É sempre assim: quem visita a cidade de Florença, na Itália, geralmente sai de lá com uma foto em uma “buchette del vino” -- são as janelinhas perdidas no meio de uma parede e que entregam uma taça de vinho quase sem contato com o consumidor. Um costume típico da região da Toscana e que agora desembarca no Brasil, em uma simpática casa no Bixiga.
Ainda que seja um serviço que serve apenas na rua, na pacata Doutor Nestor Esteves Natividade, tudo começou com a cafeteria Café com Arquitetura, do arquiteto e empresário Murilo Grilo -- cafeteria essa que, aliás, “empresta” a parede para a janelinha funcionar.
“A ideia surgiu com uma pesquisa sobre a culinária e cultura italiana para a experiência imersiva intimista e agendada do café com arquitetura que servimos dentro da casinha”, diz Murilo ao Paladar. “Analisando o contexto cultural que estamos inseridos, vi um cenário perfeito para abrir uma aqui. Estamos no bairro do Bixiga, com uma grande concentração de descendentes italianos, uma casa tombada e que foi construída por construtores italianos. Não tinha melhor lugar para se instalar a primeira Buchette del Vino no Brasil”.
Entre o Bixiga e a Itália: como funciona a buchette del vino?
Segundo a história italiana, essas janelinhas foram feitas nas fachadas de casas e palácios já no século XVI, principalmente na região de Florença. Por lá, produtores de vinho passavam copos e taças de vinho diretamente ao consumidor. Era uma forma dos produtores terem maior lucratividade, pois saltavam os intermediários e se livravam de impostos. No caso de Murilo, foi uma forma de unir seu negócio de café com o vinho. “É um fomento à arquitetura e ocupação das ruas do Bixiga e do Centro”, contextualiza Grilo.
No cardápio da Buchette del Vino, eles servem uma taça de vinho tinto, um cabernet sauvignon chileno, a R$ 18. Já em garrafa, são duas as opções de vinhos italianos disponíveis: o primitivo Puglia e o vinho branco Grillo Nadaría, da Sicília. A casa também serve café espresso ou coado, bruschettas, sobremesas de limão e brownie vegano.
Nesse formato, que acontece desde 18 de agosto, já conquistaram uma média de 200 clientes por dia -- sendo que abrem dois dias na semana e com quatro horas de serviço. “Estamos surpresos e felizes com a recepção dos moradores do bairro e do público de turistas, internautas e entusiastas apreciadores de vinho”, diz Murilo. “É um público misto, com muitos moradores do bairro, pessoal da arte, frequentadores dos teatros do bairro, arquitetos, design, jornalistas, blogueiros e amantes do vinho em todas as faixas de idade”.
E pro futuro? Murilo conta que quer abrir o café diariamente no espaço, mantendo também a experiência imersiva e a janelinha do vinho, claro. E ele vai além. “Sou morador do Bixiga e acredito que é importante difundir e solidificar não só o tombamento arquitetônico do local, mas manter os moradores aqui. Só assim a história se manteria preservada e viva efetivamente”, diz. “Se ainda estivermos aqui daqui 10 anos, fomentando a cultura, o turismo e o comércio local, já estarei bem feliz. Tudo isso com vinho é melhor ainda. Evoé”.