Arreda é o termo mineiro para arrasta, chega pra lá, dá licença... Vale para objetos: “arreda esse trem pra lá” e para pessoas: “arreda um pouco pra lá”. Decifrado o código, peço licença para entrar no restaurante aberto há três meses na parte alta de Tiradentes. Ele fica a poucos minutos do centro histórico da cidade. No mesmo lote em que ficam as casinhas do Doedu Village, que podem ser alugadas para temporadas. O restaurante serve pratos contemporâneos com um pezinho na comida mineira raiz. “Mas não somos um restaurante regional”, esclarece o publicitário Edu Mendes, sócio e idealizador da casa ao lado de seu marido, o empresário Rodrigo Amaral Assunção. “O Arreda é um restaurante de comida contemporânea que valoriza ingredientes pouco utilizados na culinária mineira tradicional, com foco nos insumos do Vale do Jequitinhonha”.
Entenda-se como cozinha contemporânea, aqui, um mix dos mais interessantes. O cardápio do Arreda, que funciona apenas na hora do jantar, contempla desde pasteizinhos de moela e pizzas, que podem ser acompanhadas de vinhos e cervejas artesanais de produtores locais, até pratos bem “mineirins”, como a grande estrela da casa, o Jequi: um frango suculento, de carne rosada e macia por dentro e exterior escurinho, feito a partir de um processo de mais 30 horas de preparo, servido com paçoca de carne, vinagrete de banana da terra e ovo caipira.
A seleção da casa inclui ainda sushi de porco, uma coxinha que merece um parágrafo exclusivo neste texto, baos (pãozinho oriental cozido no vapor) escandalosamente recheados com pernil e sobremesas que dão vontade de repetir antes de provar. Caso do tempurá de sorvete: pão-de-ló enrolado com sorvete de queijo, empanado, frito por imersão e servido com calda de goiabada. E também do apelativo bolo de bananada, inspirado na culinária do norte de Minas. Pega-se o doce de banana e prepara-se uma calda a partir dele. A calda é, então, usada no preparo o bolo servido com caramelo de coco e farofa de mandioca com caju.
Edu Mendes é nascido e criado no Vale do Jequitinhonha. De lá são “importados” ingredientes como o feijão andu, o requeijão moreno e o requeijão de rapa, incluídos no preparo dos pratos do restaurante. O primeiro é um requeijão em barra, feito com o soro do leite, cozido várias horas, até pegar a cor do doce de leite. A cor e a textura, aliás, remetem ao doce. É com essa delícia cremosa que o chef Mateus Guimarães Barros, mestre queijeiro de formação, com 19 anos de atuação na gastronomia, prepara as coxinhas da casa. E neste momento peço um minuto de atenção para preparar o espírito dos apaixonados pelo salgado favorito de milhões: no Arreda, a coxinha que chega sequinha e no tamanho adequado para ser arrematada em dois bocados, é recheada com carne de porco caipira e queijo do tipo catupiry feito a partir do requeijão moreno.
O requeijão de rapa, por sua vez, é o requeijão clarinho feito com a “rapa” do tacho, o que lhe garante um sabor levemente caramelizado. As suculentas pizzas da casa são feitas com esse requeijão e também com muçarela artesanal de búfala do Vale das Vertentes, carne de sereno, queijo coalho e requeijão moreno. Os queijos todos vêm de produtores locais, assim com as verduras, os legumes e os temperos.
A decoração do restaurante é um episódio à parte. Edu Mendes mantém há 12 anos um perfil dedicado ao universo da casa e do faça você mesmo. O ambiente do salão é intimista, com peças de mobiliário garimpadas em antiquários e outras criadas pelo próprio Edu. Um baleiro antigo, recheado com balas de “época”, como Bolete, Sete Belo e a lendária bala Chita, costuma causar furor nos habitués da casa, que podem escolher suas favoritas depois do cafezinho. Uma pequena loja de objetos decorativos completa a experiência antes de pegar o caminho de volta pra casa. No caso dos turistas, claro. Tiradentinos têm a sorte de poder voltar ao Arreda sem ter de pedir licença para o dia-a-dia em outras paragens.
Arreda - Rua Flamboyant, 110, Alto da Torre, Tiradentes, Minas Gerais. Sexta e sábado das 19h às 23h. Intagram: @arredacozinha