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Economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP, consultor econômico e de ensino superior, Roberto Macedo escreve na primeira e na terceira quinta-feira do mês na seção Espaço Aberto

Opinião | PIB de 2024 cresceu 3,4%, mas...

É preciso cobrar do governo uma atuação bem mais forte pelo crescimento econômico do País

Foto do author Roberto Macedo

A notícia foi divulgada pelo IBGE no dia 7 de março de 2025, e só hoje a estou comentando porque no dia anterior eu havia publicado meu artigo neste espaço, e escrevo a cada duas semanas. O governo e muitas pessoas se contentaram com a taxa de 3,4%, mas ela veio de novo no contexto de baixas taxas de crescimento econômico desde 1980. E esse crescimento é cíclico, em ondas que não se sustentam. Entendo que isso ainda é mal compreendido pela população do País, que parece dominada por baixas aspirações quanto ao crescimento econômico nacional e não reclama.

De minha parte, acho que o Brasil deveria ter uma meta de crescimento maior, começando com 4% ao ano, e num caminho marcado por mais investimentos públicos e privados, porque hoje são muito baixos. E são maiores investimentos em Formação Bruta de Capital Fixo que levam a uma produção maior, a mais empregos, mais renda, tudo aquilo que impulsiona a economia de um país e seu Produto Interno Bruto (PIB).

O relatório do IBGE sobre 2024 e seus demais dados mostram duas fragilidades importantes do PIB. A primeira foi que esta taxa de investimento relativamente ao PIB manteve-se em nível baixo, de 17%, quando para crescer bem mais precisaria ficar mais próxima de 25% do PIB.

A segunda fragilidade é que a partir do segundo trimestre de 2024 as taxas trimestrais de variação do PIB foram decrescentes até o último trimestre. Mais precisamente, 1,3%, 0,7% e 0,2% no segundo, terceiro e quarto trimestres, respectivamente. E isso é um dos fatores que sustentam as previsões da maioria dos analistas, de que em 2025 o PIB crescerá mais perto de 2% do que de 3%, lembrando que as taxas de 2022, 2023 e 2024 ficaram próximas desta última, ou seja, 3%, 3,2% e 3,4%, respectivamente. Isso levaria a um novo ciclo de taxas insatisfatórias, que marca a maior parte das taxas pós-1980.

Segundo o IBGE, pela “(...) ótica da despesa, houve crescimento de 7,3% da Formação Bruta de Capital Fixo, os investimentos. Tal crescimento é explicado pelo aumento tanto da produção interna de bens de capital quanto de sua importação, além da expansão da Construção e do Desenvolvimento de Software”. Mas a taxa de investimento anual só passou de 16,4% para 17% do PIB entre 2023 e 2024.

Volto agora, mais uma vez, à minha repetida pregação, que resume a situação da economia retornando ao passado e contemplando o futuro próximo, a visão dos agentes políticos, que não demonstram preocupar-se com o baixo crescimento econômico, e o que poderia ser feito a respeito. Ao leitor peço desculpas pela repetição, mas pregações precisam ser repetidas para que tenham alguma chance de serem ouvidas.

No momento, como vimos, a situação da economia olhando o presente e o futuro é a de um ciclo em que suas três últimas taxas anuais, em torno de 3%, se esgotaram e a perspectiva é de um crescimento mais próximo de 2%. Olhando a área política federal, o presidente Lula continua preocupado, mesmo, é com sua reeleição e segue uma política de gastos que provoca inflação e contrasta com a disposição do Banco Central de combatê-la levando a juros elevados, que também oneram a dívida pública e prejudicam o investimento, que permitiria maior crescimento.

Sua mais recente medida, populista, voltada para sua queda de popularidade e confirmada na terça-feira passada, foi a remessa ao Congresso Nacional de um projeto de lei que isenta o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e corta o imposto para quem ganha entre R$ 5 mil e R$ 7 mil, com uma perda de arrecadação estimada pelo governo em R$ 27 bilhões, mas que alguns analistas calculam que poderá ser maior. Essa conta o governo pretende financiar com o aumento de alíquota para quem ganha acima de R$ 50 mil, o que os atingidos procurarão contornar em parte. Ademais, há o risco de o Congresso aprovar a isenção, e não a nova tributação. Sem se preocupar com o crescimento, é por aí que o governo segue gerando também novas incertezas, que diminuem a confiança dos empreendedores e os seus investimentos.

Quanto ao Congresso, ele tampouco demonstra maior preocupação com o crescimento econômico do País e aparenta estar mais interessado nas suas emendas parlamentares. Na minha opinião, elas deveriam ser completamente extintas, pois a Constituição diz que todos são iguais perante a lei, mas nas eleições os parlamentares que distribuíram emendas têm maiores chances de serem eleitos do que os candidatos sem mandato, conforme demonstrado pelas eleições passadas.

Para voltar a atenção do governo para o crescimento, um caminho, já apontado anteriormente, seria pressioná-lo para criar uma meta começando com 4% ao ano, que, se não cumprida, abriria uma grande discussão dos fatores que impediram isso e como atuar em sentido contrário. Isso ocorre com a meta de inflação. Como a sociedade em geral não pressiona pelo crescimento econômico, minha proposta é de que os empresários, por meio de suas associações, se organizassem para exercer essa pressão. E a imprensa também poderia colaborar na mesma direção.

Opinião por Roberto Macedo

Economista (UFMG, USP e Harvard), é consultor econômico e de ensino superior

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