O corpo esquenta, a língua adormece. O suor escorre pela testa. A cachaça de jambu é uma bebida que se toma não exatamente pelo gosto, mas pela sensação. Tradicionalmente nortista, o destilado de sabor amazônico caiu na graça dos bares de todo o Brasil. “Se essa cachaça fosse uma festa, seria o carnaval”, resume a chef amapaense Clara Helena.
Conhecida como agrião-do-pará, a erva contém um composto químico chamado espilantol, responsável pelo curioso formigamento na boca. Além de ser utilizado na gastronomia, o jambu é reconhecido como um remédio tradicional entre os indígenas, com propriedades anestésicas, afrodisíacas, antioxidantes e como fonte de Vitamina C.
De modo geral, a infusão é feita com cachaça branca e aproveita todos os elementos da planta: flor, talos e folhas. Para que o sabor e o efeito de dormência se incorpore no líquido, é preciso apurar, no mínimo, cinco dias. A recomendação é que ela seja degustada em pequenos goles, deixando alguns segundos na boca antes de engolir, como um vinho.
Foi durante o Círio de Nazaré de 2011, em Belém do Pará, que o cachacista Leonardo Porto decidiu misturar os ingredientes. “Eu estava comendo um pato no tucupi e tomando uma cachacinha, e pensei em criar algo que transmitisse essa sensação”, explica ele, proprietário da Meu Garoto, primeira cachaçaria no país a lançar uma cachaça de jambu.
Hoje, a Meu Garoto trabalha com outros sabores de frutas amazônicas, com cupuaçu, açaí, bacuri e castanha do Pará, além de cultivar uma plantação de jambu na fábrica da cachaçaria. A marca também tem trabalhado na pesquisa para desenvolver uma cachaça com jambu envelhecida em carvalho, refinando a produção
O Paladar selecionou três driques autorais com cachaça de jambu feitos por bartenders da região Norte do Brasil para você conhecer o destilado.
Pedreira
Premiado como melhor bartender do Amapá 2023 pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o chef Lucas Uchôa se inspirou no quilombo Abacate da Pedreira, em Macapá, para criar uma versão regional do clássico moscow mule.
Ingredientes
- 30 ml de cachaça prata
- 30 ml de cachaça de jambu
- 30 ml xarope de gengibre
- 30 ml de suco de limão taiti
-Espuma de gengibre
Preparo
1 - Em um copo com gelo, coloque a cachaça de jambu, o xarope de gengibre, o suco de limão e a cachaça prata.
2 - Misture com uma colher bailarina.
3 - Finalize com a espuma de gengibre.
Jurandir
Com o desejo de unir o exótico destilado amazônico e um ícone da coquetelaria moderna brasileira, o bartender paraense Yvens Penna recriou o Macunaíma, do bar Boca de Ouro.
Ingredientes:
- 40 ml cachaça de Jambu
- 30 ml xarope de canela
- 20 ml tahiti
- 20 ml Brasilberg
Preparo
1 - Coloque todos os ingredientes em uma coqueteleira com bastante gelo e bata bem.
2 - Coe duplamente para um copo “barriquinha” e sirva sem canudo e sem decoração.
Zagury
Servido na cuia, o coquetel do bartender amapaense João Ícaro faz referência a praça Zagury, lugar histórico e um dos centros da boemia na cidade de Macapá.
Ingredientes:
-35ml de cachaça Branca
- 25ml de cachaça de Jambú
- 50g de polpa Fresca de Taperebá
- 25ml de xarope de Açúcar
- 20ml de suco de Limão Galego
- 3 drops de Tintura de Sal
- 25ml de clara de Ovo Pasteurizada
Preparo:
1 - Em uma coqueteleira, coloque a cachaça de jambu, a cachaça branca, o suco de limão, a polpa de fruta, o xarope de açúcar e a tintura sal.
2 - Bata vigorosamente por 5 segundos.
3 - Complete a coqueteleira com gelo e bata por mais 15 segundos.
4 - Coe duplamente em uma cuia de tacacá e finalize com a chicória e gotas de tucupi preto.