A insatisfação com os rumos da política de segurança pública do governador Tarcísio de Freitas, marcada pelo estímulo à violência policial, piorou entre os eleitores paulistas. Pudera. Nos últimos dias, como se sabe, têm vindo a público várias imagens de policiais militares cometendo barbaridades contra cidadãos, suspeitos ou não de terem cometido crimes.
Uma pesquisa da Quaest, realizada entre os dias 4 e 9 deste mês e divulgada na quinta-feira passada, mostrou que 37% dos entrevistados avaliam negativamente a gestão de Tarcísio na área da segurança pública, o que representa um aumento de seis pontos porcentuais em relação ao último levantamento feito pelo instituto, em abril. Outros 36% dos eleitores paulistas consultados classificam a política de segurança pública como regular, enquanto apenas 27% a aprovam.
Quando se considera que a segurança pública é uma das principais plataformas políticas do governador de São Paulo, se não a principal, fica claro que, no geral, a avaliação que a população faz de seu trabalho nessa seara não é boa. Afinal, somados os que a reprovam e os que a consideram regular, 73% dos eleitores paulistas não percebem que Tarcísio está caminhando na direção correta para combater o crime e garantir a segurança da sociedade. Bem instruído que é, o governador decerto sabia disso, ou ao menos intuía, quando, em boa hora, admitiu publicamente seus erros e se dispôs a reavaliar as medidas – e até as palavras – que tem adotado nessa área crucial da administração pública.
Mais um sinal claro dessa bem-vinda disposição de Tarcísio para aprumar a gestão da segurança pública no Estado foi a reunião que o governador teve há poucos dias com a pesquisadora Joana Monteiro, da Fundação Getulio Vargas (FGV), considerada uma das maiores especialistas em políticas de segurança pública do País. O encontro, sem a presença do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, foi pedido pelo próprio governador e ocorreu na véspera da divulgação da pesquisa. O teor da conversa não foi divulgado nem pelo Palácio dos Bandeirantes nem pela pesquisadora, mas o Estadão apurou que a nova linha de atuação desejada por Tarcísio vai ao encontro do que Joana Monteiro defendeu em um evento realizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), no início deste mês, e do qual o governador participou.
Em linhas gerais, a professora da FGV sustenta que o Estado precisa criar mecanismos de controle da atividade policial de forma a valorizar os bons policiais e ter elementos de prova para corrigir desvios e, no limite, expurgar os policiais que agem frontalmente contra a lei. E isso passa, em grande medida, pela ampliação do uso de câmeras no fardamento da Polícia Militar (PM). “Eu acredito na boa polícia”, disse Joana Monteiro ao Estadão, “mas, quando esse tipo de ação (truculenta) é fomentada, você valoriza o mau policial e prejudica o bom.” Ainda segundo a especialista, “a tecnologia vira o jogo porque mostra cenas de total arbitrariedade” que, ao fim e ao cabo, servem como “provas objetivas” dos desvios.
É ótimo para a população paulista que Tarcísio esteja disposto a mudar sua política de segurança pública e, para isso, esteja buscando o conhecimento e a experiência de quem entende do assunto. Mas este jornal se sente compelido a insistir em um ponto: toda a campanha do governador para mostrar que é um servidor público capaz de reconhecer seus erros e corrigir políticas públicas não passará de um esforço de propaganda se esse ânimo aparente não for correspondido por ações, a começar pela mais importante delas, a demissão imediata do secretário Derrite.
Não bastasse ser ele a personificação da banda truculenta da PM paulista, o secretário ainda é suspeito de utilizar equipamentos públicos, como um dos helicópteros Águia da PM, para atender aos interesses particulares de seus amigos, como revelou a revista piauí. Por muito menos, gente muitíssimo mais qualificada do que o sr. Derrite para exercer o múnus público já foi afastada de seus cargos a bem do interesse público.