que um sintoma da doença infantil do esquerdismo deste século 21.