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Comida

Comida típica do Peru: repórter de Paladar relata a experiência de comer porquinho-da-índia assado

Roedor é uma das carnes mais tradicionais de Cusco, servido assado, frito ou em caldo

Cuy ao forno -- este é o porquinho-da-índia assado que encontramos no Peru. Foto: Matheus Mans/EstadãoFoto: Matheus Mans/Estadão

Aquele viajante que anda pelo interior do Peru tem grandes chances de se deparar com restaurantes ou até mesmo carrinhos de rua vendendo cuy — ou, simplesmente, porquinho-da-índia dos Andes. Paladar não apenas encontrou a iguaria, como resolveu prová-la.

Ele é um pouco maior do que aqueles animais domésticos que podemos encontrar no Brasil à venda em pet shops, alcançando até 30 centímetros. Nas ruas, é vendido assado, em um espeto, e fica exposto no sol esperando algum comprador. Nos restaurantes, há mais versões: assado, frito, em caldo e como entrada, como um torresmo.

Em Cusco, Paladar visitou um dos restaurantes mais tradicionais da cidade que serve o porquinho-da-índia : o Mr. Cuy. Fica ali, em uma das principais praças da cidade inca, e tudo leva à temática do roedor, seja na decoração do ambiente ou no logo da casa.

Ao receber o pedido de “cuy al horno” (porquinho-da-índia assado), o garçom deu um sorriso. Elogiou a pedida, que é a mais tradicional do Mr. Cuy. Ou será que seria um sorriso antevendo como seria a experiência?

Porquinho-da-índia assado é uma das iguarias do Peru Foto: Matheus Mans/Estadão

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Qual o sabor do porquinho-da-índia?

Nada nos preparou para o que chegaria na mesa. Antes de entregar o prato da refeição, o garçom colocou na mesa uma demonstração do bicho inteiro, com cabeça e até uma touca andina. É uma graça, para tentar tirar o peso de comer o roedor que é estimado por aí.

Mas isso tira o impacto de ver todas as partes do bichinho. Cabeça, dentes, patas. É uma sensação estranha de curiosidade, de experimentar uma carne que é tão importante para o país (falamos mais abaixo), enquanto também há uma incredulidade — carregada de hipocrisia, é claro, já que não questionamos quando comemos um prato com carne de vaca, frango ou porco.

Adornando o cuy, batatas andinas no forno; uma massinha de batata recheada com carne moída e jalapeño (uma delícia!); bolo de milho; e, fechando, um milho na espiga, típico de lá.

Ao colocar na boca, são duas as sensações: a pele lembra muito a de um leitão assado, com aquele crocante típico; enquanto a carne, rara e com muitos ossos protegendo, lembra a carne de frango. Aquele de padaria.

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O garçom do Mr. Cuy explica que é um prato para comer com as mãos, desfiando a carne com os dentes enquanto quebramos a resistência da pele. É bem difícil de comer, principalmente pela quantidade de ossos por ali, mas o sabor é agradável, principalmente por conta do tempero com manteiga e ervas.

Cuy é uma tradição peruana milenar que deve ser respeitada

O fato é que, independente de gostar ou não, o cuy faz parte da história do Peru e dos povos indígenas andinos. Ele foi domesticado na região andina há mais 3 mil anos e, desde então, se tornou uma carne e um animal importantíssimo para a dieta desses povos.

Afinal, não há muito espaço no Peru para criação de gado. Muito da culinária peruana se baseia em grãos (principalmente milho e quinoa) e tubérculos (batata, principalmente). Alpacas também são criadas como gado, e é um dos pratos mais apreciador por lá, mas o cuy era o possível em outros tempos de espaços mais limitados.

Ao longo da história andina, os povos indígenas — que reverenciam tudo que a Mãe Natureza lhes entrega — reconheceram a importância desse porquinho-da-índia. Ele, que também fazia parte de rituais de sacrifício, foi retratado em quadros e cerâmicas (uma delas dos anos 100 e 700).

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Hoje, até faz parte de restaurantes estrelados do Peru, como o Astrid & Gastón e o Mayta.

É, enfim, um prato que realmente nos tira da zona de conforto. Faz parte de uma cultura diferente da brasileira (ainda que lembre muito o preá, também consumido em partes do Brasil) e pode causar desconforto visual. Mas, no fim das contas, merece ser reverenciado e compreendido como parte de uma cultura milenar — e não como algo apenas exótico.

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