É comum, em dias de celebração, pedirmos aos homenageados para se definirem. Então, aproveitando que hoje é 10 de maio (dia da gastronomia), nada mais justo do que fazermos o mesmo com a gastronomia brasileira. E ninguém mais indicado para falar em nome da estrela do dia do que a criadora do primeiro curso de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi e membro da academia do The World’s 50 Best Restaurants, Rosa Moraes.
O Brasil é um país imenso e muito diverso em todos os aspectos, inclusive quando assunto é comida. “Enquanto tucupi, açaí e cupuaçu fazem parte do dia a dia do Norte; queijos, vinhos e churrascos dão a toada no Sul. Se no Sudeste os hábitos se fizeram à base de canjiquinha, angu com quiabo, curau e quibebe; no Nordeste, o brasileiro se expressa em caranguejada, acarajé, galinha de cabidela. A pluralidade é tão vasta que não dá para falar da nossa gastronomia em uníssono”, afirma a profissional.
Em face de tanta riqueza, será que seria possível definir os elementos essenciais da gastronomia brasileira? Rosa afirma que sim. Apesar de toda diversidade, existem três ingredientes sem os quais, provavelmente, a culinária brasileira como conhecemos hoje não existiria. São eles: banana, feijão e mandioca.
Banana
Não dá para falar em banana no Brasil sem lembrar da grande variedade de tipos disponíveis no país - da terra, prata, ouro, nanica, maçã e outras -, como bem lembra a especialista. Só isso já justificaria a presença tão marcante da fruta, mas a criatividade do povo, mix de influências e sua presença em todos os estados fez da banana um ícone nacional e deu origem a incontáveis pratos, tanto doces quanto salgados: Ela vira tudo quanto é doce, torta, pão e bolo, mas também vira tanto massa quanto recheio, às vezes é empanada para acompanhar um prato principal e ainda ousa se deitar in natura, ao lado do arroz com feijão. “A banana está nas fruteiras de cozinhas do Brasil inteiro, nas marmitas do trabalhador, nas lancheiras da criançada, na merenda escolar”.
Feijão
O feijão está na mesa do brasileiro dia sim, dia também, já que, como aponta Moraes, “é a grande proteína da nossa cesta básica e se tornou uma espécie de crachá do brasileiro”. Os pratos com ele são inúmeros: “Feijoada, feijão tropeiro, virado à paulista, tutu de feijão, baião de dois, tutu de feijão, feijão verde com queijo coalho. A lista vai longe e rasga o Brasil de fora a fora. Porém, ele também aparece de segunda a segunda, simples e bonito, perfumado por cebola e alho picadinhos e uma folha de louro, na cozinha de casa, seja ela qual for”.
Mandioca
“A versatilidade dessa raiz e o que o brasileiro soube fazer a partir dela é coisa rara de ver no mundo”, diz Rosa Moraes ao começar a falar do ingrediente, que é a base alimentar milenar dos povos indígenas originários. Mandioca, macaxeira, mani, maniva, aipim - seja como você quiser chamar - está espalhada por todo o território nacional e faz parte do cardápio de todo e qualquer brasileiro. “Ela vira farinha, polvilho, tapioca e biju baiano. Além disso, vai bem como porção de boteco, fritinha e bem sequinha, com uma pitada de sal. Há aqueles também que gostam dela na vaca atolada, no escondidinho, em bolinhos, em sopas e no bolo de aipim. Sem contar que é a toda poderosa que deu origem ao mais do que querido pão de queijo. Tem mais um tanto de ingredientes que eu poderia mencionar hoje, mas a democrática mandioca é imbatível em sua realeza”, ressalta ao finalizar.