Em entrevista a este jornal, a secretária estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, Natália Resende, afirmou que a qualidade dos Rios Tietê e Pinheiros melhorará até 2029, ano que a recém-privatizada Sabesp tem como meta para a universalização do saneamento básico no Estado.
De acordo com a secretária, os rios devem ser mais límpidos, com odor e cor melhores até 2029. No entanto, ela ressalvou que “Tietê e Pinheiros são rios urbanos, então você não vai conseguir beber a água”.
De fato, ao contrário do que prometeu o governador Luiz Antônio Fleury Filho no longínquo ano de 1992, ninguém espera matar a sede à beira das marginais que cruzam a capital paulista. Logo, a fala da secretária é equilibrada.
Mas quando se trata da despoluição desses cursos de água vitais para o Estado como um todo, o cidadão tem todos os motivos para ser descrente.
De Fleury ao atual governador, Tarcísio de Freitas, que chegou a anunciar a despoluição dos rios até 2026 – quando finda seu mandato –, sucessivos governos prometeram a tão desejada limpeza dos rios.
Os prazos para que os rios sejam efetivamente despoluídos são frequentemente empurrados para um futuro que nunca chega. E por mais que seja impossível não reconhecer que houve, sim, sensível melhora no aspecto de ambos os rios, o sentimento após décadas, e bilhões de reais investidos, é de frustração.
Em 2024, por exemplo, a meta de desassoreamento estabelecida pelo próprio governo não foi cumprida. A retirada de sedimentos que diminuem a profundidade e aumentam o risco de transbordo dos rios foi 13% inferior aos 1,670 milhão de metros cúbicos previstos.
Em sua defesa, a gestão Tarcísio de Freitas argumenta ter removido volume sem precedentes de sedimentos e afirma que não foi possível cumprir a meta, classificada pelo governo estadual de “desafio histórico”, porque o nível de assoreamento do Tietê na região de Pirapora do Bom Jesus é altíssimo (90%).
Ao longo de todos esses anos, um dos maiores entraves para a despoluição dos rios reside justamente na falta de coordenação entre os diferentes municípios cobertos pela Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, bem como pela ocupação desordenada do território.
Na entrevista ao Estadão, a secretária Natália Resende afirmou que o governo estadual vem buscando apoiar municípios paulistas, lembrando que das 645 cidades do Estado, 130 têm planos específicos de drenagem desatualizados.
Já não era sem tempo. Mas como essa questão se arrasta há anos, talvez seja mais prudente alinhar estratégias entre os governos municipais e o estadual antes que se fale em rio mais limpo neste ou naquele ano.
É preciso combinar celeridade e estratégia para que, tal qual em outras metrópoles globais, o Tietê e o Pinheiros deixem para trás a aparência degradada e o cheiro nauseante, e se tornem, como defende a secretária, fontes de orgulho para a população, como um dia já foram.