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Bebida

Mulheres elegantes não só bebem como também produzem e entendem de cerveja

Profissionais do setor cervejeiro rebatem comentário de influenciadora sobre beber cerveja; em contrapartida, projeto destaca cervejarias lideradas por mulheres

Luiza Tolosa, sócia-fundadora da cervejaria Dádiva. Foto: Tales Hidequi/DivulgaçãoFoto: Tales Hidequi/Divulgação

“Mulher que bebe cerveja é elegante?” Recentemente, uma influenciadora viralizou nas redes sociais ao responder a essa pergunta - que para muitos, só a pergunta, já pode parecer descabida em pleno 2024. Mas a resposta azeda ainda mais o caldo: “Beber cerveja jamais será elegante. Jamais. Ainda que se trate de uma cerveja cara, jamais será elegante, tanto para o homem quanto para a mulher. Para mulher é ainda pior, você sabe disso…”

Bem, se o autor da pergunta sabe disso ou não, jamais saberemos. O que se sabe é que tem muita mulher (e ainda bem!) que faltou nessa aula de etiqueta e segue sendo elegantérrima com seu copo de cerveja na mão. “Deselegante é ser esnobe, preconceituosa e classista”, rebate a sommelière de cerveja e socióloga Sara Araujo. “A fala dessa senhora é elitista e carregada de desinformação. A cerveja, além de ser uma bebida altamente elegante, é também uma ferramenta de sociabilidade, além de ser muito democrática. Há sempre um estilo para acolher nosso paladar e gosto”, completa.

“Isso não existe. Bebidas populares não são menos e as pessoas que as consomem também não são menos. Mulheres não só podem beber cerveja, como podem estar sentadas numa cadeira de plástico no boteco se assim quiserem”, defende a cervejeira e professora Julia Reis. “Uma mulher que critica outras mulheres é algo que só é bom para os homens”, complementa.

Professor, não! Professora

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O preconceito enfrentado por mulheres em relação à cerveja não se restringe às situações de consumo. Para além da mesa do bar, profissionais do setor cervejeiro sentem na pele a discriminação de gênero.

“É algo estrutural. A gente é questionada o tempo todo. Perdi a conta de quantas vezes entrei em sala para dar aula e um aluno, quando não uma aluna, me perguntou quem seria o professor. Ou até mesmo durante a explicação, quando tinha algum outro professor presente, preferiam tirar dúvidas em paralelo do que perguntar diretamente a mim, que estava comandando a aula”, conta Julia. “O setor precisa prestar mais atenção nisso, é preciso mudar a cultura. Não adianta só parar de mostrar o peito e bunda da mulher nos comerciais de cerveja.”

A cervejeira e sommelière Julia Reis. Foto: Felipe Rau/Estadão

“E olha que estou falando de um lugar de privilégio. Quando levanto a voz para chamar a atenção para essas questões, sou ‘apenas’ tachada de brava ou nervosa. Fico pensando como reagiriam se fosse uma mulher preta falando”, pondera Julia.

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“Trabalhamos em ambiente hostil, que é ainda pior quando se trata de mulheres pretas. Somos poucas e fazemos barulho porque somos insistentes”, lamenta Sara.

Criado por elas, liderado por elas

Nesse cenário, Luiza Tolosa, fundadora da cervejaria Dádiva, decidiu lançar um projeto para destacar cervejarias brasileiras fundadas ou comandadas por mulheres. “Tudo começou com um post no Instagram, que fiz no ano passado, no Dia do Empreendedorismo, indicando cervejarias tocadas por mulheres. Teve tanta repercussão, tanto engajamento, que enxerguei aí uma oportunidade”, conta.

Foi, então, que decidiu recrutar essas e outras cervejarias para fazerem parte de um projeto, que será lançado agora, em um evento no dia 9 de março, aproveitando a maré do Dia Internacional da Mulher, celebrado na véspera.

Luiza Tolosa, sócia-fundadora da cervejaria Dádiva Foto: Dádiva/D

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“Sabemos que, em pleno 2024, o meio cervejeiro ainda é totalmente estigmatizado e visto como masculino, mas nós somos muitas, e temos projetos e produtos incríveis e importantes para o setor. Sem as mulheres do meio cervejeiro essa roda não gira. E o intuito da nossa campanha é a gente se fortalecer, se apoiar e se inspirar ainda mais. Queremos que todos saibam quem somos, onde estamos e onde ainda queremos e vamos chegar”, pontua Luiza.

Batizado de Criado por elas, Liderado por elas, o projeto reúne, por hora, 26 cervejarias de diferentes estados brasileiros. Para o lançamento, cada cervejaria preparou uma cerveja, cujo rótulo foi carimbado com a frase “Eu apoio negócios criados e liderados por mulheres”.

As cervejas têm estilos diferentes - a da Dádiva, por exemplo, é uma West Coast IPA, com 6,8% de álcool, que usa lúpulos da Éden Hops, produtora nacional fundada por Camila Crivellente. Uma cerveja cítrica, com um leve frutado e final seco. “Não definimos um tipo de cerveja, deixamos as receitas a critério das cervejarias para respeitar seus estilos”, explica Luiza.

No evento, que ocorre no Greta Galpão, das 13h às 20h, estarão disponíveis ao menos 15 torneiras de chopes produzidos especialmente para o projeto. “Não teremos todos, porque não vai dar tempo de chegar em São Paulo.” A comida da festa também fica a cargo de mulheres, assim como a trilha sonora. O ingresso custa R$ 40 e dá direito a um copo com o selo do evento - comes e bebes serão cobrados à parte. Compre aqui.

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