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Tarcísio sabe onde está

Ao tomar posse, governador cita Covas e Montoro, reconhecendo que SP tem tradição de responsabilidade e democracia

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Por Notas & Informações
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Tarcísio de Freitas assumiu o governo de São Paulo indicando que, embora forasteiro, sabe onde está e, sobretudo, reconhece o que já foi feito de bom no Estado antes de sua eleição para o Palácio dos Bandeirantes. Era o mínimo para um bom começo de seu primeiro mandato eletivo.

Em seu discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), logo após a assinatura do termo de posse, o governador mostrou que sabe a responsabilidade que passou a pesar sobre seus ombros. Reconheceu que recebe um Estado com enormes desafios, entre os quais a brutal desigualdade e a Cracolândia, chaga aberta há anos na capital paulista. Mas, ao mesmo tempo, Tarcísio de Freitas reconheceu que recebe um Estado em condições muito favoráveis à superação de suas mazelas.

Transmitindo a ideia de continuidade, o governador afirmou que enxerga o exercício do poder público como “uma corrida de revezamento”, na qual “recebe-se o bastão, corre-se na maior velocidade possível, passa-se o bastão para quem correrá depois”. E nessa troca entre sucessivos governos, “o que se espera”, disse o governador, “é que não haja retrocessos em termos de qualidade do gasto (público), gestão fiscal e parcerias com a iniciativa privada”.

Este jornal também espera que não haja retrocessos, principalmente em relação ao uso das câmeras corporais no fardamento da Polícia Militar, uma das mais bem-sucedidas políticas públicas na área de segurança já adotadas no Estado.

Politicamente, Tarcísio de Freitas buscou equilibrar o reconhecimento ao apoio que recebeu de Jair Bolsonaro, seu maior cabo eleitoral, e ao legado dos governos do PSDB ao longo das últimas três décadas. Quanto ao primeiro, espera-se que tenha sido apenas um gesto de agradecimento e virada de página, afinal, não há “legado” algum do ex-presidente a ser defendido em São Paulo. Bolsonaro, na verdade, tratou São Paulo como uma espécie de enclave inimigo desde que resolveu se lançar numa rinha particular contra o ex-governador João Doria.

Já a menção expressa no discurso a três tucanos históricos – José Serra, Mário Covas e Franco Montoro – pode ser lida como uma indicação do novo governador de que não fará tábula rasa das políticas públicas implementadas pelo PSDB em São Paulo nas últimas três décadas. Por óbvio, com a legitimidade que lhe foi conferida pelas urnas, Tarcísio de Freitas pode e deve implementar as eventuais correções de rumo que julgar necessárias. No entanto, não se pode administrar o Estado mais rico da Federação e onde vive cerca de um quinto da população brasileira (quase 45 milhões de pessoas) ignorando o que já foi feito de bom por seus antecessores.

Assim como se espera que o presidente Lula da Silva compreenda as razões que levaram à sua vitória, muito mais do que uma chancela da maioria dos eleitores às agendas do PT, é esperada de Tarcísio de Freitas a compreensão de que seu primeiro triunfo eleitoral não decorre, exclusivamente, de um aval dos paulistas para que São Paulo se torne um “centro de resistência” do bolsonarismo no País. Aqui há uma longa tradição de efervescência social, responsabilidade fiscal e defesa da democracia que deve ser honrada para que São Paulo continue sendo o que é – e cada vez melhor.