Como a comida se conecta com as raízes das pessoas? Suas histórias, memórias, heranças culturais, relacionamentos familiares? Como a comida se comunica com as pessoas? São justamente essas questões que o chef e apresentador Antoni Porowski tenta responder em Sabor Caseiro, série que estreia nesta segunda-feira, 24, no Disney+.
Na produção, Antoni viaja pelo mundo com colegas famosos, como Florence Pugh, Awkwafina e James Marsden, para não apenas conversas com essas pessoas e falar sobre passado e memória, mas também para mostrar a comida se conectando com suas histórias.

“O que eu sabia desde o início é que queria viajar. Queria explorar o mundo e criar uma abordagem realmente internacional”, contextualiza Antoni, em entrevista por vídeo concedida ao Paladar. Também queria contar histórias através da comida, o que pode parecer algo genérico, mas foi aí que entrou a conexão com famílias e histórias pessoais”.
Na tela, o resultado é positivo. Em seis episódios, Antoni viaja por lugares como Alemanha, Senegal e Malásia para entender melhor como essas famílias emigraram enquanto também coloca a comida na mesa. Como a emigração, família e comida se conectam, afinal?
A seguir, confira a entrevista completa de Paladar com Antoni, que fala sobre a importância da série atualmente, como foi o processo de filmagem e a importância da comida.
Antoni, de onde veio a ideia para ‘Sabor Caseiro’? Como tudo começou?
Eu tinha um conceito semelhante, envolvendo viagens globais e exploração de diferentes culturas, mas de uma forma um pouco diferente. Tive algumas reuniões e, quando conversei com o National Geographic, percebemos que estávamos na mesma sintonia em relação ao tipo de narrativa que queríamos trazer para o programa. Eles me colocaram em contato com uma produtora incrível, a Studio Ramsay, que ajudou a dar vida às nossas ideias. O que eu sabia desde o início é que queria viajar. Queria explorar o mundo e criar uma abordagem realmente internacional. Também queria contar histórias através da comida, o que pode parecer algo genérico, mas foi aí que entrou a conexão com famílias e histórias pessoais. Como filho de imigrantes poloneses, experimentei muitos pratos poloneses, mas não sabia a história por trás deles. Meus pais, que são pessoas muito instruídas, também não conheciam essas histórias. Isso despertou minha curiosidade: o que acontece quando começamos a investigar a origem dos pratos? Sabor Caseiro não só resgata memórias de infância dos convidados, mas também explora comidas de rua e ingredientes que nos revelam uma riqueza de conhecimentos históricos, culturais e políticos. O que foi mantido? O que se perdeu com o tempo? Acho isso algo incrivelmente bonito e espero que inspire as pessoas a explorarem as próprias histórias por trás dos alimentos que consomem diariamente.
Como foi a experiência de apresentar Sabor Caseiro? Foi muito diferente de Queer Eye e Easy Bake?
Foi transformador. Quando entro em uma cultura que desconheço, geralmente fico mais quieto e observador. Tento absorver ao máximo. Como apresentador, não posso fazer isso o tempo todo, mas aproveitei meus momentos livres para caminhar, explorar mercados e observar os valores locais. Foi incrivelmente inspirador ver como diferentes lugares valorizam a comunidade. Por exemplo, em Dakar, no Senegal, onde existe um porto por onde passaram milhões de escravizados e que sofreu séculos de ocupação francesa, as pessoas tiveram muitas coisas tiradas delas. Ainda assim, um dos principais valores da cultura é compartilhar. Os pescadores são incentivados a vender 50% do que capturam diariamente, reservar 25% para suas famílias e doar os outros 25% para quem precisa. Nos EUA, isso não é algo comum, e foi muito inspirador presenciar essa cultura de partilha. Outro exemplo é Borneo, onde visitei uma comunidade indígena dos Iban. Mesmo com a população diminuindo a cada geração, eles incentivam a transmissão oral de histórias e práticas culturais. Foi uma experiência incrivelmente poderosa.
Como foi o processo de seleção dos convidados do programa?
Foi um processo bem amplo. Os dois principais critérios eram: de onde a pessoa vinha e se havia uma história relevante a ser contada por meio da comida. Cada episódio levou de três a seis meses de pesquisa para reunir informações suficientes. O que eu mais respeito na National Geographic é que, apesar dos convidados famosos, eles não foram escolhidos apenas por sua notoriedade. Se você assistir aos episódios, perceberá o enorme trabalho de pesquisa envolvido. Queríamos trazer algumas outras pessoas, mas não conseguimos dados suficientes. Com a National Geographic, tudo precisa ser baseado em fatos.

Como você enxerga a importância de conectar o passado à comida?
Acho que é essencial. Por exemplo, na Coreia do Sul, aprendemos sobre o kimbap e sua influência japonesa, especialmente durante a ocupação, e o uso de peixes enlatados na época da guerra. Quando analisamos a história dos pratos, percebemos o impacto de ocupações e influências culturais. Com tudo o que está acontecendo no mundo agora, é assustador ver certos comportamentos se repetindo, especialmente nos EUA. Estamos vendo símbolos, discursos e ideologias que remetem a momentos sombrios da história. Precisamos continuar contando essas histórias para evitar que repitamos os mesmos erros. Conhecer nossa história cultural também nos torna mais confiantes e nos permite transmitir esses conhecimentos para as próximas gerações. A comida é muito mais do que apenas um prato. Ela carrega significados profundos.
Você acredita que a comida também é uma forma de comunicação?
Sem dúvida. Na minha família, havia muitas qualidades, mas não éramos bons comunicadores. No entanto, quando nos sentávamos à mesa, podíamos desfrutar juntos de algo preparado com amor e dedicação pela minha mãe. Minhas melhores memórias de infância envolvem viagens com meus pais, experimentando novos sabores juntos, ou momentos em família ao redor da mesa. Em Queer Eye, percebi rapidamente que sou muito sortudo, porque preparo comida junto com as pessoas. Durante esse processo, criamos um espaço seguro para conversas e memórias afetivas.
E podemos esperar mais temporadas de ‘Sabor Caseiro’?
Espero que sim. Quero fazer tantas temporadas que, no final, estarei enrugado como uma uva passa, caminhando pelas ruas de uma cidade na Tailândia.