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Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004), Rubens Barbosa escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião | Projeto Mejuruá

Um dos projetos mais inovadores anunciados publicamente, é um paradigma a ser replicado na Amazônia e em outras regiões

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Segundo alguns levantamentos, há cerca de 60 projetos de preservação de florestas, dos quais 18% localizados na região amazônica. A mudança da política brasileira em relação à Amazônia, combatendo os ilícitos nas queimadas, no desmatamento e no garimpo ilegal, de um lado, e, de outro, procurando dar assistência às comunidades de povos originários, favorece iniciativas de bioeconomia para trazer o desenvolvimento econômico e social a toda a região.

Muito se tem discutido sobre a responsabilidade das empresas na sustentabilidade ambiental e na preservação do meio ambiente. Poucos são os projetos realmente inovadores. Ainda menor é o número de projetos importantes que combinam a conservação da floresta amazônica com a preocupação social, ao levar em conta os interesses das comunidades da região.

Um dos projetos mais inovadores anunciados publicamente é o Projeto Mejuruá de conservação florestal, localizado nos municípios de Carauari, Juruá e Jutaí, no coração da região centro-oeste do Estado do Amazonas. A cidade de Carauari, com cerca de 30 mil habitantes, é contígua à área conhecida como Fazenda Gleba Santa Rosa de Tenquê. A área é privada e estende-se por mais de 903 mil hectares de floresta tropical amazônica, riquíssima em biodiversidade. O manejo sustentável da floresta será efetivado em 160 mil hectares, cerca de 18% da propriedade, a ser operado ao longo dos próximos 30 anos. Concebido no contexto da iniciativa REDD+, o projeto, nestes 30 anos, deverá evitar a emissão de perto de 82 milhões de toneladas de CO2 equivalente.

A principal característica do projeto é a combinação entre a conservação da floresta, a preservação da biodiversidade e as iniciativas sociais em favor das comunidades locais, contribuindo para reduzir o desafio da mudança do clima, conter o aquecimento global reduzindo as emissões de gás de efeito estufa e apoiar atividades econômicas que possibilitem a melhoria do nível de vida na região.

O plano de ação que está sendo implementado apresenta três vertentes: proteção da natureza, apoio às comunidades locais, inclusive indígenas, e desenvolvimento socioeconômico, sempre respeitando a ecologia. A parceria com as comunidades locais será efetivada para melhorar a infraestrutura e o uso de tecnologia, ênfase na educação, na geração de emprego e no estímulo à vida comunitária. Estão previstos investimentos da ordem de algumas dezenas de milhões de dólares, apenas na área social.

Assim, o fortalecimento da proteção e o monitoramento da área visam a manter a floresta em pé, promover a economia verde baseada em produtos da biodiversidade e do trabalho local tradicional. Com o desenvolvimento, a potencial parceria econômica com as comunidades locais e o valor ambiental da floresta amazônica, gerarão benefícios para os habitantes locais e serão aproveitados por todas as comunidades ribeirinhas e vizinhas nas áreas protegidas e seu entorno, com a criação de empregos, geração de energia verde e a proteção à biodiversidade na fauna e na flora.

O plano social está sendo implementado com a construção ou melhoria das habitações, educação, água potável, assistência à saúde, energia elétrica e acesso à internet. A criação de empregos será decorrência do manejo florestal sustentável e do desenvolvimento industrial para beneficiamento da madeira e planta de energia de biomassa, além de outras atividades econômicas (bens e serviços). Entre diretos e indiretos, serão criados de 2 mil a 3 mil empregos no local, com diferentes níveis de qualificação.

O projeto deverá também contribuir com o Estado para a implementação de políticas de desenvolvimento econômico na região, por meio de convênios de colaboração firmados nas esferas estadual e municipal, apoiando a sua implementação e definindo atividades a serem tocadas a quatro mãos, entre governo e iniciativa privada. Não menos importante tem sido o engajamento com entidades não governamentais, inclusive as locais.

Do ponto de vista econômico, o projeto gera recursos com a criação na área de instalações industriais para o processamento da madeira originária do manejo sustentável da floresta e do extrativismo explorado diretamente pelos ribeirinhos, principalmente a pesca, além do aproveitamento dos recursos da biodiversidade, como o açaí, cuja cadeia de valor será apoiada pelo projeto em benefício das famílias dedicadas à sua coleta e ao seu processamento. A preservação da floresta possibilitará a utilização de créditos de carbono gerados pela redução da emissão de gás de efeito estufa. No seu conjunto, o projeto apresenta um perfil econômico autossustentável.

Para alcançar a proteção ambiental e outros objetivos da agenda ESG, o projeto adotou padrões internacionais e está se qualificando para várias certificações, inclusive da Verra e do Programa para o Reconhecimento da Certificação Florestal (PEFC, na sigla em inglês).

O projeto foi concebido e está sendo implementado pela BR Arbo Gestão Florestal, companhia brasileira especializada na gestão de sustentabilidade florestal, com presença e cooperação das comunidades locais. Conta com o apoio estratégico e econômico de um grupo investidor europeu, sob a liderança do empresário Gaetano Buglisi.

Um paradigma a ser replicado na Amazônia e em outras regiões.

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PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Opinião por Rubens Barbosa

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

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