Vicky Bennison, uma britânica de 60 anos especialista em desenvolvimento internacional, nunca pretendeu fazer de Pasta Grannies um hit no YouTube, ou transformar em estrelas nonne italianas que não davam a mínima para se tornarem “influenciadoras”.
Ela simplesmente queria criar uma arca de noé culinária para preservar um modo de vida antes que ele desaparecesse. E vivia torcendo que essa sabedoria culinária não morresse “antes de eu capturá-la”.
Desde que iniciou seu projeto, há cinco anos, ela gravou mais de 250 mulheres (e uns poucos homens) fazendo o que faziam no dia a dia massas como pizzocchieri, de Valtelina, na região de Eglio; sagne ritorte com ragù de carne de cavalo, popular na Apúlia; strapponi com cogumelos colhidos em uma floresta da Toscana.
Mais de 70 dessas receitas estão no livro de culinária Pasta Grannies: The Secrets of Italy Best Home Cooks ( Macarrão de nonna: segredos das melhores receitas domésticas da Itália, em tradução livre), que a editora britânica Hardie Grant lança nos Estados Unidos em 29 de outubro.
Com 420 mil assinantes, o canal Pasta Grannies no YouTube não é nada perto de pesos-pesados como o Kabita’s Kitchen, canal de culinária indiana que tem 5,7 milhões de assinantes. A página do Pasta no Instagram também é relativamente modesta, com 181 mil seguidores.
Mesmo assim, para Bennison esses números atestam a atração exercida por uma arte culinária em desaparecimento, feita pela última geração que não teve escolha a não ser fazer pasta com as próprias mãos.
“Não havia casas de massas às quais essas mulheres pudessem recorrer quando eram jovens”, disse ela. “E, quando havia, massa seca era coisa só para quem podia pagar. Fazer pasta em casa era uma questão de sobrevivência.”
Os vídeos mostram estilos de massas e molhos que muitas vezes não são encontrados fora dos limites da cidade de origem. Eles são filmados em cozinhas e quintais usando luz natural. As legendas são apenas descritivas e ninguém mede ingredientes, mas Bennison se esforça para esclarecer as dúvidas narrando instruções.
A equipe de Bennison é pequena: ela e uma cinegrafista, Andrea Savorani Neri. Uma vizinha de Neri, em Faenza, Livia De Giovanni, é quem descobre as nonne que têm receitas para ensinar.
No começo, os vídeos visavam apenas a mostrar a patrocinadores que valia a pena investir no site. Três anos depois, Bennison tinha 5 mil assinantes.
Então os vídeos começaram a aparecer no Facebook e sites de culinária. Em agosto de 2018, o site Business Insider postou um artigo destacando algumas das massas mais raras pesquisadas por Bennison. Entre elas estavam o filindeu da Sardenha (considerado o macarrão mais raro do mundo, pois apenas três mulheres ainda sabem fazê-lo) e uma complicada lorighittas, preparada por Cesaria, uma senhora de 95 anos do vilarejo sardo de Morgongiori.
Com essa receita, o tráfego na web foi tamanho que Bennison a princípio pensou que seu site houvesse sido hackeado. Cesaria estava tendo milhões de acessos. “Ela não tinha ideia de que ficara mundialmente famosa”, disse Bennison. “Quando eu expliquei, ela quase morreu de rir.”
Embora Bennison aprecie o sucesso de que que vem desfrutando, queixa-se de que é cada vez mais uma “escrava dos algoritmos do YouTube”.
Mas ela precisa da plataforma. O YouTube paga um terço dos cerca de US$ 800 que custa para fazer cada vídeo, aí incluído um cachê para cada nonna. Quanto a ela própria, até agora não está recebendo nada.
“Com o adiantamento pago pelo livro e minha aposentadoria, consigo ir vivendo”, diz. “Mas não recomendo a ninguém meu modelo de negócio.”
/ Tradução de Roberto Muniz