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Cozinhando com crianças: entenda a importância de se divertir na cozinha

A chef Luciana Bonometti passa as suas impressões sobre o assunto e dá algumas dicas para iniciar os pequenos ao mundo da culinária com amor e segurança

Lu Bonometti e seu filho Marco, de 5 anos, que adora cozinhar ao lado da mãe. Foto: Leo Souza/ESTADÃOFoto: Leo Souza/ESTADÃO

A presença de crianças na cozinha oferece um leque de possibilidades para novos tipos de conexões dos pequenos com seus pais, familiares e amigos, bem como para o desenvolvimento de habilidades sociais e motoras e conhecimentos multidisciplinares. Para a chef Luciana Bonometti, que já ministrou a oficina de cookies para crianças do evento Paladar “Cozinha do Brasil”, a curiosidade e o interesse aparentemente inato das crianças às atividades culinárias são fatores que podem favorecer a concretização desses benefícios.

O Dia das Crianças (12 de outubro) apresenta uma oportunidade perfeita para se pensar sobre os possíveis caminhos para introduzir as crianças ao divertido e lúdico mundo da culinária, e a Lu Bonometti compartilhou suas perspectivas e vivências com crianças na cozinha, além de algumas dicas que podem tornar essa experiência ainda mais significativa em suas vidas.

Por que levar as crianças para a cozinha?

 Foto: Tiago Queiroz

Cozinhar é uma habilidade para a vida. Todos nós vamos ter que cozinhar em algum momento, e eu acho que é como aprender um idioma: tudo que começamos a aprender na infância fica mais fácil”, explica a chef. A participação das crianças nas atividades dentro da cozinha tem também forte papel em consolidar as experiências culinárias como algo positivo e divertido desde cedo, oferecendo oportunidade para que já se tenha prática quando precisarem “se virar” perto do fogão na vida adulta.

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Os brinquedos que imitam utensílios e o ambiente da cozinha são bastante comuns entre os aparatos de lazer das crianças e, segundo a chef, indicam que as crianças desde sempre tem disposição para brincar com a culinária, portanto “por que não aproveitar esse interesse natural para ensinar a eles em uma cozinha real?”, indaga Bonometti.

A segurança em casa também é uma questão central para a chef: as crianças em maior contato com os utensílios e eletrodomésticos desse ambiente podem ficar menos propensas a cometer acidentes e conquistar maior confiança para realizar atividades na cozinha. “Quando as pessoas têm piscina em casa, elas se preocupam em colocar a criança na natação, né? É importante saber se portar de maneira em que o ambiente da cozinha não vai oferecer um risco, por ela saber onde pode mexer, o que é perigoso e o que ela pode acessar.”

Quais os possíveis aprendizados?

 Foto: Daniel Teixeira | Estadão

Ao realizar atividades culinárias em casa, as crianças são expostas a uma vasta gama de oportunidades de aprendizagem, que vão desde o social, cognitivo, motor, passam pelo conhecimento culinário e podem ir até lições sobre as propriedades físicas e químicas dos elementos de uma cozinha.

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A apresentação dos ingredientes às crianças, segundo a chef, pode ir muito além das informações sobre seus usos culinários, uma vez que a descoberta de novos insumos e pratos enriquece o vocabulário e o repertório delas com as propriedades físicas e químicas dos alimentos e utensílios.

Bonometti também apontou as experiências sensoriais como parte essencial para o enriquecimento de repertório: “O ato de amassar a massa, ir misturando os ingredientes e fazer ‘meleca’ é super importante para as crianças, e elas adoram essa parte. Esse tipo de experiência também pode ensinar muito sobre organização na hora de lavar as mãos, os pratos e guardar tudo.”

No entanto, a chef alerta para não sobrecarregar as crianças de informações e atividades. “Só não vale virar ‘palestrinha’, né? Não há a necessidade de ensinar várias receitas e conceitos para a criançada de uma vez, tem que ir seguindo as oportunidades que surgem e ir explorando aos poucos.”

Também é uma questão de vínculo

 

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As atividades na cozinha ao lado dos pais também podem ser muito ricas para a construção e consolidação dos vínculos de afeto entre ambas partes. Para Bonometti, a questão é uma ótima oportunidade para se ter uma atividade conjunta. “Eu acho bem importante nos dias de hoje, já que a gente trabalha fora e tem a rotina bem corrida, então quando você está na cozinha com seus filhos, e estar presente lá com seus filhos, é super bacana para um momento de conexão.”

A chef também relata que os vínculos vão muito além da relação com os pais, e passam pela comida em si. Ela dá a dica de ir consultando a criança de forma natural para que ela se sinta parte ativa dos processos culinários. “Qual tempero a gente vai colocar? Vamos pegar aqui a gaveta dos potinhos de tempero com a mamãe? Vamos cheirar os temperos e vamos escolher qual a gente acha que vai ficar gostoso? E deixe a criança escolher e opinar - com essa essa participação dela, a experiência fica bem mais prazerosa.”

Os vínculos começam a ser construídos muito antes da idade em que as crianças podem aproveitar melhor as atividades, que, segundo a chef, se inicia próxima dos 4 anos, e vão aumentando de complexidade em paralelo ao crescimento da criança. “Sou daquelas mães que carregava a criança amarrada no corpo no sling, então o contato com o ambiente da cozinha já se iniciou desde cedo . Com mais ou menos um seis meses eles começam a comer por lá e cada vez mais vão acompanhando as atividades, observando e se acostumando com o espaço.”

Dicas para cozinhar com crianças

 Foto: Tiago Queiroz

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Bonometti também relata que as oportunidades de cozinhar com as crianças não precisam se restringir a datas especiais, devendo ser incluídas no dia a dia. “É legal sempre ir envolvendo a criança de maneira natural nos preparos do dia a dia. ‘Já que está chovendo, e a gente não vai conseguir sair para passear, o que acha da gente fazer um bolinho?’ Mas, claro, é também interessante fazer uma receita para o aniversário de alguém querido, levar biscoitinho para as professoras no Dia do Professor, entre tantos outros exemplos.”

A execução de receitas simples é também chave para uma atividade prazerosa com os pequenos, que costumam estar dispostos a ajudar. Contudo, a chef aponta que é sempre importante respeitar a vontade e o interesse da criança na ação: “Vão ter dias em que as crianças não vão estar dispostas, que vão querer fazer outra coisa, ou ainda dizer simplesmente não, como nós mães sabemos bem como é a fase da negação, então é sempre importante estar preparado para eventuais frustrações.”

Para a melhor adaptação natural da criança no espaço da cozinha, Bonometti recomenda a torre de aprendizagem (ou torre montessoriana), que é uma espécie de banco mais alto com proteções laterais em que a criança pode subir e acompanhar os preparos em uma altura mais confortável. “A partir daí, você pode chamar as crianças para perto da rotina da cozinha. Vá convidando a criança de maneira lúdica, mesmo que no começo rolem alguns entraves. Pouco a pouco eles vão pegando o jeito. Você pode, por exemplo, convidar as crianças para dar um ‘banho’ nos vegetais - elas adoram brincar com água.”

Falando de sua experiência, Lu Bonometti conta que seu filho Marco,de 5 anos, já é uma ajuda ativa na cozinha. “Enquanto eu faço uma sopa, por exemplo, ele vai me ajudando a pegar as coisas na geladeira, a ralar a noz-moscada e experimentar para ver se o tempero está bom. Teve um dia que meu filho optou por ficar brincando com seu Lego, e eu acabei acidentalmente carregando a mão no tempero. Pedi para ele experimentar, para ver se dava para comer, e ele me disse ‘meio forte de tempero, mamãe. Cominho, né?’ - Eu achei o máximo uma criança de 5 anos saber identificar de forma tão madura o tipo de tempero em que a sopa estava mais forte, sem aquela rejeição imediata.”

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