O jornalista americano Michael Pollan ficou conhecido por suas reportagens e livros que investigam nossa relação com o que comemos. Aos 61 anos, é uma das mais influentes vozes no mundo quando o assunto é comida. Em sua obra, estabelece a conexão entre o que acontece no campo e o que vai no prato, com apuração rigorosa e olhar crítico. Pollan tornou-se também um ativista do que nos EUA é chamado de Food Movement – uma tomada de consciência sobre os hábitos alimentares e sobre as implicações políticas, sociais e ambientais do simples ato de comer.
Pollan é professor de jornalismo na Universidade da Califórnia em Berkeley, onde mora. Nos últimos anos, tem feito incursões no mundo audiovisual: participou do premiado documentário Food Inc., teve seu livro Em Defesa da Comida transformado em documentário e agora participa da produção de Cooked. Por e-mail, de Berlim, onde esteve para lançar o documentário, respondeu às perguntas do Paladar.
Por que têm feito documentários e o que achou de Cooked? Gosto de ver meus livros transformados em filmes porque isso me permite atingir um número maior de pessoas – muita gente não quer ler 400 páginas de um livro, mas assiste uma série de TV sobre ele. Adorei o filme. Alex Gibney e equipe conseguiram capturar o espírito do livro e tornar global uma história americana. Pegaram um livro cheio de informações científicas, história e antropologia e o transformaram num filme rico, que toca a cabeça e o coração.
Por que as pessoas andam assistindo tantos programas de cozinha na TV? Este é um paradoxo interessante: ao mesmo tempo em que cozinhar em casa está em declínio, as pessoas estão ávidas por ver outras pessoas cozinharem na TV. Há milhões de pessoas que gastam mais tempo vendo programas de receitas do que cozinhando. É estranho, por que isso? Ninguém assiste programas de TV sobre troca de óleo de carros. A cozinha foi transformada em esporte de espectador, o que é uma pena porque este é um esporte que é muito mais divertido de praticar do que assistir, sem contar que é mais saboroso.
Em sua opinião, por que há tanta gente fazendo em casa queijos, pães, bacon... cerveja (aliás, você e seu filho fazem cerveja)? Passamos por um esquecimento coletivo nos últimos 50 anos – esquecemos a origem da comida e dos métodos de preparo. Mas, recentemente com os problemas causados por alimentos industrializados, a crise da segurança alimentar, os químicos na comida, as pessoas querem reconectar com a comida e os recursos. E um jeito maravilhoso de conseguir isso é fazer as coisas com as próprias mãos – assar pão, fazer cerveja, caçar. Mesmo que você faça isso apenas uma vez, você irá apreciar profundamente a qualidade e o resultado de um pão bem assado, uma cerveja bem feita, e não vai invejar quem cobra preço justo por seu trabalho.
O chef Dan Barber precursor do From-farm-to-table disse que o movimento deu errado porque as pessoas não querem comprar os diferentes produtos de um fazendeiro, se interessam apenas por alguns. Você concorda? O movimento para construir uma alternativa ao sistema alimentar baseado em comida orgânica e local será sempre limitado a menos que as pessoas comecem a cozinhar mais. Porque quando agente deixa a grande indústria cozinhar em nosso lugar, ela não compra nos mercados de produtores, usa os produtos mais baratos, cultivados industrialmente.
Houve muita mudança desde quando você começou a defender a boa alimentação? Sim. As pessoas estão muito mais interessadas em saber de onde vem o que comem, e mais dispostas a pagar mais por produtos melhores. Os consumidores estão pressionando empresas. A indústria da comida está sofrendo pressão crescente para mudar produtos e atitude. Acredito que haverá reformas significativas nos próximos dez anos – mas sou uma pessoa otimista.