Minha Cozinha em Paris, do cozinheiro e confeiteiro americano David Lebovitz, não é um típico livro de receitas. Não traz aquelas fotos deslumbrantes de pratos em tamanho gigante, com escassos textos. As fotos são, de fato, deslumbrantes, atiçam a fome, dão vontade de correr para a cozinha, mostram panelas queimadas, sopa escorrendo, migalhas espalhadas, prateleiras de utensílios ordenadamente atulhadas. Mas o trunfo, na verdade, são as crônicas em que se transformaram os textos de Lebovitz sobre a sua rotina culinária em Paris.
Após passar 13 anos no Chez Panisse, restaurante da premiada chef Alice Waters, na Califórnia, largou a vida em restaurantes em 1999 e decidiu se dedicar a escrever sobre comida (e publica frequentemente em seu site davidlebovitz.com). Mudou-se para Paris em 2004 e, dez anos depois, publicou o título que a Zahar lança hoje no País. O resultado é um livro gostoso de ler, mais do que apenas levar para a boca do fogão.
O resultado é um livro gostoso de ler, mais do que apenas levar para a boca do fogão. Antes de chegar ao rol de receitas (petiscos, entradas, pratos, acompanhamentos, sobremesas), Lebovitz nos conta como viveu por muito tempo num apartamento em que a bancada da cozinha tinha o “tamanho de um tabuleiro de xadrez”; que os franceses ficavam chocados que um americano como ele não fazia a maior parte de suas refeições no McDonald’s; como fez da sua busca por uma pia uma verdadeira saga pela França.
Passeia pelo cotidiano dos franceses e sua relação com os ingredientes, e cita alguns em tópicos para explicar como eles são encontrados por lá e como são usados no livro: bacon, manteiga, ervas, cacau em pó, alho, creme de leite e seus correlatos etc.
Após destrinchar vários ingredientes, passa aos utensílios e só depois inicia os capítulos das receitas. Os saborosos textos continuam, não só nas introduções de cada capítulo como também em determinadas receitas, nas quais ele pega o gancho para contar histórias particulares.
Como quando fala da sua relação com o vendedor de azeitonas, que se tornou amigo e ganhou o apelido de râleur (reclamão), ou de porque toda receita de tapenade deve incluir alcaparras, já que o nome vem de tapeno, “alcaparra” no idioma provençal - isso tudo antes de introduzir a receita de tapenade de alcachofra com azeite de alecrim.
Ou quando conta, na introdução da sua torta de chocolate e doce de leite, sobre como ficou surpreso ao descobrir que em mercados da França se vendia leite condensado em tubos similares aos de pasta de dente - e diz achar que poderia ser uma bela invenção alguém colocar os sabores desta torta de chocolate e doce de leite igualmente num tubo.
Ao seguir a leitura, se você não fizer uma pausa para executar alguma das receitas (bem explicadas e didáticas), corre o risco de terminar de ler o livro numa sentada.
Minha Cozinha em Paris
Autor: David LebovitzEditora: Zahar (352 págs., R$ 89,90)