Desde o mês passado, as irmãs Ana Alice Sampaio e Tiz Amaral Dias da Silva, da marca Atelier da Terrine, já estavam trabalhando a todo vapor, para produzir a sua clássica receita de inspiração francesa, que dá nome à marca.
Assim como a terrine, a mousse de foie (à base de fígado de galinha), o pâté de campagne (feito com fígado de galinha e carne de porco) e o rillette de canard (carne de pato cozida lentamente com ervas) são feitos artesanalmente pelas duas, que precisam trabalhar dobrado para dar conta do movimento da Feira Sabor Nacional, evento gastronômico que reúne cerca de 90 produtores artesanais na capital paulista e recebe um público de oito mil pessoas num único fim de semana.
Realizado desde 2016, o evento conta com quatro edições por ano no Museu da Casa Brasileira. A primeira edição de 2020 do evento, que seria no último sábado (14) e domingo (15), estava confirmado até o fim da tarde de sexta (13), quando a Prefeitura de São Paulo cancelou a realização de eventos com mais de 500 pessoas. “Já estávamos com a estrutura montada quando, no fim do dia, recebemos a notícia. Para todos nós, staff, organizadores e produtores, foi um baque”, lamenta José Roberto Giffoni, um dos organizadores do evento.
Embora tenham ficado com o prejuízo, gerado pela locação de mobiliário, tendas e geradores, Giffoni conta que vai transformar o investimento dos produtores em créditos para participarem da próxima edição - ainda sem data para acontecer.
Por outro lado, produtores como Ana e Tiz se viram numa situação delicada, já que ficaram com um estoque excessivo de produtos artesanais perecíveis e sem o seu principal canal de vendas - as feiras e eventos gastronômicos. “O que nos resta agora é anunciar nas redes sociais, reduzir ainda mais a nossa margem de lucro, para conseguir vender o nosso estoque excedente”, lamenta Ana.
Rede do bem
Sensibilizada com o apelo dos produtores nas redes sociais, no último sábado (14), a chef consultora Ligia Karazawa começou a divulgar em seu Instagram (@ligiaka) contatos de vários deles em suas redes sociais. “É uma situação trágica. Muitos desses negócios são pequenos e essas famílias não têm outra fonte de renda que não seja esses eventos”, afirma ela.
Outra feira que foi cancelada foi a Fair&Sale, que reúne pequenos produtores de vários segmentos - entre eles a alimentação - e estava programada para o último domingo (15). “Muitos expositores já tinham feito um estoque para vender na feira e começamos a receber uma série de mensagens de gente tentando escoar a produção pelas redes sociais”, explica Daniella Acor, criadora da evento.
A partir do apelo dos expositores, ela teve a ideia de reunir essas informações em uma plataforma chamada Contagiante.me, em que o público tem a oportunidade de conferir a lista de produtores, descrição dos produtos e os contatos para adquirir os produtos. Desde domingo, Daniella recebeu cerca de 400 inscrições para ter os seus dados divulgados na plataforma, sendo que um terço deles é formado por produtores da área de alimentação.
“No final, são eles que mais sofrem o impacto”, lamenta Daniella.Ligia, por sua vez, pretende continuar divulgando conteúdos sobre esses produtores em suas redes sociais. “Nós temos que seguir com essa rede de apoio”, acredita ela.
Uma das produtoras divulgadas por Ligia foi Karina Jais, que ao lado do marido, Egon, comanda a Jais Hand Made. “Ainda temos que administrar custos com fornecedores, mas é muito emocionante ver a quantidade de gente disposta a ajudar nesse momento tão difícil”, diz ela.
Tão amargo quanto um chocolate com altas porcentagens de cacau, só mesmo o encerramento um dia antes do previsto do Chocolat Festival, edição paulistana do evento com sede em Ilhéus (BA), que reúne toda cadeia produtiva do cacau - desde o fruto até a barra.
Embora os workshops e palestras tivessem entre 70% e 90% de público, os visitantes da feira não chegaram a 20%, quando comparados ao público do ano passado. “Quando anunciamos o cancelamento do último dia, os expositores sentiram um misto de tristeza e alívio. Não tinha clima para continuar”, conta o organizador da feira, Marco Lessa.
Por conta disso, Lessa antecipou o projeto Choc.store, uma loja virtual que ele iria lançar apenas em julho, durante a Chocolat Bahia Festival, em Ilhéus (BA). “A página vai funcionar como um market place, ou seja, um canal de vendas em que as marcas de chocolate poderão vender os seus produtos para o Brasil inteiro”, diz ele.
Luz no fim do túnel
Depois que recebeu a notícia do cancelamento da feira Sabor Nacional, Renato Chvindelman se viu com um estoque de mais de mil cookies produzidos para o evento. “Num primeiro momento, me bateu o desespero, mas depois eu pensei: eu não posso ficar chorando sobre os cookies. Eu tenho que agir”, lembra ele.
Na mesma tarde, Chvindelman resolveu abrir a garagem da sua produção, em Moema, para vender os cookies, e convidou alguns produtores para acompanhá-lo. Como a rua se chama Divino Salvador, a iniciativa foi batizada como Divina Garagem. “Eu consegui vender todo o meu estoque e tive que produzir um pouco mais para dar conta do movimento no domingo (15)”, conta ele.
Quem também teve um final feliz foi Renata Goulart de Souza, do Pão Di Queijo da Mineira. Ela, que teve o seu ponto de vendas no Unibes Cultural fechado e tinha feito um estoque de 700 kg de pão de queijo congelado para a feira, conseguiu escoar a sua produção até a última terça (17). “Toda crise tem os seus dois lados. Além da mobilização, eu agradeço aos motoboys, que ajudam a levar os nossos produtos aos nossos clientes”.
Guia de compras
Para trazer sabor ao isolamento, confira uma seleção de produtores artesanais, que estão com estoque de produtos elaborados para as feiras e oferecem serviço de delivery*
Rusticookies
Os cookies (@rusticookies) são estrelas da marca, comandada por Renato Chvindelman. Entre as sugestões do cardápio, destaque para o cookie com chocolate meio amargo e pistache (R$ 8, o mini com 75g; a R$ 13, o tradicional com 125g) e a versão monster, de 1kg, com recheio de Nutella (R$ R$ 90, 20 cm, 8 pedaços). Encomendas pelo e-mail rusticookies@gmail.com.
Taste Me!
O casal Tomas Sobisch e Juliana Santos (@tastemeproducts) produz pescados e frutos do mar defumados a lenha de árvores frutíferas. O salmão defumado em postas de 100g (R$ 27) e pesto de salmão defumado com rúcula e amêndoas (R$ 32, 200g) são algumas pedidas. Encomendas pelo WhatsApp (11) 98538-3189, e, duas vezes por semana, o casal realiza entregas na região metropolitana.
É Brownie!
Comandada pelo casal Mariana Coelho e Marco Corrêa, a marca (@ebrownieoficial) tem como carro-chefe a receita norte-americana, elaborada com chocolate belga. O brownie tradicional (R$ 9, 60g), com recheio de damasco (R$ 9) e o brownie bits (pote com pedacinhos de brownie, R$ 35, 230 g) são algumas sugestões. Encomendas pelo Instagram ou pelo WhatsApp (11) 96826-1389
Pão Di Queijo da Mineira
Produzidos artesanalmente por Renata Goulart de Souza (@paodiqueijodamineira), a receita tem como base quatro tipos de queijo: Canastra, minas padrão, meia cura e parmesão. Nas versões coquetel (R$ 45, 1kg), lanche (R$ 45, 1kg), palito (R$ 32, 1kg) e chipa (R$ 32, 500G). Encomendas pelo WhatsApp (11) 98268-6069
Jais Hand Made
O casal Karina e Egon Jais (@jaishandmade) produz itens de charcutaria como pancetta (R$ 100, o quilo) e pastrami Black Angus (R$ 130, o quilo), além de picles como o de jalapeño com mel (R$ 30) e chutneys, entre os quais se destaca o de tomate e pimentões assados (R$ 33). Encomendas pelo WhatsApp (11) 98814-9519.
Farinha na Cozinha
A dupla de padeiros Daniela Azevedo e Guilherme Arruda (@farinha.na.cozinha), oferecem uma seleção de pães de fermentação natural. As sugestões ficam por conta do clássico pão de campagne, feito com farinha branca, integral e centeio (R$ 20, o médio; R$ 25, o grande), além do pão de azeitona, amêndoa e alecrim (R$ 25, o médio; R$ 32, o grande). As fornadas diárias podem ser encomendadas pelo WhatsApp (11) 99699-9521 ou adquiridas pela janela da produção deles, que fica na Travessa Dona Paula, 117 - Higienópolis.
Atelier de Terrine
As irmãs Ana Alice Sampaio e Tiz Amaral Dias da Silva (@atelierdeterrine) oferecem uma seleção de clássicos da cozinha francesa, como a terrine de canard (à base de carne de porco, pato e pistache, R$ 245, o quilo), a mousse de foie (à base de fígado de galinha, R$ 40, no pote rosca; R$ 50, no pote hermético), além do pâté de campagne (feito com fígado de galinha e carne de porco, R$ 150 o quilo). Encomendas pelo WhatsApp (11) 99152-7553.
*Consulte a disponibilidade e o frete, que pode variar de acordo com a região