Um dos fatores essenciais para um bom azeite é colher a azeitona em um clima ameno, mais próximo das baixas temperaturas. Não é frescura: com esse clima “abraçando” o fruto, a oxidação fica mais lenta e, com isso, a qualidade do azeite a ser feito com a azeitona é mais garantida. Quanto mais calor, mais oxidação no produto e menos qualidade.
- Leia também: Entenda por que o azeite de oliva está tão caro
Nesse cenário, há uma preocupação generalizada entre os produtores espanhóis com o futuro. O aquecimento global é uma realidade que pode prejudicar -- e muito -- a colheita.
Preço e temperatura do azeite nas alturas
A produção de azeite premium, na Espanha, acontece entre os meses de outubro e novembro. No outono. É justamente um período de temperaturas mais amenas, evitando a oxidação do azeite. Mas não é isso que está acontecendo. Esse período específico, em 2022, por exemplo, fez muito mais calor do que no período de 2018. Compare:
Repare que o calor se prolongou por mais tempo -- causando também mais chuvas, o que atrapalha a produção de azeitonas. Isso faz com que produtores mudem de estratégia.
“Estamos colhendo a azeitona cada vez mais cedo e terminando a colheita, todos os dias, por volta da hora do almoço”, explica José Dante Gonzales, diretor da marca de azeites premium, Oro Bailén. “Isso evita que a azeitona fique muito tempo exposta ao sol, durante a colheita, e comece o processo de oxidação antes da hora, prejudicando o produto final”.
O problema é quando as temperaturas ficam altas inclusive durante as manhãs. A saída será colher o fruto cada vez mais cedo. De madrugada? Talvez. Afinal, não existem muitas outras saídas para isso. Não dá pra colher em dezembro, por exemplo, já que a azeitona, nesse ponto, já está muito madura, em um ponto não tão ideal para produção de azeite. Teria que mexer em toda produção. “Espero que não tenhamos que chegar nisso”, diz.
O fato é que, durante a última safra, a Espanha perdeu muita azeitona com chuvas fora de época e esse calor constante, de temperaturas altíssimas, é prejudicial para a produção.
Mais biodiversidade, menos aquecimento
Alguns produtores, neste momento, começam a buscar saídas para diminuir o impacto do aquecimento global. É o caso do Almazara San Miguel, de Luis Montabes. A diferença já está no tamanho. A empresa de Luis tem um campo de 620 hectares. Com isso, há mais possibilidade de explorar o espaço: desse total impressionante, 540 hectares são olivares e 80 hectares de campo, que é um pulmão de biodiversidade dentro da plantação.
Assim, o cenário da plantação é bem diferente. Enquanto quase não se vê fauna nas outras plantações, o Almazara San Miguel tem uma quantidade impressionante de pássaros, coelhos, répteis e anfíbios por ali. “São animais para controle de insetos, evitando uso de pesticidas”, explica Luís. O lagar San Miguel faz parte de um projeto maior, chamado Olivar Vivo, que busca colocar esses pulmões de biodiversidade no meio da monocultura.
“Como estamos em Jaén, percebemos que a gente precisava trabalhar nos meios agrícolas. O olivar aqui é uma coisa única. Nossa ideia é que o olivar seja amigável com a biodiversidade”, explica Carlos Ruiz González, responsável do projeto. É um jeito de diminuir naturalmente as temperaturas por ali, enquanto também contribui para um projeto mais sustentável. A sensação é que esse lagar parece ser o futuro não apenas das plantações da Espanha, como também de todo o mundo. É a única saída viável.