Veja só que sorte a nossa: em um espaço de duas semanas, os cinemas brasileiros recebem dois filmes que tiram completamente o verniz em cima da gastronomia, cada um do seu jeitinho. Primeiramente, O Chef, ótimo filme em plano-sequência que mostra os bastidores de uma cozinha. Agora, na realidade brasileira, a comédia Uma Pitada de Sorte.
Estreias nos cinemas desta quinta-feira, 15, o longa-metragem acompanha Pérola (Fabiana Karla), que vive com sua mãe (Jandira Martini) em busca de um sonho. Apesar de trabalhar nas festas que o negócio da família organiza, principalmente se vestindo como personagens e animais, ela sonha em seguir a carreira da gastronomia. Mas as coisas não estão fáceis.
Afinal, ela foi demitida do restaurante em que trabalhava e, agora, parece que a única saída é ser a assistente popular e atrapalhada de um chef famoso e conceituado (Iván Espeche) em um programa de culinária na TV. A partir daí, não só acompanhamos a rotina de Pérola nesse programa culinário, como também na forma que ela persegue o seu sonho e ideais.
‘Uma Pitada de Sorte’, a boa comédia gastronômica
O resultado é mais do que agradável. Ainda que não tenha a pungência de O Chef, que falamos há tão pouco tempo, o filme mostra como o caminho na gastronomia é turbulento -- e o diretor Pedro Antônio (Altas Expectativas, Um Tio Quase Perfeito 2) caminhou bem no retrato desse universo tão complexo e repleto de particularidades. Sem muitos exageros.
Em entrevista ao Estadão, Fabiana Karla contou que se preparou bastante para o papel, em termos gastronômicos. Teve aulas com um chef e assistiu a filmes para se inspirar, como é o caso de Pegando Fogo, longa-metragem com Bradley Cooper. Traz um realismo agradável na hora de mostrar a comida, os preparos, o empratamento e outros detalhes.
A graça também está ali. Bem diferente de Lucicreide vai à Marte, outro longa-metragem protagonizado por Karla, há um foco mais no humor de situação do que de personalidade. Não há caricaturas batidas, por exemplo. Pérola, bem retratada pela atriz, pode ser qualquer outra pessoa com sonhos, desejos e a vontade de ser alguém nessa área.
Por fim, não dá para não falar de Jandira Martini. Espécie de Policarpo Quaresma de nossos tempos, ela ama Machado de Assis, ama o Brasil e a nossa cultura -- sem qualquer tipo de violência, exagero ou ufanismo que passa dos limites. É um resgate da arte. Algo que a gastronomia, protagonista do filme, também pode fazer em certa medida.