Daniel (Otávio Müller), durante sua adolescência, descobriu que comer bem era uma arte. Um prazer, uma alegria. Ao lado de amigos da época, fundou um clube com um propósito único: se reunir para comer um saboroso picadinho. O tempo passa, o que cozinhava morre e os amigos se afastam. Até que encontram Lucídio (Matheus Nachtergaele), cozinheiro de mão cheia, que faz um jantar especial que é encerrado com a morte repentina de um deles.
Essa é a trama de O Clube dos Anjos, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 3, e que é inspirado em um livro de Luís Fernando Verissimo. O autor, conhecido por suas crônicas, escreveu esse livro na década de 1990 como parte de uma série que falava sobre os sete pecados capitais. O gaúcho ficou com a gula e, como bem sabe fazer, foi para além do óbvio: criou personagens fincados no real para além das piadas sobre gula.
Na telona, o diretor estreante em longas Angelo Defanti conta com um elenco de peso em suas mãos: além de Müller e Nachtergaele, nomes como Angelo Antônio, Augusto Madeira, Marco Ricca e Paulo Miklos. Obviamente, esse elenco todo não é só para falar sobre amigos que se encontram ocasionalmente para comer picadinho. Há, aqui, uma trama de mistério, envolvendo o prato e o cozinheiro misterioso, mas acima de tudo: um olhar social.
Verissimo, em seu livro, investiga a natureza humana nessa mistura de gula, frustrações, mistério e por aí vai. No filme, O Clube dos Anjos vai ainda mais fundo nisso: mistura gula com personagens que simplesmente não se acertam. Em discussões sobre vida, morte e política, refletimos sobre a falência da masculinidade e sobre a forma que a sociedade se abateu sobre esses homens, ligados meramente no prazer mundano (será?) de comer bem.
O Clube dos Anjos é uma adaptação cinematográfica razoável e divertida, com bons momentos -- ainda que a falta de humor, tão bem colocada nas páginas do livro de Verissimo, fiquem de lado sem motivo aparente. Ainda assim, há espaço de sobra para refletirmos sobre como a comida nos une e, acima de tudo, como pode ajudar na reflexão sobre quem somos e como nos ligamos. Afinal, o que um prato de comida diz sobre nós?