O método charmat de elaborar espumantes sempre foi uma espécie de patinho feio. Sem o romantismo do chamado método clássico, no qual a segunda fermentação, dentro da garrafa, resulta em borbulhas pequenas e em ricas notas de fermentação, ele conquistou espaço primeiro pelo seu custo. Feito o investimento inicial nas autoclaves, tanques fechados no qual o vinho-base se transforma em espumante, ele é bem mais barato e prático do que realizar a segunda fermentação nas garrafas todos os anos.
Mais: chamados de autoclave, palavra que remete mais a uma grande indústria do que ao glamour dos vinhos, seus tanques tornam mais prático elaborar um espumante. Mas, em geral, a bebida resulta em borbulhas maiores, nem sempre integradas ao vinho, e suas notas tendem a ser mais frutadas. É um estilo próprio, que faz sucesso aqui no Brasil, e é também o método utilizado para a elaboração dos proseccos.
Mas que também surpreende, como mostra esta degustação às cegas (realizada sem que se soubesse que bebida corresponde a que rótulo). Alguns charmats poderiam passar bem por um método clássico, pelos seus aromas e visual. Sinal de que a complexidade dos charmats está crescendo e que os produtores estão investindo mais na qualidade dos seus vinhos-base (como são chamados o vinho que resultou da primeira fermentação).
Muitos recorrem ao apelidado charmat longo, indicando que a bebida ficou um tempo maior (nem sempre revelado) nos tanques. No charmat, não raro, a bebida está pronta com menos de um mês de autólise, como é chamado este contato da levedura com o vinho. Em Champanhe, as leveduras (ou o que restou dela) devem ficar pelo menos 15 meses em contato com o líquido, o que lhe dá complexidade.
Confira a seguir o resultado da prova. Os 18 espumantes foram provados às cegas por Felipe Campos, professor da escola The Wine School, por Rodrigo Lanari, dono da consultoria Winext; e por Suzana Barelli, colunista de vinhos do Paladar. Os espumantes seguem um ranking de qualidade, em cada uma das categorias.
Os destaques do Brasil
Estreando o novo rótulo, o espumante premium da Chandon é elaborado apenas com chardonnay e pinot noir. De cor dourada e perlage fino, traz complexidade nos aromas, com notas de damascos e frutas secas. Tem textura cremosa e boa persistência, em um estilo que lembra o método clássico da elaboração dos espumantes. Tem 12% de álcool. R$ 212,90, na Chandon.
Apenas a chardonnay dá origem a este espumante de borbulhas maiores e abundantes, resultado de um período de quatro meses de autólise. No aroma, se destaca por uma nota de carambola, mesclada com frutas brancas. No paladar, tem corpo leve, é muito equilibrado e com bom frescor. Tem 12,5% de álcool. R$ 104, na Vinhos e Vinhos.
Elaborado apenas com a riesling itálico e com quatro meses de autólise, apresenta cor amarelo claro, com muitas e pequenas borbulhas. Nos aromas, tem notas de frutas brancas, mescladas com um toque de sálvia e outro de própolis e marmelo. De corpo leve, com boa persistência, em estilo bem seco e fresco. Tem 12,5% de álcool. R$ 65, na Estrelas do Brasil.
Um rosé de respeito, de cor rosada bem clara e borbulhas pequenas, elaborado com 60% de pinot noir e 40% de chardonnay. Nos aromas, traz notas de amêndoas torradas, com um toque mais oxidativo, para quem gosta deste estilo. No paladar, tem notas de leveduras, indicando uma autólise mais longa (na verdade são seis meses). Para quem quer provar um espumante diferente, com personalidade. Tem 12% de álcool. R$ 79,90, na Confraria dos Bacanas.
As novidades
Neste espumante que está chegando ao mercado, 20% do vinho base amadurece por dois meses em barrica de carvalho antes da segunda fermentação. É elaborado apenas com a chardonnay, tem pequenas borbulhas, cor amarelo bem claro, notas cítricas e de frutas brancas mescladas com ervas, tomilho. No paladar, traz textura cremosa, é mais encorpado, com frescor marcado. Tem 12% de álcool.R$ 129,90, na Casa Perini.
Elaborado com riesling itálico, chardonnay e pinot noir, o nature é o lançamento deste final de ano, que completa a linha do Ponto Nero. Quase incolor na taça, com borbulhas maiores e abundante, apresenta aromas de abacaxi, pera, maça branca e um toque floral. Corpo leve, com frescor. Tem 12% de álcool. R$ 79, na Casa Valduga.
Os proseccos
De cor amarelo claro, borbulhas maiores e abundantes, traz notas muito florais e um toque frutado de maças e peras, revelando o estilo prosecco. No paladar, tem corpo leve, com boa textura e um final mais docinho. Tem 11% de álcool. R$ 360, na Freixenet.
Em Valdobbiadene, a Adami elabora este prosecco superiore com 95% de glera e 5% de chardonnay. De cor verdeal, com muita espuma, destaca-se pelas notas de frutas brancas e pelo toque floral. Bem elaborado, com corpo leve e com leve dulçor no final de boca. Tem 11% de álcool. R$ 264, na Mistral.
Blend das uvas glera e pinot noir, este prosecco rosado vem na garrafa mais bonita da degustação (que deve ser reaproveitada). Tem borbulhas pequenas e notas mais delicadas de morangos e framboesas, com leve sensação de doçura no nariz. Leve, é equilibrado no paladar, entre as notas de acidez e o dulçor. Tem 11% de álcool. R$ 139,90, na Freixenet.
Elaborado apenas com a uva glera, passa quatro meses em contato com a levedura. Tem cor amarelo claro e muitas borbulhas. Nos aromas, notas intensas de maça verde mais acida. Corpo leve, fresco. Tem 11% de álcool. R$ 186, na Grand Cru.
Os frutados
As notas frutadas, lembrando pera e maça, e um toque floral são a marca deste espumante argentino, elaborado com as uvas chardonnay e sémillon. Tem borbulhas pequenas, corpo médio, equilibrado e com frescor. Tem 12,2% de álcool. R$ 86,62, na Decanter.
Com borbulhas grandes e abundantes, é elaborado apenas com a chardonnay em Flores da Cunha. De cor amarelo verdeal, seus aromas remetem às frutas brancas e também a um toque vegetal, lembrando ervas e gramas. Tem corpo leve, fresco, mas com pouca persistência. Tem 13% de álcool. R$ 57, na Gazzaro.
Elaborado com chardonnay e pinot noir, tem cor amarelo palha com reflexos dourados. Borbulhas grandes e notas frutadas, lembrando cítricos, maça verde. De corpo leve, é fresca e elegante, com frescor presente. Tem 12% de álcool. R$ 109,90, na Mistral.
As uvas da Campanha Gaúcha tão origem aos espumantes elaborados pelo método charmat da Miolo. Este tem cor amarelo palha, com reflexos dourados, borbulhas presentes e não tão pequenas. No nariz, notas de frutas como abacaxi e maça, e um toque floral. Leve, com pouca persistência, mas bem elaborado no estilo. Tem 12% de álcool. R$ 60,42, na Miolo.
Elaborado apenas com a pinot noir, é um rosé de coloração clara, lembrando casca de cebola, com perlage fina. Seus aromas remetem a notas de frutas maduras, quase doces, lembrando morangos. O rótulo informa que é um charmat longo (ele fica quatro meses em contato com as leveduras). De corpo médio, tem textura um tanto rústica e leve amargor final. Tem 12% de álcool. R$ 59,90, na Vinícola Basso.
Pinot noir (40%), chardonnay (53%) e barbera (17%) dão origem a este espumante de rótulo diferenciado e garrafa numerada. Na prova às cegas, este charmat mostrou borbulhas pequenas e efêmeras, notas frutadas, mas com um açúcar residual, que compromete o seu frescor. Tem 12,5% de álcool. R$ 196, na Épice.
O vinho rosé mais vendido tem também um espumante, elaborado com as uvas baga e shiraz. De cor rosé mais acobreado, com borbulhas grandes. No nariz, tem um estilo de frutas maduras, lembrando framboesas e ameixas, e um toque mais oxidativo. Corpo mais intenso, mantendo no paladar os aromas identificados, e frescor presente. Tem 11,5% de álcool. R$ 99, na Épice.
Pinot noir, com 70%, e cabernet franc, com 30%, dão origem a este espumante de borbulhas grandes, cor rosa-claro. No nariz, traz notas de tutti-fruti, que destoam, com um toque de cereja ácida, que se mantem no paladar. Tem corpo leve e pouquíssima persistência. Tem 12% de álcool. R$ 70, no Vinhos Dom Cândido.