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As loucuras do favorito de Catarina II

As loucuras do favorito de Catarina IIFoto:

O amante que melhor soube explorar as extravagâncias de Catarina II, a Grande (1729-1796), foi Grigori Alexandrovich Potyomkin, conhecido por Potemkin (1739-1791). Suas loucuras divertiam a imperatriz que ampliou as fronteiras da Rússia, submetendo a Polônia, derrotando duas vezes os turcos, anexando a Crimeia e concretizando o sonho russo de acesso ao Mar Negro. Afinal, ele também era megalomaníaco. Catarina II o conheceu no posto de segundo-tenente. Apaixonou-se à primeira vista por aquele rapaz bonito, garboso e dez anos mais jovem. O relacionamento começou em 1774 e durou 17 anos. Terminou quando a imperatriz o trocou por outro amante. As relações com Potemkin, porém, seguiram amigáveis. Enquanto foi o favorito, ele assumiu postos militares, administrativos e políticos cada vez mais altos. Tornou-se marechal-de-campo, político e administrador, enfim, a pessoa mais influente e rica da Rússia, depois da imperatriz. Ajudou o país a anexar territórios e fundou cidades nas estepes desertas da Ucrânia, incorporadas em 1774. Foi tolerante com as minorias étnicas e religiosas. Mandou os oficiais do Exército serem menos rigorosos com os subalternos, até então tratados a ferro e fogo. Dispensado da alcova, convinha-lhe permanecer amigo de Catarina II. Por essa razão, sua influência sobre ela não foi sequer arranhada pelos favoritos posteriores. Uma habilidade de Potemkin era realizar as fantasias da imperatriz, mesmo que parecessem contos de fada. Em 1791, ofereceu-lhe uma festa monumental, com banquete farto e baile animado, para 3 mil convidados. Iluminavam os salões 16 mil velas. O jardim tinha grama artificial e um vasto pomar, com frutas de cristal ou cera mesclada a ouro em pó. Muitos galhos amparavam gaiolas em forma de ninhos, repletos de passarinhos cantores, e aquários com peixes dourados raros. Havia também no jardim uma fonte que jorrava a mais fina lavanda, um obelisco revestido de pedras preciosas e um templo sustentado por seis colunas onde Potemkin entronizou a estátua de Catarina II. A comilança começou com zakousky, os numerosos antepastos russos. Surgiram carnes defumadas ou marinadas, sobretudo de ganso, peixes idem, ovos, cogumelos, pães, embutidos, verduras, molhos e condimentos, tudo salgado ou agridoce, além de vodca gelada, vinho e chá. Destacou-se a excelência dos blinis, a panqueca russa de massa levedada, coberta com caviar, ovas ou lâminas de salmão, quase sempre acompanhada de smitane, o creme de leite azedo. Vieram depois as sopas quentes ou frias, uma das quais denominada borscht, feita com beterraba. Apareceram os grandes assados, os cervos recheados de trufas, veados, tartarugas, lebres, pavões, galos frangos, etc. E dê-lhe baile! Os dois maestros receberam em pagamento 5 mil e 6 mil rublos, respectivamente, uma fortuna para a época. Potemkin era generoso. Na saída, mandou distribuir dinheiro aos presentes, "para não esquecerem Catarina II". Ele também promoveu a viagem triunfal que Catarina II realizou às terras desoladas do sul do país, em 1787. À medida em que a carruagem imperial rodava, surgiam bosques verdejantes, aldeias prósperas e palácios luxuosos. Era tudo falso, como a decoração das peças de teatro. Não passavam de cenários, desmontados imediatamente e recolocados adiante. Muitos historiadores acreditam que Catarina II se deixava enganar, fingindo acreditar na representação. Dizem que, no fundo, a imperatriz, inteligente e letrada, que patrocinou artistas e filósofos, divertia-se com a trapaça. Só a comida e a bebida eram de verdade. Chefs de alta qualificação se encarregavam de surpreender a comitiva com preparações impecáveis. Outra inovação na época foi o serviço à russa, que em 1810 desembarcou em Paris por iniciativa do embaixador Alexander Borisovitch Kurakin. Nas refeições oferecidas por Potemkin a comida saía da cozinha em travessas individuais, que eram exibidas aos presentes e depositadas sobre uma mesinha lateral (guéridon). O garçom montava os pratos e os colocava diante de cada um. A travessa voltava à cozinha quando surgia a outra. Do ponto de vista gastronômico, o serviço à russa oferecia a vantagem dos pratos chegarem à mesa logo depois de elaborados, no ponto certo de cozimento e de aroma. Algumas carnes flambadas na mesinha lateral, ou mesmo crepes, proporcionavam um espetáculo à parte. A pirotecnia e os aromas que os vapores exalavam estimulavam o apetite. Potemkin adorava as formalidades e o povo dizia que conquistou Catarina II por três motivos: primeiro, pela virilidade infalível; a seguir, a imaginação sem limites; por último, a devoção ao requinte. jadiaslopes@gmail.com

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