Olá, amigos do Balcão! Todos bem?
Sempre que chega o dia desta edição, faço o meu disclaimer habitual: coquetelaria não é corrida de Fórmula 1. Escolher os melhores drinques do ano tem um tanto de subjetividade (e a minha anda de parabéns), tem relação com o dia em que visitei determinado bar, tem a ver com o meu humor, tem um recorte dos lugares que consegui visitar (e que não consegui visitar), tem tudo a ver com hospitalidade, com minha memória de peixe...
Então, por mais que eu tente colocar alguma racionalidade e conhecimento (experiência adquirida por gastar esse cotovelos nos balcões da cidade), uma lista será sempre só uma lista. Neste caso, feita com o amor e respeito pelo trabalho dos profissionais da área.
Então, eis aqui uma lista daqueles drinques que me marcaram na temporada 2024 (não estão relacionados por ordem de preferência):
1
Paris, 1850 - Caledônia
(R. Vupabussu, 309 - Pinheiros)
Sem dúvida um dos meus favoritos do ano. Aquele drinque depois do primeiro gole me fez viajar para Paris. O destilado base é o conhaque com infusão de brioches. Além disso, outros destilados franceses se unem na receita: Genepy, Calvados, Dolin Dry (marca francesa de vermute) e espumante. Além disso, o coquetel vem acompanhado de brioches servidos como guarnição. Excelente trabalho de Alisson Oliveira e Maurício Porto
2
Salty Burn - Tan Tan
(R. Fradique Coutinho, 153 - Pinheiros)
O bar brasileiro mais bem colocado entre os 50 melhores do mundo ( 31ª posição ) trouxe um dos grandes abraços etílicos do ano com o Salty Burn. Ele leva tequila, jerez cream, vermute tinto e um xarope de goiaba salgada. Tem muita coisa acontecendo neste trago. Trabalho primoroso de Thiago Bañares e Caio Carvalhaes.
3
Minduim - Exímia
(R. Dr. Mário Ferraz, 507 - Jardim Paulistano)
Casa recém-inaugurada do premiado bartender e consultor Márcio Silva, chega nesta lista com o Minduim. Ele leva cachaça envelhecida em freijó, rum, sake, pasta de amendoim, agave e cítricos (repare quantas voltas no globo terrestre esse coquetel deu). Golaço.
4
Figo Giuseppe - Picco
(R. Lisboa, 294 - Pinheiros)
Neste ano, Lula Mascella e a equipe (formada por Guga, Jorge Edson e Gabriela Reis) trouxeram 16 novas criações para o menu. Tem muita coisa que poderia estar nesta lista, mas aquele que eu sempre tenho vontade de pedir por lá é uma versão de bitter Giusepp, o Figo Giuseppe (com Cynar 70, jerez oloroso, figo, aceto balsâmico e uva). Detalhe, embora pré-batch, ele é finalizando no throwing (que, neste caso, vai interferir na textura do drinque).
5 - Ichigo - Shiro
(R. Padre João Manuel, 712 - Cerqueira César)
O Shiro, bar de coquetéis localizado em cima do Kuro - restaurante dono de uma estrela Michelin - tem um dos ambientes e serviços mais impressionantes da cidade. Danilo Nakamura (o Sucrilhos) e Renan Scussel são os responsáveis pela nova carta e a melhor provocação do ano, uma releitura de sakerinha. Bom, pra quem é da bolha da coquetelaria, sakerinha (e de morango ainda) é um pecado. A pessoa pode até perder sua carteirinha de “connoisseur” se for apanhada degustando uma sakerinha. Imagina, então, em um bar de luxo em cima de um restaurante estrelado? No Ichigo, a dupla inverteu os tradicionais sinais da sakerinha de balada, transformando-a em um coquetel de classe. Ela leva suco clarificado de morango, sake, xarope de limão e uma dose de champagne Perrier Jouët Grand Brut.
6 - Super Hickory - Trinca
(R. Costa Carvalho, 96 - Pinheiros)
O Trinca, do Ale Bussab e Tábata Magarão, é um dos meus bares preferidos da cidade. A carta nova tem muitos coquetéis capazes de despertar memórias emotivas em quem se permite beber com o coração. Neste contexto, o Super Hickory é o meu predileto. Com baixo teor alcoólico, essa versão de um clássico pouco conhecido leva porto tawny, vermute seco, vermute branco do Trinca, vermute tinto, amaro, Peychaud’s, Angostura e fat wash na pamonha. Acreditem, o coquetel vai te levar para uma tarde qualquer de televisão e bolo de fubá (pensa naquela lembrança delícia do bolinho esfarelando pela mão).
7 - Ilha - Atlântico 212
(R. dos Pinheiros, 70 - Pinheiros)
Sou apaixonado por martinis. Entre os melhores martinis da cidade estão os do Atlântico 212. A casa tem uma carta, criada pela ótima Chula Barmaid. que é um verdadeiro paraíso para quem gosta dos drinques mais secos. Entre eles, meu favorito é o quase minimalista ilha - com awamori, tomate e pimenta biquinho.
8 - Piazza - Regô
(R. Rego Freitas, 441 - República)
O Regô, do Luiz Felippe Mascella, nunca decepciona no quesito coquetel com punch e pegada. Da carta nova, vocês precisam experimentar o Piazza - com rye uísque, jerez, amaro, Strega e bitter de laranja. Destaque para o excelente uso do Strega (licor difícil de encontrar em coquetéis nos bares de São Paulo).
9 - Maria Bonita - The Liquor Store
(Alameda Franca, 1151 - 1º andar - Jardins)
Mais um golaço de Caio Carvalhaes e equipe. O Maria Bonita vai com cachaça, brandy de jerez, vermute branco, coco e avelã. De sabor indecifrável antes do primeiro gole, esse é uma das grandes surpresas do ano (maior ainda quando soube que vai apenas 7,5 de cachaça na receita). Tem um quê de oldfashioned. Tem um quê de drink que vai entrar para a lista de melhores do ano.
10 - Old Executioner - Carrasco
(R. Costa Carvalho, 84 - Pinheiros - em cima do Guilhotina)
No Carrasco, Alê D’Agostino me devolveu aos bons tempos do Apothek (saudosos 17 metros de bar da Oscar Freire - comandado pelo Alê). O Old Executioner (com bourbon, Amaro, jerez e um leve toque de café espresso) tem o sabor daquele bar. Drinque para abrir ou encerrar a noite.
11 - Caatinga - SubAstor
(R. Delfina, 163 - Vila Madalena)
Trata-se da sexta geração da série Biomas do Brasil - com um trabalho colaborativo entre Fabio La Pietra, Alex Sepulcro e Ítalo de Paula. Equipe mostra consistência e entrega um trabalho de primeira. O Caatinga (com óleo de babaçu, amaro cola, jerez, amaro rosato e vinagre de amora) é um resumo das intenções do Sub. Baita drinque.
12 - Empreendedor - Santana Bar
(R. Joaquim Antunes, 1026 - Pinheiros)
Gabriel Santana e equipe continuam apresentando um trabalho consistente. Entre os drinques da carta, aquele que entrou para o time dos difíceis de esquecer foi o “Empreendedor”. Ele leva bourbon com infusão de nibs de Cacau, Campari, Aperol, Canela, Calvados, Jerez e Óleo de Coco. Pode pedir sem medo.
13 - Torta do Sevilha - The Door Hidout
R. Fradique Coutinho, 1111 - Vila Madalena)
Sylas Rocha em uma versão mais “cientista” fazendo e acontecendo com um parque de diversões para bartenders ( com centrífuga, cuba ultrassônica, sous-vide, slow juicer, desidratadora, Thermomix e Rotavapor). Lá, experimente o Torta do Sevilha, uma versão de Old Fashioned que mimetiza a torta de banana da lanchonete Sevilha, no bairro do Gonzaga (bourbon com fatwash de manteiga e banana, Angostura, cereja infusionada na groselha, tuille de canela e especiarias). Bom demais.
14 - Prophecy - Lágrima
(R. Maj. Sertório, 95 - República)
O recém-inaugurado Lágrima chegou com tudo. A carta é assinada por Ciro Tupi - com colaborações e criações de Gunter Sarfert e Carlos Franco. Tem muita, mas muita coisa boa, mas o meu destaque é o seco e umami recomendo o seco e umami Prophecy (Awamori, jerez fino, luxardo bianco e solução salina). Tomaria dois neste exato momento (é o segundo drinque desta lista com awamori, curioso).
15 - Tremor - Chou
(R. Mateus Grou, 345 - Pinheiros)
Restaurantes estão brilhando na coquetelaria também. Não podia deixar de incluir o surpreendente Tremor, criação de Chula Barmaid nesta lista. Aqui, ela brinca com a ideia de um encontro feliz entre o mundo do vinho e a coquetelaria. Na preparação, cenouras grelhadas na brasa, maceradas com jerez, mostarda e vinho. Depois, essa mistura passa por um processo de clarificação. O coquetel é servido em uma taça e lembra um vinho laranja. Apenas beba.
16 - Cortiço - Boca de Ouro
(R. Cônego Eugênio Leite, 1121 - Pinheiros)
Alê Prates já mereceria um troféu por conseguir emplacar uma carta nova no Boca de Ouro. Sim, meu bar preferido de SP, demorou uns 10 anos para se render a uma cartinha de autorais. O Boca será sempre a casa do Macunaíma, mas ganha bons parceiros. Não deixe de experimentar o Cortiço - com cachaça, orgeat de castanha de caju com flor de laranjeira, limão Taiti e Angostura. Primo do Macunaíma. Vale muito.
17
Safranito - Guarita
Safranito, criando por Jean Ponce e Alice Guedes (e inspirado no trabalho do chef Oscar Bosch). Talvez o mais gastronômico entre os 7 novos coquetéis da carta do Guarita. Ele leva gim com azeitonas maceradas, jerez fino, gotas de limão siciliano, espuma de açafrão da terra, páprica espanhola e crocante de jamón. Experimente.
PS: O Balcão do Giba volta na segunda semana de janeiro.