O foie gras será mesmo proibido em São Paulo. O prefeito Fernando Haddad sancionou na noite de quinta-feira o projeto lei nº 537/2013, que proíbe a produção e venda do ingrediente na cidade. E os chefs e produtores já começaram a se manifestar contra.
“Achei muito triste, uma sacanagem”, diz Gabriel Matteuzzi, chef do Tête-à-tête. Um de seus pratos de maior sucesso é a terrine de foie gras. De acordo com o chef, metade das entradas vendidas na casa corresponde ao prato.
FOTO: Fernando Sciarra/Estadão
No dia anterior à sanção, ativistas dos direitos dos animais realizaram um protesto em frente à Prefeitura. Eles entregaram a Haddad um abaixo-assinado no qual cerca de 90 mil pessoas pediam a proibição do fígado de pato ou ganso gordo. A justificativa é que o foie gras costuma ser obtido por um processo de alimentação forçada chamado gavage, considerado cruel pelos ativistas.
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Para Matteuzzi, o projeto de lei foi apoiado por falta de informação. “Outras carnes são resultado do processo de engorda. Bois também são confinados e alimentados em excesso antes do abate”, afirma.
Haddad é um fã notório de foie gras e há relatos de chefs que serviram o ingrediente ao prefeito. Quando o projeto de lei foi aprovado pela Câmara Municipal, no fim de maio, a assessoria da Prefeitura tinha afirmado ao Paladar, em off, que a regra provavelmente seria vetada.
Bombom de foie gras do Maní. FOTO: Divulgação
Mas o prefeito sancionou com uma ressalva: em vez de valer imediatamente, a proibição será estabelecida daqui a 45 dias. Durante esse período, os restaurantes poderão servir o foie gras normalmente. Porém, depois do prazo, estabelecimentos que vendam ou produzam o fígado gordo estarão sujeitos à apreensão do produto, além de uma multa de R$ 5 mil. O valor dobra em reincidência.
Só há três produtores brasileiros de foie gras, dois no interior de São Paulo, Chez Pierre, em Itu, Agrivert, em Valinhos, e um em santa catarina, Villa Germânia, em Indaial (SC). A sanção da lei não era esperada para os produtores do interior paulista. Ao contrário, a informação no gabinete do Prefeito, dada em off, era a de que ele não iria sancioná-la.
Pierre Reichart, dono da Chez Pierre, acha que vai ter de fechar o negócio, que mantém há 15 anos. O produtor fez aniversario hoje e irinizou: “Foi o pior presente de aniversário que já recebi”, afirma o francês. A produção não é grande (ele não abre os números), mas 80% é consumida na cidade de São Paulo. De acordo com Reichart, o restante das vendas é feito no interior do Estado, mas não o suficiente para manter uma empresa. A decisão será tomada nos próximos dias: se fechar, o produtor vai demitir 19 funcionários.
Outro produtor paulista, Alexandre Amaral, está se articulando com advogados para fazer algo em relação à nova lei. Mas preferiu não dar declarações até a situação se estabelecer melhor.
No fim de maio, por conta da aprovação da lei na Câmara, a Associação dos Profissionais de Cozinha fez uma petição em defesa do foie gras. Foram coletadas 307 assinaturas de profissionais da indústria, como o chef Julien Mercier. Na ocasião, os produtores e cozinheiros defendem que a crueldade contra as aves pode ser impedida com a regulamentação da produção do foie gras, como ocorre na França.