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Economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP, consultor econômico e de ensino superior, Roberto Macedo escreve na primeira e na terceira quinta-feira do mês na seção Espaço Aberto

Opinião | A ponte JK que caiu e o risco de novas quedas

A redução dos investimentos públicos em infraestrutura traz o risco de novas quedas e outras consequências

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A recente queda da ponte Juscelino Kubitschek (JK), entre os Estados do Maranhão e Tocantins, está no contexto da redução dos investimentos públicos em geral e particularmente em infraestrutura e suas pontes, bem como na forma com que nossas elites políticas maltratam esses investimentos, deixando de lado a imperiosa necessidade de ampliar o crescimento sustentável da economia brasileira. Esse abandono marcou a fragilidade desse crescimento desde 1980, conforme várias vezes apontei neste espaço, sempre ressaltando a redução dos investimentos públicos. A virada do ano é uma boa ocasião para refletir novamente sobre esses aspectos, inclusive na esperança de que sejam reorientados numa boa direção no ano que nasceu.

Aspecto interessante da queda da ponte veio na Folha de S.Paulo do dia 25/12/2024, relatando que “existem nada menos que 597 pontes geridas pelo Dnit (O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em situação classificada como ruim, a mesma da ponte que caiu. Outras 130 são consideradas em estado crítico, ainda pior. Isso significa que 12,5% (727) do total nacional se encontram nessas duas categorias” (!).

Se estão aí é porque faltou investimento público para arrumá-las, e de fato faltou investimento público em geral. A mesma fonte informou que a ponte JK “foi inaugurada em 1961, quando os aportes (em investimentos) de União, Estados, municípios e estatais somavam perto de 6% do Produto Interno Bruto – a cifra chegaria a 10,6% (!) em 1976, no período do chamado milagre econômico”. Mas o investimento público “não passou de 2,6% em 2023” (!). Como se percebe, houve uma forte queda do investimento público no período pós-1980, e sem reequilibrar isso a economia brasileira não terá condições de alcançar crescimento bem mais forte e sustentável.

Mas, olhando por esse lado, não se vê por parte do governo uma atitude forte e firme. No federal, o Congresso é extrativista, no sentido de que seus membros em geral não se revelam efetivamente preocupados com esse crescimento medíocre pós-1980. Estão mesmo mais preocupados é com extrair vantagens para interesses pessoais e de grupos, conforme as emendas parlamentares.

Já o presidente Lula da Silva, optante do populismo, opera para obter vantagens na eleição presidencial de 2026. Mais uma prova disso veio quando enviou ao Congresso em 2024 um pacote de ajuste fiscal acompanhado paradoxalmente de uma proposta para eliminar o Imposto de Renda daqueles que ganham até R$ 5 mil por mês, o que é um gasto tributário.

No ano que passou fiquei contente ao ver que o Nobel de Economia chegou a três economistas norte-americanos que usaram essas expressões, extrativismo e populismo, para caracterizar dificuldades trazidas por instituições nacionais ao crescimento econômico mais forte. Contente porque quem escreve gosta de saber que suas convicções são apoiadas por gente de renome.

Voltando à ponte, é também um caso que provocou pelo menos 11 mortes e poluição nas águas do rio causada por caminhões que caíram carregados de líquidos poluentes. Ou seja, os danos da infraestrutura defeituosa também trazem prejuízos de outras naturezas.

O que fazer? Fica claro que os governos precisam reequilibrar suas contas na direção de investimentos públicos produtivos, o que significaria rever os atuais e conter vários gastos ditos sociais. Mas, com o presidente e o Congresso que temos, não vejo condições de isso acontecer.

Seria necessário organizar a sociedade para pressioná-los nessa direção, mas isso também seria difícil, pois a própria sociedade também não se mostra interessada num crescimento maior da economia. Quanto aos empresários, também estão interessados em extrair vantagens para si e seus grupos. Mas pelo menos têm uma noção melhor do que se passa, inclusive a de que um crescimento maior e mais sustentável favoreceria muito suas empresas. Também precisariam mudar sua atitude de concentrarem-se nos seus interesses. Mas aí há uma esperança.

Em 2025 pretendo convencer empresários no sentido de que passem a atuar junto ao Executivo e ao Congresso, e candidatos às eleições de 2026 para que mudem suas atitudes e ações retrógradas com relação ao crescimento econômico e quanto ao que os governos devem fazer. Se o leitor quiser e puder ajudar, também pode fazer sua pregação.

Quanto ao PIB de 2024, a percepção é de que terminou o ano crescendo a uma taxa superior a 3%, o que foi um número bom nas circunstâncias do ano e do período pós-1980. Contudo, nessas mesmas circunstâncias a perspectiva é de um crescimento próximo de apenas 2% no ano que começou. Pesariam nessa queda, entre outros fatores, o esgotamento da capacidade ociosa acumulada nos anos de baixo crescimento, as altíssimas taxas de juros, a taxa de câmbio, a inflação alta e o endividamento das famílias. Concordo com essa perspectiva, mas ficarei contente se estiver errado.

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ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

Opinião por Roberto Macedo

Economista (UFMG, USP e Harvard), é consultor econômico e de ensino superior

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